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Dominique Wolton e a euforia digital

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Um dos lugares-comuns nas teorias e estudos da comunicação contemporânea é a de enfatizar a revolução propagada pela informática e pela internet. O século XXI viu a ascensão e a consolidação das chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) que norteiam um dos principais aspectos do mundo globalizado: a integração.

A rede mundial de computadores se transformou no grande paladino midiático, aquela que resgataria os antigos meios do atraso e democratizaria – a ferro e fogo – a comunicação entre os seres humanos, emancipando-os da manipulação e das disputas de poder. Todo esse ideário se estabeleceu como um consenso, não só na academia, mas também nas ruas, onde as pessoas realmente acreditam que a internet é uma esfera 100% livre.

Dominique Wolton, pesquisador francês do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas, em português), fundador e diretor da revista Hermès, parece ser um dos poucos teóricos a nadar contra a corrente. Solitário, Wolton vem a cada dia ganhando mais prestígio. Seu argumento é de que existe certo deslumbramento em relação à tecnologia que mais atrapalha do que realmente ajuda; e que a TV e o rádio, mídias de massa tão maculadas pelos intelectuais, fazem um exercício de democracia muito mais eficaz, pois possuem uma capacidade de suportar a diversidade cultural, atributo desnecessário na internet, que demanda para segmentos.

Já é comprovado o grande poder político, sociocultural e econômico que a internet possui, entretanto ela ainda é um privilégio de poucos. No Brasil, por exemplo, os dados mais recentes apontam que o acesso à internet só atinge cerca de 40% da população. A estatística muda a cada ano, e a inclusão digital já é uma realidade. Porém existe outro aspecto pouco questionado: a qualidade do acesso e da informação. Wolton também discursa nesse campo, chamando a atenção para o fato de que a liberdade de informação pode acabar redundando em lixo e na manutenção dos antigos dispositivos de controle.

A obra do francês traz boas reflexões sobre a coexistência das mídias – novas e velhas, analógicas e digitais, quentes e frias –  que, operando de forma sistemática e regulada, podem e devem tornar o acesso à informação mais completo e refinado; e o fato, cada dia mais evidente: a comunicação precisa de um olhar mais humano que não se perca na euforia do avanço tecnológico. Apesar de defender as facilidades que as novas ferramentas trazem, Wolton desconstrói a utopia digital e tem coragem para por o pé no freio. Uma pausa para respirar e pensar, algo cada vez mais difícil com tanta velocidade.