A primeira vez que eu vi Amanda nem foi pessoalmente. Aliás, foi a primeira vez que eu vi alguém assim tão pessoalmente, mas sem ser presencialmente – é isso o que eu quis dizer. Eu tinha acabado de parir meu primeiro livro e estava em crise existencial. Era depressão pós-parto mas quem desmamou fui eu. Período de transição. A vida tem dessas estranhezas e, em meio a um tweet mimizento reclamando meu almost-middle-class-girl-tilelê-artist-problem, conheci Amanda. Passamos o dia falando bobagem e de noite já tínhamos compartilhados: um grupo no Whatsapp, dois ingressos pra open bar e 833 histórias de amores que não deram certo.
Eu não sabia que era possível encontrar alguém no mundo que ainda oferecesse um ombro amigo sem ser seu amigo, sem você ter pedido, sem o ombro estar acessível… Mas ela ficou lá, me consolando em 140 caracteres. Parece bobagem, mas a gente que faz arte sofre horrores de baixo-alto-baixo-auto-estima. Sou uma montanha-russa de problemas emocionais que nem são problemas e conhecer pessoas equilibradas-no-desequilíbrio assim, faz com que minha cabeça fique mais saudável.
Fora o meu pai, a Elaine e a minha madrinha Nathaly, fazia muito tempo que eu não conhecia alguém tão aura-clara. Claro, eu sempre tive Andrezza, Saulo, Dyh, Natália, Thieza, May, Matheus, José Neto, Dalberto, Ingrid, Lolô, os amigos do Stand Up, o Coletivo de teatro, as pessoas que a gente descobre na profissão… Mas com Amanda foi instantâneo, tipo macarrão. Acho até que nem chegamos aos 3 minutos.
Migas imediatas de 1º grau.
Não que ela seja a Madre Tereza gótica suave do mundo atual, não é isso, mas Amanda já viveu tanta coisa nesses 20-e-poucos-anos que ela percorre a claridade e a escuridão facilmente (como todos nós) – só que como poucos, ela sabe que estar a mostra é muito mais saudável e bonito. Estar a mostra faz bem pro ego e agradá-lo não é um crime. Depois que Amanda cruzou meu caminho com sua infinita compreensão, eu finalmente entendi que é “ok” não estar “ok” às vezes e que, com certeza, o mundo não se abraça com as pernas. Abraço é com o corpo todo e se não for pra ser com calma e sinceridade, eu não devo nem colocar os pés pra fora de casa.
Ela é sempre assim: um sorriso largo, uma gagueira engraçada, uma visita inesperada à Natal. Amanda desce daquele ônibus vindo de Mossoró e eu já sinto o clima mais leve. Vale sempre a pena segurar o seu cabelo enquanto ela vomita bêbada no banheiro de um bar aleatório que a gente nem sabe o nome, que a gente nem sabe onde é, mas que a gente tá lá – por que amizade é isso, né? (Hipoteticamente, claro. Isso nunca aconteceu) Acaba o confete, acaba os vinténs, a cerveja esquenta, mas tem alguém na retaguarda lhe acompanhando e revezando a posição. Sempre alerta, sempre em frente. Amigo assim não vale só uma croniquinha dessas, mas um milhão.
Amiga: feliz páscoa, feliz aniversário, feliz natal, feliz dia-de-declaração-do-imposto-de-renda, feliz tudo o que eu puder desejar de bom pra você, tá? Todo amigo-irmão, até quando a gente manda tomar no cu, tem cadeira de balanço cativa no coração e um café quente.
Te amo de terça à terça assim mesmo: sem causa, sem motivo aparente.