As redes sociais ficaram fervorosas no RN na manhã desta Quinta-Feira (24 de Outubro). Um professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte fez uma “denuncia” em sua conta do facebook, o que acabou transformando-se em notícia no “Blog do BG”. Acreditamos que é preciso adicionar mais tempero ao ocorrido.
1- Qual a “motivação” da denúncia?
A denúncia é de cunho político. Não trata-se de paladinos da justiça querendo um mundo melhor. Na realidade, não deveria ser “denúncia”, mas uma “delação premiada”. O denunciante, “Professor Bosco”, tomou conhecimento de ruídos de ‘má conduta” em diversas outras situações em relação a concursos e seleções.
Nada denunciou, já que as ocorrências de alguma forma estavam de acordo com seus interesses ou não lhe causava perigos. É preciso deixar isto claro para não criar a versão universitária do deputado Eduardo Cunha. O Departamento de Ciências Sociais da UFRN, durante anos, foi dominado politicamente por docentes ligados a determinadas linhas políticas. A ampliação de vagas abriu oportunidade para que outros professores, com outras linhas políticas, entrassem no departamento. O que iniciou uma série de “desconfortos”.
2 – A luta por poder e a vitória da democracia
Os que chegam agora não podem fazer o mesmo que fazem aqueles que já estão há tempos no poder. Existe um pacto não verbalizado quanto a isso. O professor Bosco aplicou ao professor Gabriel Vitullo um ditado básico: “Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei”. Ao perceber que Vitullo parecia incorrer nas mesmas práticas imortalizadas pelos demais professores, Bosco viu aí uma oportunidade para transformar em tragédia o que é farsa.
Podemos observar que ocorre agora com Vitullo a mesma coisa que ocorre com Dilma e as pedaladas fiscais. Era tradição usar determinados tipos de práticas e Vitullo supostamente estaria repetindo a tradição. Porém, devido um contexto político de instabilidade, tais manobras foram denunciadas, dando então a aparência que está acontecendo algo extraordinário, quando, em teoria, não há nada de extraordinário. Para nossa tristeza ou desespero, a prática de manobras em concursos para Pós-Graduação ou Docentes é corriqueira e cotidiana. Apenas nos últimos anos, depois de muitos alunos acionarem a justiça, as normas e editais começaram a mudar um pouco. Várias pessoas em suas contas pessoais relatam problemas com processos de seleção, ano após ano em todos os estados do Brasil.
Sendo verdade ou não a denúncia, a democracia venceu com toda esta situação, já que um tema importante tornou-se pauta da sociedade civil: os desmandes dentro das universidades brasileiras, locais que alguns professores tratam como se fossem seus currais.
3 – Primeiro a apuração, depois a condenação
Como é típico do povo brasileiro, uma denúncia já é o suficiente para tornar alguém culpado. Vários fatos “suspeitos” foram citados nas redes sociais em relação ao concurso para professor de Ciências Políticas da UFRN. É necessário ver até onde irão as investigações e se, de fato, houve fraude e benefícios como em momentos anteriores. As relações estabelecidas no Blog do BG entre Vitullo e Pablo são típicas de quem não conhece o meio acadêmico e não configuram crime. Qualquer pessoa do meio acadêmico sabe que os nichos de pesquisa são pequenos e limitados. Pessoas que estudam os mesmos temas sempre acabam conhecendo-se e participando dos mesmos congressos. De acordo com a denúncia (que será apurada pelo MPF), o acusado, Gabriel Vitullo, incidiu no erro de repetir a prática feita por aqueles que há tempos estavam no poder: realizar “manobras” para que os aprovados estejam dentro de uma linha teórica de seu agrado. É importante observar que, diferente do que foi dito na denúncia, “Pablo”, o “preferido” de Vitullo, não foi aprovado. O que só reforça a ideia de uma “disputa de poder” que levou a uma espécie de “delação premiada”.
4 – O oportunismo da imprensa local
Para além disto, algo continua muito sério: o oportunismo político da mídia. Como os envolvidos pertencem a chamada “esquerda”, veículos da cidade tentam insinuar que “isso é coisa de comunista, esquerdista”, porém, quando observamos bem a prática está disseminada por todos os cursos e em todas as universidades federais, independente da linha política/teórica que seguem os supostos envolvidos em esquemas de fraudes.