O bom e velho improviso – por estas bandas, também conhecido popularmente como gambiarra – já salvou muitos empregos, reputações e, para não perder o gancho melodramático, até vidas. No contexto profissional, então, ele é como um extintor de incêndio ou aquela porra daquele bagulho de quebrar vidro que nunca ninguém testemunhou em ação.
Porém, pra toda solução existe uma contraindicação. Nesse caso, me refiro à utilização do improviso não como um artifício de emergência, mas como modus operandi. E é isso que tenho visto acontecer, não apenas no meu contexto profissional, que é o mercado publicitário, mas de uma maneira assustadoramente ampla que infecta desde o preparo de refeições gourmet – que de gourmet não tem nem a pronúncia com boquinha de fazer felação em cactos – até os pomposos consultórios especializados em diagnosticar virose.
Não sei se isso é culpa dos empregadores, com sua falta de critério generalizada nas contratações de profissionais que deveriam ser especializados ou se pode ser contabilizado na comanda dessa nova onda de proatividade aleatória, patologia que faz com que as pessoas se prontifiquem a realizar atividades para as quais jamais foram instruídas ou treinadas – como um galão de gasolina que se oferece pra apagar um incêndio.
O fato é que, aqui em Natal, – digo “em Natal” porque é a realidade onde estou inserido e, portanto, a única sobre a qual posso opinar com autoridade – muitos dos serviços supostamente especializados a que recorro me dão a impressão de que estão sendo realizados de forma completamente improvisada.
Sem sacanagem, já vi de tudo. Teve atendimento publicitário pedindo Storyboard de jingle, sushiman fazendo cara de cu com cãibra quando perguntei se tinha makimono, médico pedindo radiografia de joelho pra dor de cabeça e até um caso bem curioso no qual uma assistente de laboratório me questionou sobre qual tipo de espermograma eu gostaria de fazer – como se eu soubesse porra alguma sobre porra – quase me obrigando a responder que não tinha preferência, pois não pretendia beber o conteúdo e sim manda-lo pra análise – ainda bem que não falei isso, pois correria o risco de deixar a pobre moça imaginando um espermatozoide deitado em um divã.
Enfim, depender de um serviço profissional tem sido como percorrer uma Via Crúcis pavimentada pelo prefeito Carlos Eduardo. Daqui a pouco a moda do “do it yourself” chega por aqui, por necessidade. O lado bom é que pelo menos esses perrengues rendem textões inúteis. Oba!
Artigo publicado originalmente no blog “kinemku“.