Escrito por Érico Tadeu em 02 de julho de 2012
Existe algo dentro de nós que nos leva a agir de uma forma que parece pouco inteligente e que prejudica a nossa vida. Esse algo é uma força interior que, genericamente, chamamos de “autossabotagem”. Determinadas coisas que poderíamos fazer para melhorar nossas vidas (a maioria bem simples), muitas vezes, adiamos indefinidamente: se alimentar melhor, dormir um pouco mais cedo, praticar meia hora de exercício por dia, beber água ao invés de refrigerante quando se tem sede, para citar as mais corriqueiras.
Não agir da forma que sabemos racionalmente ser a melhor é bastante estranho. Precisamos ser relembrados, por nós mesmos ou por livros, professores e orientadores, de fazer as coisas mais simples e mais óbvias. Pagamos muitas vezes para ouvir o que já sabemos que temos que fazer e ficamos satisfeitos por ter alguém que preste esse serviço. O interessante é observar as coisas que fazemos e deixamos de fazer para nos sabotar. A mente, sob a influência das forças inconscientes sabotadoras, encontra razões para justificar ou dar desculpas para não realizarmos as coisas mais simples que nos seriam benéficas. Quando algo é bom, mas é pago, não fazemos porque é caro e aí pensamos “ah se fosse mais barato ou então de graça”. Mas aí, quando é gratuito, não fazemos por que não temos tempo, paciência ou porque dá muito trabalho.
Outra vez um paciente agendou uma sessão de atendimento comigo. Queria tratar uma questão ligada a autossabotagem. Sabotou-se e faltou a sessão marcada.
Essa força interior sabotadora pode parecer que surgiu simplesmente do nada. Entretanto, na verdade, ela é um somatório de sentimentos negativos acumulados durante a nossa vida: medos, ressentimentos, traumas, mágoas, frustrações, medo de sofrer o que já sofremos no passado etc. Essa energia se acumula e gera pensamentos negativos com relação ao futuro e nos deixa inseguros no dia a dia. A auto-sabotagem é um sintoma. Indica que temos uma série de fatores emocionais em conflito.
Esses sentimentos são gerados basicamente de 4 formas: Experiências negativas que passamos (nos deixam emoções mal resolvidas não dissolvidas); coisas que ouvimos da família, religião, escola, jornal e sociedade em geral (medos e crenças que são ensinadas pelas palavras, de geração em geração); experiências negativas que observamos de terceiros que acabam nos marcando emocionalmente em algum nível (nos deixam medo, raiva, tristeza, frustração); e comportamentos negativos que observamos em terceiros e que também, em algum nível, nos passam sentimentos e nos marcam (aprendemos pelos exemplos).
Observe que todas as quatro maneiras citadas são mecanismos que nos deixam impregnados de emoções negativas. Por exemplo, se formos traídos por alguém (experiência negativa que passamos), guardamos mágoas e ressentimentos. Quando ouvimos crenças e palavras negativas dos nossos pais e da sociedade em geral, começamos também a sentir aquelas emoções de medo, raiva, frustração e por aí vai. Quando vemos alguém passando por situações difíceis (um amigo declarando falência em seu negócio ou uma relação cheia de briga entre os pais) absorvermos também emoções de tristeza e outras. Ao observarmos comportamentos negativos, aprendemos a nos sentir e agir daquela forma.
A autossabotagem cresce na medida em que essas emoções vão se acumulando. Em um nível mais baixo de acúmulo, o reflexo em nossas ações e pensamentos será sutil e pouco prejudicial. Nos níveis mais altos, essa força cresce de forma a causar preguiça, procrastinação, pessimismo, depressão. Inconscientemente, agimos negativamente prejudicando nossos relacionamentos, vida profissional e saúde física.
Certa vez atendi uma moça que não conseguia manter relacionamentos por muito tempo. Sentia tanto ciúmes e insegurança que ela mesma resolvia acabar o relacionamento. Depois ficava frustrada, mas ainda assim repetia o mesmo comportamento no relacionamento seguinte. Para ela, utilizamos o processo terapêutico com coaching para trabalhar e dissolver esse sentimento de abandono que ela guardava da infância. O pai havia abandonado a família quando ela era muito pequena e isso gerou uma grande insegurança. Após resolver essa questão emocional, seu comportamento mudou profundamente no relacionamento seguinte e todo o ciúme e insegurança foram embora.
Antes ela não conseguia entender a razão daquele comportamento tão sabotador. Agir daquela maneira parecia uma coisa irracional, sem a mínima lógica. No entanto, na verdade, havia todo um fundamento emocional inconsciente. Ela não sabia que tinha aqueles sentimentos guardados naquela intensidade, nem tinha noção de que aquilo era o gerador de tantos comportamentos negativos.
Em outra oportunidade atendi um homem com um padrão de comportamento que o levava a autos e baixos constantes nos negócios. Ele dizia que, quando tudo começava a ir muito bem, surgia um sentimento de acomodação e preguiça. Isso o levava a perder clientes e tomar atitudes estranhas que prejudicavam muito seu trabalho. Perdia tudo, ficava endividado e depois recuperava… e repetia o ciclo. Depois que algumas sessões na qual trabalhamos medos, situações da infância, sentimentos de fracasso de experiências anteriores, o comportamento sabotador reduziu até desaparecer.
Sempre há uma causa ou várias que nos levam a agir de forma sabotadora. Nunca é por acaso. Cada ser humano tem a sua “coleção” emocional negativa que é a base que gera a autossabotagem. É preciso investigar para descobrir as causas que levam a autossabotagem e esse processo pode ser resolvido com terapia quântica e coaching.