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Palmatórias ambulantes

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Não é mais possível segurar. É mais forte do que eu, meus amigos. Vem de dentro, arrancando vísceras e remexendo células. Está pronto para explodir! E lá vem ele…

Puta que pariu! Ops!, talvez tenha ofendido as putas. Vou mudar:

Porra! (Esse pode, né?)

– Por enquanto, sim.

Ufa!, que alívio. Agora, sim, posso falar-lhes sobre o assunto, ou os assuntos, que provocaram esse arrebate indecoroso.

É, leitor, as coisas andam pretas, ops!, negras!, ops!

Não dá. Voltemos ao início: as coisas andam difíceis, leitor amigo. Nossos dedinhos e boquinhas têm que andar espertos nesses dias em que burocratas se comprazem em castigar aqueles que falam e escrevem dizeres potencialmente ofensivos. São os Diógenes de Sínope da contemporaneidade, só que ao invés de procurarem por um homem honesto como fazia aquele antigo filósofo grego, andam a procurar pêlo em casca de ovo. Em suas mãos não reluz uma lamparina, e sim uma palmatória pronta para abater os que forem encontrados a proferir tais impropérios. Muito cuidado! Eles estão por aí, ocupando cargos públicos e perfis nas redes sociais, envergando discursos moralistas para nos punir por nossas falas arraigadas.

Nem com os dicionários eles aliviam mais. O assunto é velho, de modo que não vou mais adiante. Limito-me a fazer uma conclamação: Ciganos do mundo, uni-vos! Uni-vos ao Ministério Público Federal de Minas Gerais, seu redentor da infâmia, seu parceiro de lexicografia, seu limpador de significados pejorativos, seu censor do Pai dos Burros! É o meu conselho para vocês, pobres almas discriminadas por um calhamaço de palavras.

A mesma conclamação faço para os fumantes de cigarros aromatizados, só que contra os figurões da Anvisa. Sim, este universo de consumidores sentiu toda a fúria dos burocratas-cuti-cuti quando lhes foi tirado o direito de aspirar a fumaça mentolada para dentro dos seus pulmões.

– Ah, meu amigo, mas o cigarro faz mal! Fizeram certo em proibir a venda!

É mesmo? Então será que também vamos proibir a venda de bicicletas? Dizem por aí que andar de bicicleta faz mal, tanto mal que chegam a morrer vários em nossas vias públicas.

– Mas morrem atropelados pelos carros conduzidos por motoristas que não respeitam os ciclistas!

Huuum! Então proibamos a venda de carros. Eles matam milhares de humanos todos os anos, tanto os ativos que estão nos volantes, quanto os passivos que estão nas calçadas, bicicletas e nos outros veículos. O que acha? Afinal, trânsito passivo também mata.

– Mas são os humanos que causam os acidentes!

Então proibamos a venda de humanos!

– Er, er… mas é diferente!

É, eu sei. Tudo é diferente quando não é você o que tem o direito tolhido pela ação de um idiota que acha que pode dizer o que você pode fazer na sua vida, ignorando completamente o fato de que viver, o simples existir, é a coisa mais perigosa e letal de todos os tempos.

Ah, meus caros, socorrer-me-ei em um mestre: Goethe. Falando pela boca do jovem Werther ainda antes de começar os seus famosos sofrimentos, ele disparou o seguinte: “Não sei se espíritos enganadores pairam sobre este lugar, ou se é no meu coração que está a ardente e celeste fantasia que fornece uma atmosfera de paraíso a tudo o que me rodeia”.

Sábio Werther! Adaptarei o pensamento lapidar para nossa realidade dizendo: não sei se burocratas autoritários pairam sobre este lugar, ou se é no meu coração que está a esquizofrênica sensação de que fantasmas malucos nos perseguem que fornece a atmosfera de hospício a tudo o que me rodeia.

Ah, mil vezes a esquizofrenia do que viver em meio a esse oceano de babás loucas que querem conduzir nossas vidas para o paraíso secreto delas.

Antes de encerrar, dou uma dica: peguem seus dicionários e cigarros mentolados e deem o fora deste hospício.

P.S.: Eu não fumo nem nunca fumei qualquer espécie de cigarro.

 

Imagem: Filme “Um Estranho no Ninho” (banco de imagens do Google).