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Perfil do manifestante pró-impeachment em Natal

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(Dados obtidos do protesto de 12 de Abril de 2015)

Esse artigo relatará minhas primeiras impressões sobre o Protesto Pró- Impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff, que ocorreu há pouco em Natal, mas também noutras capitais do país. Fui ao protesto para pesquisar alguns dados quantitativos que me chamaram atenção em levantamentos feitos em São Paulo e Porto Alegre, apontando para o perfil socioeconômico dos manifestantes, a motivação para ir ao ato e algumas outras impressões sobre seus interesses ali. Assim foi que elaborei perguntas similares às que essas pesquisas indagaram, procurando encontrar um paralelo entre esses sujeitos, mesmo de capitais e regiões diferentes. O perfil é bastante similar.

Para chegar ao Midway às 15:00, local e hora da concentração, tive que ir a pé da Igreja Universal, próxima ao Arena das Dunas, pois esse interstício da Salgado Filho já se encontrava todo interditado, com baixíssimo fluxo de carros e um super policiamento, repleto de cordões de praças. Pude andar, pela primeira vez nessa cidade, com meu tablet em mãos sem medo de ser assaltado, dada a excepcional segurança pública especialmente arquitetada ali, pronto para tirar fotos e entrevistar pessoas. Antes de chegar ao local da concentração me chamou atenção a ambulância da SAMU (na foto), já aguardando qualquer eventualidade. Nenhum protesto anterior que eu tenha ido a preocupação estatal com a segurança dos manifestantes chegou a esse ponto.

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Ao chegar no local do encontro marcado, e já tendo feita essa ou aquela entrevista pelo caminho até o Midway, e recebido convite para comprar uma das camisetas quase oficiais do movimento, me deparei com três carros de som, clamando a saída de Dilma, afirmando que a mesma tinha ligação em esquemas de corrupção na Petrobras, defendendo a constitucionalidade da “intervenção militar”, reclamando do preço da gasolina e outras demandas. Faltava pouco, pelo que entendi, pro Sindicado dos Médicos chegar. Então, lutando contra o barulho dos apitos e dos carros de som, pelas bordas, fui entrevistando as pessoas, alguns com problemas de audição, para dificultar a situação e aproximar ainda mais minha boca de seus ouvidos, chamando assim um tanto mais de atenção dos sujeitos ao redor, que pareciam se perguntar qual a natureza das minhas entrevistas…

Procurei entrevistar aproximadamente a mesma quantidade de homens e mulheres, embora eu tenha achado estas um pouco mais resistentes à interpelação, contudo, só na tabulação percebi que entrevistei um número muito superior de homens. Um erro. Tive seis denegações ao pedido de entrevista, e 17 concessões. Mais ou menos um terço das pessoas que pedi não quiseram ser entrevistadas, do total, alguns porque eram, pelo que entendi, contratados. Seguranças particulares. Mas aqueles que me responderam foram quase todos muito solícitos e sorridentes. Fui filmado uma vez por um deles, que perguntou pra quem eu trabalhava, qual curso fazia na UFRN, quem era meu orientador, qual era minha pesquisa, minha intenção e onde o resultado seria publicado. Respondi a todas essas perguntas.

Como eu disse, consegui apenas 17 entrevistas completas (com recusa de responder apenas uma questão, quanto ao salário do entrevistado, que preferiu manter sigilo, as demais pequenas incoerências são frutos de erros na marcação da ficha, mas são igualmente raras). Essa pesquisa dificilmente resultará em dados consideráveis científicos (embora eu ainda não tenha feito os cálculos para tal, devo esperar números oficiais da PM), contudo, será interessante mesmo assim para pensar o perfil desse público em Natal, sobretudo quando comparado com o de São Paulo e Porto Alegre.

Das informações que me pareceram pertinentes questionei dos entrevistados: 1) Sexo, 2) Idade, 3) Escolaridade, 4) Renda domiciliar, 5) Raça/Etnia, 6) Se há desempregados em casa, 7) Em quem votou no segundo turno, 8) Principais motivos para estar protestando (múltipla escolha), 9) Participação ou não de Dilma na corrupção da Petrobras, 10) Se considera melhor a democracia ou a ditadura militar, ou se tanto faz ou se depende do momento, 11) Avaliação do governo e 12) Avaliação do Congresso Nacional.

Vamos aos dados:

Qual a sua idade?”
Faixa Etária

Trata-se de um protesto mais velho. Com mais da metade do total correspondendo a pessoas acima de 41 anos. Sujeitos com idade acima de 51 também foram muito presentes. A participação de jovens foi pequena e reduzida, embora eu tenha tido o cuidado de entrevistá-los, também. Eles eram menos resistentes que os mais velho para conceder respostas.
 
Qual a sua escolaridade?

Escolaridade


 
Podemos notar a significativa presença de pessoas com formação de nível superior. Muitos responderam ter pós-graduação. Foi um protesto onde mais da metade tinha pelo menos uma graduação. Havia presença de jovens graduando e estudando o ensino médio, geralmente filhos dos sujeitos mais velhos ali presentes. Forte participação de famílias inteiras e seus animais de estimação.
 
Qual a sua renda familiar?
 
Renda
 
Aqui resolvi perguntar a renda da família, pois haviam jovens estudantes que não trabalhavam e mulheres que dependiam financeiramente dos maridos. Nenhum entrevistado homem estava desempregado. Parcela significativa da classe média compunha o protesto, com número expressivo de sujeitos da Classe A, B e C. Temos quase a metade dos entrevistados recebendo de 6 a até 20 salários mínimos (Estes últimos marquei em “Acima de 10 Salários”), isso vai de R$ 4.728,00 reais até R$ 15.760,00. Expressão de pessoas que recebem até um ou dois salários foi muito pequena quando comparada às demais.
 
“Qual sua raça/etnia?”
 
Raça
 
“Brancos” constituem quase a metade, seguidos de “Pardos”; “Negros” (Pretos) e “Outros” empatam com 17% cada. Essa tabulação não cruza informações, mas cabe destacar um perfil econômico elevado dos negros entrevistados. Ninguém se declarou indígena. Esse protesto tem como característica ser mais branco quando comparados a outros protestos recentes, tais o Revolta do Busão ou o Fora Micarla.

Há alguém no seu domicílio desempregado?
 
Desemprego
 
Aqui eu procurei destacar que “Desempregados” deveriam ser pessoas que já trabalhavam e agora estavam sem emprego, para não contabilizar sujeitos que nunca trabalharam, como crianças, por exemplo. Não tenho total segurança para afirmar se todos os entrevistados que disseram ter pessoas desempregadas não contaram crianças e jovens na casa, pois só quando eu suspeitei de que isso poderia ocorrer foi que atentei para deixar clara minha intenção com essa pergunta.

“Em quem você votou no segundo turno?”
 
Segundo Turno
 
A maioria votou em Aécio, alguns poucos responderam em branco ou não estavam no domicílio durante as eleições (contabilizaram, assim, em “Outro”). Pelas respostas de alguns entrevistados posso sugerir que a intenção de clamar por impeachment é a esperança da convocatória de novas eleições. Eles deixaram claro isso quando indagados sobre possibilidade de golpe militar, dizendo em maioria serem contra, mas desejando novas eleições por uma via democrática… Há um forte elemento de desejo de “terceiro turno” nesse protesto. O carro de som o tempo todo denunciava que as eleições haviam sido fraudadas.
 
“Qual a principal motivação para você estar presente neste ato?”
 
Motivação
 
“Contra a corrupção” simplesmente atingiu o total de entrevistados. Essa era a única pergunta de múltipla escolha no questionário. “Intervenção militar” foi o mais desequilibrado dos desejos, correspondendo a apenas 5%, 4 entrevistados. Os demais mantêm um nível muito próximo entre si. Devemos atentar para o fato de “Reforma Política” ter atingido também o total das motivações. Caberá pensar num estudo próximo que tipo de projetos estariam inclusos na Reforma Política que esses sujeitos desejam, que pode ser diferente das aspirações dos movimentos de esquerda em relação ao mesmo projeto. A maioria dos manifestantes tinham dito na entrevista serem contra intervenção, mas o carro de som bradava esse desejo e não houve nenhum esboço de represália. Essa disparidade entre o desejo consciente e a conivência com os clamores do carro de som deverão ser estudadas mais adiante.
 
“Dilma e a corrupção na Petrobras”
 
Petrobras
 
As maiores afirmativas eram quanto a Dilma saber das práticas corruptas na Petrobras e não fazer nada para impedir, pois não queria, ou mesmo que havia tido participação direta no caso. Isso pareceu ser uma grande força motriz para a solicitação de impugnação do mantado da presidente. Para quase todos os entrevistados era certo que Dilma também era corrupta, cometeu um crime e por isso merecia deixar a presidência.
 
“Você concorda com a frase:”
 
Democracia
 
Os entrevistados só poderia escolher uma das quatro frases. 16 deles afirmaram apoio incondicional a democracia, mesmo alguns daqueles que pediam intervenção militar… isso é curioso porque pode indicar que no imaginário desses manifestantes a intervenção militar pode se dar num processo democrático… seria preciso uma investigação mais demorada sobre esse imaginário.
 
E em seguida mostro a avaliação do governo e do Congresso em “Ótimo”, “Bom”, “Regular”, “Ruim”, Péssimo:
 
Governo
 
Congresso
 
Em relação aos homens e mulheres, a amostragem estar díspar por causa de um erro meu. Acreditei ter entrevistado um número parecido de homens e mulheres, mas não ocorreu. No entanto, ali não se encontrava nenhuma disparidade significativa entre os diferentes sexos. Haviam tantos homens quanto mulheres, aproximadamente. Nesta pesquisa eu não vou cruzar informações para saber, por exemplo, quantas mulheres, em relação aos homens, apoiam o impeachment, ou a diferença entre o salário de mulheres negras e brancas ali presentes, por isso será quantitativamente impossível denotar características muito distintas entre os sexos dos manifestantes. Mas se o leitor quer minha opinião, não havia significativas diferenças socioeconômicas ou ideológicas-políticas entre homens e mulheres. Segue o dado:
 
Sexo
 
Espero que esta tenha sido uma boa aproximação teórica do perfil daqueles manifestantes, que nos ajudará a compreender os diferentes movimentos sociais no país e a que eles se destinam, pelo que clamam e quais transformações desejam que ocorram. Entender o perfil desses sujeitos é uma curiosidade que parece ser bastante compartilhada e pesquisas científicas pretendendo respondê-la tenderão a enriquecer o debate político brasileiro.