“Investigada na Operação Lava Jato, a empreiteira OAS confirmou que sua participação na Arena das Dunas será colocada à venda”. A transcrição é o do repórter Paulo Nascimento nas páginas do Novo Jornal. A construtora que “topou” erguer a Arena de Natal para a Copa das Copas quer abrir mão da concessão de exploração de uso que possui até 2031 para, segundo nota publicada por eles, “tornar a empresa mais enxuta, mais ágil, mais competitiva, focada em produtividade e custos”.
Mesmo investindo apenas R$ 26,5 dos R$ 423 milhões que custou a obra – o restante foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – e recebendo repasses mensais de R$ 9 milhões por parte da administração estadual, estima-se que as dívidas do grupo sejam superiores aos R$ 8 bilhões.
E pensar que os fatos narrados nas linhas acima poderiam ser evitados, caso o plano inicial da primeira gestão do Prefeito Carlos Eduardo Alves não fosse largado pelo caminho. Àquela época, por volta de 2007, quando Natal recebeu convite para postular ser uma das sub-sedes da Copa do Mundo, a intenção era adaptar o finado estádio João Machado – Machadão – para os padrões Fifa. Teríamos, sem dúvidas, um estádio modelado aos padrões que comportam nossos dois maiores clubes ABC e América, que apresentam médias de público bem abaixo de 10 mil espectadores, e de quebra não teríamos posto o patrimônio público em campo, ao criar o tal fundo garantidor da Copa, empenhando diversos bens públicos como garantias do empréstimo milionário que foi adquirido.
Ou quem sabe se talvez se tivéssemos ouvido os argumentos de Moacyr Gomes, arquiteto do estádio Machadão, quando esse clamava desesperadamente pela não destruição do seu Poema de Concreto Armado. Tive acesso a uma carta escrita – e publicada no livro O Menino do Poema de Concreto – por Moacyr em primeiro de maio de 2011, onde ele defendia a Marcha de Defesa do Machadão e sugeria ao poder público transformar o Complexo em um Centro de Educação e Formação de Atletas.
Moacyr queria “…transformar todo o largo em grande praça pública, construir um Santuário para o santo João Paulo II, ali no mesmo lugar do altar onde ele rezou a missa, aproveitar, com pequena reforma, o estádio e o ginásio para um centro educacional modelo, que oferecesse educação formal e preparação de futuros atletas, preferencialmente meninos pobres e filhos dos trabalhadores”. Seria o sonho de fazer valer o papel e o potencial social que possui o esporte, notadamente o futebol.
Enfim, enquanto esse imbróglio não tem um ponto final, os clubes potiguares, que antes recebiam até patrocínios para jogar na Arena, ficam a ver navios. O América, pior, que não tem outra opção de estádio para mandar seus jogos, vai precisar arcar com as perdas – custo elevados para jogar na Arena – se quiser continuar literalmente “jogando em casa”. Definitivamente está claro que o legado da Copa não foi pensado para o futebol potiguar.