Por Tony Vitorino Júnior
Nas oitavas-de-final da Copa do Mundo do ano passado, o Brasil quase foi eliminado pelo Chile nos pênaltis, mas uma imagem e atitude chamou atenção. Thiago Silva, então capitão da Seleção Brasileira, se isolou dos demais jogadores no momento das cobranças, sentou numa das bolas e chorou desesperado. A partir dali, a crítica passou a questionar a capacidade de Thiago ser o Capitão da Seleção. O Chamaram de chorão, frouxo, moleque e vários outros adjetivos negativos. Dunga, assumindo novamente o comando técnico do time brasileiro, tirou a braçadeira e até a titularidade de Thiago e o jogador mais uma vez, por demonstrar sua insatisfação com aquela situação, foi condenado pela opinião pública.
Thiago Silva foi execrado por demonstrar tão claramente seus sentimentos de homem que tinha uma grande responsabilidade e via a seleção do seu país jogando a Copa do Mundo em casa, com grandes chances de ser eliminada precocemente com apenas 4 jogos. O medo naquela situação era claro, pois Thiago, assim como os outros brasileiros, se preparou muito e até se poupou em seu time para dar o melhor pelo time brasileiro na Copa, realizando um sonho que vinha desde sua infância. Mas memória curta e encontrar culpados parecem ser atitudes inerentes aos brasileiros e ali Thiago, melhor zagueiro do mundo, passou a ser um vilão, fruto de nossa cultura machista e antiquada que homem não pode mostrar seus sentimentos, muito menos chorar. Porém questiono: naquele momento ou em qualquer outro, quem somos nós para julgar alguém? Todos nós temos um jeito de reagir a cada situação, uns choram, outros ficam calados, outros até riem. Mas, uma vez mais, fizemos da exceção na carreira de um jogador à regra.
A vida seguiu e chegamos a esta quarta-feira, 11 de março de 2015, jogo de volta das oitavas-de-final da Champions League 2014-2015 entre o favorito Chelsea em sua casa e jogando pelo 0 a 0 contra o PSG de Thiago Silva, capitão do time francês. O jogo emocionante foi transmitido ao vivo em TV aberta no Brasil e nos mostrou que o fantástico esporte futebol sempre vai contar incríveis histórias.
O zagueiro brasileiro atuava impecavelmente com grande senso de posicionamento e de cobertura, enorme impulsão e muitos desarmes. A grande maioria de forma limpa, sem falta. Mas quando o jogo estava no primeiro tempo da prorrogação, seu jogo perfeito se complicou. Numa disputa pelo alto, Thiago levantou demais o braço e acabou tocando a bola com a mão dentro da área. Pênalti para o Chelsea convertido e que levava os ingleses para a próxima fase. Foi o estopim para mais uma vez mostrarmos nossa memória curta. Imediatamente as mídias sociais explodiram com xingamentos, memes e gozações a Thiago Silva. O erro, coisa inerente ao ser humano, não foi perdoado.
Até que a redenção veio aos oito minutos do segundo tempo da prorrogação. Em cobrança de escanteio, Thiago Silva cabeceou certeiro no ângulo do arqueiro do Chelsea, classificou seu time e foi de vilão a herói do PSG. Na comemoração, Thiago chorou de alegria e alívio, pois tirava um enorme peso das costas e mostrava que ainda é um grande zagueiro, jogador e líder. Sem dúvida, lembrou de tudo que passou não só durante aquele jogo, mas também de sua crucificação na Copa e das batalhas e feitos de sua vida.
Um jogo inesquecível para o cara que realmente é um “monstro” de zagueiro desde os tempos de Fluminense. Que antes jogou na Rússia e muito jovem passou por cima de uma grave pneumonia no rigoroso inverno que quase lhe custou a vida. Foi um jogo que o fez lembrar que ele se consagrou como líder quando foi para o Milan e lá se tornou o primeiro capitão fixo não italiano daquele tão tradicional clube. Lembrou ainda que com poucos meses de PSG, sem falar francês e num time com um astro como Ibrahimovic, também se tornara o capitão e que jogava essa partida com um grande inchaço em seu olho direito e sem máscara, mas lá estava jogando, capitaneando seus companheiros e se tornando um mito para a torcida parisiense.
E você aí, ainda vai duvidar da liderança e hombridade desse cara? Vai questionar as convocações dele para Seleção Brasileira ou até uma eventual reconquista da tarja de capitão? Seja justo, refresque a memória e respeite Thiago Silva, pois não podemos abrir mão dele nesse momento!