As séries de maior sucesso têm conseguido conquistar os gostos mais requintados
Nos últimos anos, o mercado das séries televisivas de enredos inteligentes, imprevisíveis e cativantes cresceu mais que fogo na palha. As séries de maior sucesso têm conseguido conquistar os gostos mais requintados, sem perder de vista os clássicos apelos aos estratos sociais de menor capital cultural. A maioria delas é americana e baseada em livros de sucesso internacional. Hannibal, Game of Thrones e True Detective correm disparadas entre as melhores. Suas próximas temporadas estão sendo acompanhadas por milhares de pessoas.
Hannibal revive a história do canibal pomposo e genial que consquistou o mundo através do talento de Anthony Hopkins. Mads Mikkelsen deu novo fôlego ao monstro, atribuindo-lhe um ar mais enigmático, simpático e até galã. Os demais atores principais são excelentes e as tramas exploram pra valer o lado obscuro, sinistro e estranho da psique humana. Especialistas têm elogiado o rigor forense e psicológico da série, porém, críticos conceituados localizaram incoerências e ambivalências significativas entre os capítulos. A nova temporada promete mais clareza e cenas de ação.
Quiçá menos conhecida no Brasil, True Detective cometeu o erro de cair em alguns lugares comuns (principalmente estéticos) de Hannibal, mas se salva pela qualidade inovadora e envolvente do roteiro: a perseguição a um grupo de serial killers esotéricos se entrelaça com as banalidades, peculiaridades, conflitos e dificuldades cotidianas, demasiado humanas, da dupla de detetives. Mathew McConaughey e Woody Harrelson sustentam ironias, humor negro e debates éticos interessantes, pra filósofo nenhum ficar de fora – aficionados por estoicismo e cinismo com maiores razões! True Detective comove com frequência: pelas tragédias de seus protagonistas e pela luz de felicidade e justiça que brilha lá no fim do túnel da miséria cotidiana. Os contornos da próxima temporada devem aprofundar essa atmosfera.
Game of Thrones, que amadureceu durante uma sequência considerável de temporadas, transformou-se em epidemia cultural. Além de contar com ótimos argumentos e atores, chegou na hora certa: além de O Senhor dos Anéis deixar um buraco oportuno, o sucesso de muitas produções culturais dos últimos anos têm sinalizado que a juventude urbana mundial nunca curtiu tanto fantasia medieval quanto ultimamente. As intrigas políticas, militares e éticas de Game são intrincadas, caóticas e passionais. Maquiavel adoraria assisti-las. A Guerra dos Tronos é ao mesmo tempo “cabeça” e dinâmica. O apelo às minorias sociais e ao pornô light dão consistência à proposta universalista implícita no livro inspirador. O poder dramático dos jogos bélicos é ampliado por doses de heroísmo, honra e duelos realistas. A série deve permanecer no topo.
