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Suicidas

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No filme “O Passageiro, Profissão Repórter” de Antonioni, o ator Jack Nicholson diz para a atriz Maria Schnyder “eu tinha um amigo cego. Falavam para ele que o mundo era muito bonito. Um dia ele curou-se da cegueira. Achou o cotidiano muito feio. Trancou-se no quarto e se matou”. Condenado pela sociedade em geral e particularmente pela maioria das religiões, o suicídio é um direito, um ato de liberdade extrema. Vários escritores, poetas, artistas, optaram por este ritual: Maiakovski, Virginia Woolf, Hemingway, Van Gogh No Brasil a poeta Ana C. César, o escritor Pedro Nava, o multipensador Torquato Neto. Na realidade, sucididar-se é por fim a uma angustiada convivência com um cotidiano banal, idiotizado. Janis Joplin, Jimi Hendrix “se mataram” pelo caminho das drogas. Eram geniais demais para suportar a idiotice da sociedade dita normal. Outro dia eu estava vendo um DVD de um show de Jimi Hendrix e senti todo o seu desespero. Artaud escreveu que Van Gogh foi “suicidado” pela sociedade. Suportar o cotidiano é estar sendo “suicidado” dia a dia. Apertar o gatilho é apenas um detalhe. A maravilhosa Virgínia Woolf, cuja doce fragilidade física sempre me lembrou nossa poeta Auta de Souza, produziu-se toda para cometer suicídio. Por falar em Virginia Woolf dois livros de sua autoria são geniais: “Diários” e “O quarto”. Neste ultimo ela questiona a importância de ter no quarto um espaço de silêncio e fantasmas para escrever. Outro suicida foi o poeta russo Sierguei Iessienin que se matou num hotel em Lenigrado. Para ela, Maiakovski escreveu um dos poemas mais bonitos da sua obra poética, onde diz “nesta vida morrer não é difícil/o difícil é a vida e seu oficio” numa tradução de Haroldo de Campos.

Numa crise de depressão, Maiakovski suicidou-se dia 14 de abril de 1930 com um tiro no ouvido. Outos poetas russos menos conhecidos se mataram em sua homenagem. Tive amigos que se mataram. Como sempre, os suicidas deixam uma indagação no ar, que jamais será respondida ou explicada. Uma amiga bem casada, de vida “normal” numa tarde de verão trancou-se no quarto e puxou o gatilho, surpreendendo a população da pequena cidade onde ela vivia e era conhecida por todos. Mas ninguém conhecia seus espelhos íntimos.