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Caminhoneiros: Quando fazer greve se torna um ato de pelego

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Por José Cleyton N. Lopes

 

cam greO Brasil assiste há pelo menos uma semana focos de manifestações dos caminhoneiros em diferentes estradas. Por que a movimentação política dessa categoria é relevante para o país? Antes de tudo, porque se trata de um segmento da classe trabalhadora central para o capital. Se os caminhoneiros param, a economia doméstica trava. E em pouco tempo conseguem gerar um impacto expressivo na circulação das mercadorias. Basta dizer que no Brasil mais de 50% do transporte de cargas é feito através das rodovias.

Mas, apesar desse grau de importância, é uma categoria precarizada e “desorganizada”. Aliás, o controle patronal é bastante notório sobre a categoria, inclusive sobre os autônomos, que correspondem a maioria dos caminhoneiros. Esse controle dos patrões é utilizado para desestabilizar ou mesmo sabotar o governo, conforme a conjuntura. Aqui vale lembrar a greve dos caminhoneiros chilenos de 1973, que pavimentou o caminho para os golpistas derrubarem o governo democrático de Salvador Allende.

Com isso, não quero dizer que estamos revendo o mesmo estratagema contra a presidenta Dilma. Todavia, a meu ver, essa greve não corresponde aos interesses reais dos caminhoneiros. Explico. Até agora não vi nenhum grevista manifestar, por exemplo, críticas à emenda parlamentar que ampliou a jornada de trabalho da categoria de 8h para 12h (8+4 extras negociadas com o patrão), que foi aprovada há duas semanas na Câmara. Ao invés disso, a pauta deles é a mesma que a grande mídia tem destacado: aumento dos combustíveis. Coincidência, não? Afinal, nunca antes na história deste país houve tanto nervosismo com o suposto descontrole (e corrupção) do governo sobre a distribuição dos combustíveis. Outrora eram baratos demais e oneravam a Petrobrás, agora são muito caros. Em suma, o governo nunca soube controlar os preços. Esse é consenso que opositores do governo, que estão à direita do espectro político, querem que aceitemos.

Sou favorável à redução do valor dos combustíveis, é óbvio, mas estou convencido de que para isso acontecer é preciso “reestatizar” a Petrobrás. Retirá-la das mãos de acionistas ávidos por super lucros. Se achar isso uma utopia, então tente convencer quem tem ações da Petrobrás a pressionar o valor dos combustíveis para baixo. Aí veremos qual ideia é mais utópica.

E quanto aos caminhoneiros, por fim, espero que consigam se organizar para si e rompam com os interesses patronais. Ademais, coloquem na pauta a redução da jornada de trabalho e a ampliação das proteções trabalhistas.