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Operação Sinal Fechado e o esforço por desqualificar as acusações contra Agripino e Ezequiel

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Em defesa dos denunciados por George Olímpio, começou a ação de queimar o delator junto à opinião pública.  Notadamente, os acusados José Agripino e Ezequiel Ferreira.
Dois textos se destacam.
O primeiro da jornalista Thaisa Galvão.  Em seu post, Thaísa critica as duas versões sobre o caso apresentadas por George Olímpio, sem levar em consideração que, em 2012, George era acusado mas não havia feito acordo de colaboração com o Ministério Público – acordo assinado no ano passado. E desconsidera, também, que George tenha apresentado provas, inclusive vídeos em que agentes políticos aparecem recebendo propinas.
O segundo texto é de Bruno Giovanni, atual diretor da TV Assembleia e subordinado a Ezequiel, acusado pelo recebimento de R$ 300 mil de propina para aprovar a lei que autorizava a inspeção veicular em 2009.  Bruno fala que

o Ministério Público afirma que George pagou a suposta propina em duas parcelas, uma no final de dezembro de 2009 e outra em janeiro de 2010. O problema é que o saque para o pagamento no fim do mês de dezembro foi feito ainda no dia 17 de dezembro.Já a parcela supostamente paga em janeiro como está no documento do MP, no valor de R$ 150 mil, teve o saque ocorrido em 31 de março de 2010 como está no extrato entregue pelo próprio George como prova. Então as datas não batem.

Bobagem. Basta ler o depoimento transcrito de George.  Ele deixa claro que não se lembra exatamente das datas e apenas as estima.  Não lembra, inclusive, se o dinheiro saiu da sua conta ou da conta do Instituto dos Cartórios, sugerindo que o MP averigue nos extratos as informações:

Olhe, eu não vou precisar saber se foi da minha conta pessoa física ou da conta do Instituto, mas entrou naquele rol de antecipação de lucros que teria das empresas pra mim, que fazia os registros. Então pode ter sido feito direto, saque direto do Instituto de Registradores, em nome… dinheiro que seria para as empresas, como uma antecipação de lucros das empresas por uma prestação de serviço ou na minha conta pessoa física ou das duas, certo, mas isso a gente tem como, pode identificar isso nos extratos.

E as datas?  George, que destaca a distância no tempo para justificar a incerteza quanto a algumas informações, fala achar que os pagamentos a Ezequiel foram feitas em duas parcelas em dezembro e janeiro:

George Olímpio: Dezembro e janeiro. Dezembro de 2009 e janeiro de 2010. A grande dificuldade, talvez, que nós tenhamos é porque ao mesmo tempo em que se pagava essa, tinha aquela propina mensal pra o registro. Então tem vários saques e como a gente já viu aqui em outros tópicos que nós falamos, girava em torno de R$ 120.000,00, R$ 130.000,00, por mês.
Ministério Público: Por mês dos registros.
George Olímpio: Era. Dos registros
Ministério Público: Então, além de R$ 130.000,00, se você pegar esses dois meses, haverá saques de R$ 300.000,00, embora fracionados ou do Instituto de Registradores ou da sua conta pessoal.
George Olímpio: Isso. 

E qual o fracionamento?  George não tinha certeza se os saques foram em três parcelas de R$ 50 mil ou duas parcelas (de R$ 120 mil ou R$ 130 mil). “Pode ter sido R$ 50.000,00, R$ 100.000,00, dependia da disponibilidade do banco. Então, esse tempo todo, hoje a gente tá em 2014”, diz George.
O MP chegou às datas cruzando os saques e o calendário de votação da assembleia e da licitação:

Corroborando as declarações do colaborador, extratos de- talhados da conta corrente do Instituto de Registradores de Títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas do Estado do Rio Grande do Norte (IRTDPJ) registram duas retiradas expressivas e atípicas por meio de cheques nominais pagos a GEORGE ANDERSON OLÍMPIO, conforme relatado na delação, exatamente no período em que foram pagas as duas parcelas da vantagem indevida solicitada pelo agente público denunciado: dia 17.12.2009, R$120.000,00 (cento e vinte mil reais), data da publicação da Lei no 9.270/2009 (fl. 42); dia 31.03.2010, R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), aproximadamente 30(trinta) dias depois da publicação do edital da Concorrência Pública no 001/2010-DETRAN-RN.

Mas tem mais.  Os registros de telefonemas entre George e Ezequiel fecham o cronograma na denúncia do Ministério Público.  George ligou para Ezequiel nas datas em que os saques foram feitos.  Diz o MP:

Na esteira destas informações, diligências revelaram que o número de telefone utilizado por GEORGE ANDERSON OLÍMPIO à época, (84)88461738, fez contatos com o número do telefone funcional do gabinete do deputado estadual, (84)88724943, exatamente no dia do pagamento da segunda parte da propina, 31/03/2010, assim como dois dias antes, não registrando outros contatos entre os dias 13/03/2010 a 13/04/2010.

A imprecisão das datas não é, pois, suficiente para desqualificar o depoimento e as provas de George, assim como a denúncia contra Ezequiel – que, bom lembrar, como presidente da Assembleia, é chefe de Bruno Giovanni como diretor da TV Assembleia.
Em outro post, Bruno também acusa o depoimento de George de inconsistência, como Thaisa Galvão:

O suposto pagamento está envolto em contradições.  Em acordo de delação premiada, um dos envolvidos, Alcides Barbosa, disse em 2012 que José Agripino recebeu propina. No mesmo ano, o advogado George Olímpio, acusado de ser o operador do esquema, declarou que as acusações feitas por Barbosa eram mentirosas.Olímpio, que agora aparece, no esquema de delação premiada como principal acusador, registrou declarações em cartório e emitiu nota aberta acusando Barbosa de mentir para se beneficiar com o perdão judicial. No documento registrado em cartório e na nota pública, George Olímpio assegura que não houve pagamento de propina a ninguém e nenhum político no RN.


Acordo de delação premiada, pedido perdão judicial, contradições nos depoimentos e acusações, envolvidos e suspeitos trocando acusações. Tudo isso torna o caso da Operação Sinal Fechado bastante nebuloso:

Na verdade, há convergência nos depoimentos dados em colaboração premiada, não apenas por George Olímpio, como também Alcides Barbosa e Marcus Vinicius Furtado.  No que se refere ao milhão de Agripino ainda há o depoimento de Gilmar da Montana quando de sua prisão, ainda em 2011.  No âmbito da delação premiada, é bom lembrar, o que foi dito sem acordo não deve ser levado em consideração.
Antes mesmo de ir ao ar no Fantástico hoje, George Olímpio tornou-se alvo de esforços de desqualificação.
Vale perguntar, então, o que falei ontem – inclusive no que diz respeito à aparente contradição de depoimentos antes e depois do acordo de delação:  delações contra Agripino valem menos que contra o PT?