Era madrugada e ninguém imaginava o que estava por acontecer. Ele agia diferente de tudo que sempre foi. Sua postura era extremamente séria. Compenetrado em todas as minúcias da disputa, estudava cada movimento do oponente. Mas aquele erro não poderia ter ocorrido. Aquele dia deveria ter sido de celebração, mas terminou em dor, aflição, decepção e toda natureza de sentimento ruim que um ser-humano possa experimentar. Ele chorou e chocou milhões de pessoas que torciam por si.
Ele mal sabia que aquela dor não era sequer a metade de outra que viria a sentir nos próximos dias. Pior que a dor da contusão, foi ser repreendido por quem antes o aclamava. Duvidaram dele. O brasileiro mal acostumado a fazer juízo de valor sem afinar as verdades e mentiras dos fatos, tentou desconstruir os contornos de um ídolo desenhado pelas vitórias.
Mas ele conseguiu driblar e se esquivar das suspeitas. Acho que se valeu da experiência que transporta na bagagem. É verdadeiramente um “super atleta”. Não esmoreceu em estação alguma. Nem mesmo sabendo que passaria por dois verões agoniantes pela frente. Ele soube muito bem o que fazer para resguardar-se das desonras e intimidações que foram aparecendo. Esperou a tempestade passar.
Como uma aranha peçonhenta ao se sentir ameaçada, se refugiou em algum recinto seguro, submeteu-se a um tratamento árduo e se armou como nunca para provar ao mundo que ainda seria capaz de ser o que um dia ele foi. Sarou todos os seus ferimentos físicos e dominou seus impulsos cerebrais mais indigestos. Estava retornando à velha forma física e psicológica.
E a sua redenção aproximava-se a cada xis marcado no calendário. No calor do momento, ele nem se deu conta da multidão que o cercava, esperançosos e confiantes no seu retorno. Ele estava cara a cara com quem o golpeou no verão passado e tinha a oportunidade de provar o quão forte e grande ele era. Era a hora de dar a volta por cima.
O palco estava preparado. Não por acaso – porque nenhum vencedor acredita no acaso – ele ganhou uma nova chance, novamente na madrugada de um verão. Ele estava ciente da carga de responsabilidade que tinha. Sabia que o público ansiava aquele cara que detonava os adversários e dava show. E ele mais do que nunca, sabia que não seria assim, afinal 399 dias longe do seu habitat natural não era algo a se desprezar. Mas ele voltou e fez uso de toda a sua técnica para provar que as feridas enfim estavam cicatrizadas. Seu rival era muito perigoso, estava ali para dar espetáculo e não tinha nada a perder. Era um coadjuvante. Mas ele sim, tinha que ter equilíbrio e mostrar que tinha condições de prosseguir.
E em 25 minutos suados, ele mostrou a todos que ainda era o ídolo que o Brasil apreciava. Sua determinação abateu mais de um milhão de pessimistas. Sua coragem não só golpeou as críticas, como deu um verdadeiro nocaute nas falácias que mencionaram em torno do seu nome. Sua capacidade venceu a luta. Suas façanhas no passado não serão riscadas das narrativas do esporte que ele auxiliou a se solidificar como um dos mais populares do planeta. Eu quero acreditar que a culpa não foi sua. Anderson Silva, independentemente de qualquer regra do jogo, você já é um vitorioso da vida.