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Robério Paulino: Fazendo carnaval do carnaval em Natal

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 Robério Paulino, o eterno candidato a alguma coisa: carnaval, prioridades, ar condicionados e demagogia 

Foto Marcio Guerra/Asseroria
Foto Marcio Guerra/Asseroria

“O que não pode é ter para o carnaval, para decoração natalina, e não investir no essencial, como educação”, dispara o professor Robério Paulino,  doutor em políticas públicas.

A questão da democratização da cultura é uma questão política fundamental nas sociedades atuais, principalmente enquanto resistência social e afirmação da identidade de comunidades regionais e locais. Ao investir pesadamente na realização popular do carnaval em Natal, a prefeitura municipal acerta e assume o compromisso público com o acesso popular à cultura.  Portanto, pode e deve haver forte investimento público no carnaval, uma manifestação da cultura popular que deve e merece ser valorizada enquanto tal pelos agentes públicos.

 

Alceu Valença

Além disso, trazer atrações externas como Alceu Valença, Jorge Aragão, Elba Ramalho, Moraes Moreira, Monobloco e Spok Frevo Olinda não é desvalorizar a cultura artística local. Talvez o professor Robério não saiba, mas todos os nomes anunciados são destacadas expressões da cultura popular nordestina e também nacional. Como é sabido, eventos culturais como o carnaval constituem um ponto de encontro intercultural entre artistas potiguares e artistas de outras regiões do país, possibilitam a troca de experiências de aprendizado coletivo. Os próprios artistas e produtores locais de cultura se beneficiam com esses encontros festivos e multiculturais e, também, é claro, a população local, o que é visível no forte reconhecimento público da gestão de Carlos Eduardo na área de cultura.

Mas para ainda ficar pior, bem antes do trecho mencionado acima, afirma o professor completamente “antenado” com o tema da sustentabilidade ambiental atual: “Se dependesse de mim, com esse dinheiro eu colocaria ar condicionado em todas as escolas municipais de uma tacada só, beneficiando alunos e professores; é algo relativamente barato”. Como se a instalação de condicionadores de ar fosse a solução de nossos muitos problemas em educação. Evidente, que tal é parte relevante de qualquer política que assuma seriamente a tarefa de melhorar as condições físicas de trabalho e de aprendizagem de professores e alunos, contudo, tomada de maneira isolada é muito pouco. Antes ou concomitante com os ar condicionados é imprescindível que se invista em cursos de aperfeiçoamento, melhores salários, mais tempo para planejamento e menor carga horária em sala para os professores, etc.. O equívoco, com efeito, não é a proposta em si, mas a mentalidade excludente de políticas, a secundarização do lazer e da cultura popular e, obviamente, a demagogia que inspira o comentário do candidato e professor Robério.

Na contramão de todo um debate atual na esfera pública brasileira em torno da necessidade urgente de inovação na política de uso dos recursos energéticos, o professor defende a difusão de ar condicionados nas escolas públicas da capital potiguar, contribuindo ainda mais para o consumo excessivo de energia. Poderia pelo menos ser mais propositivo e mencionar algum projeto de sustentabilidade como os tetos verdes ou um maior cultivo e plantação de árvores, canteiros e jardins. De um professor “doutor” em políticas públicas, penso,  espera-se bem mais com respeito a políticas culturais e políticas ambientais do que ele tem proposto.

De fato, o que o eterno candidato a alguma coisa não parece entender é que investimento público em cultura popular é, também, uma forma de educação da sociedade como um todo. Educação, caro professor, não se restringe a educação formal e ao espaço escolar.  Nesse sentido, a meu ver, também erra o governador Robinson Faria ao recuar de investimentos nas festas populares, apesar das dificuldades financeiras e a necessidade de investimentos urgentes em outras áreas; fomentar a alegria, o lazer e a diversão não são coisas supérfluas mas renovam laços de solidariedade, comunhão social, os sentimentos de se fazer parte de um corpo social popular, aliviando as pressões da rotina e das desigualdades dos sistema social hierárquico.

Retomando, é até compreensível a cegueira cognitiva do professor e eterno candidato, afinal o nobre professor doutor parece compartilhar uma compreensão tipicamente “burguesa” e formalista de cultura e, pior ainda, distorcida de educação, como se essa última se resumisse ao cultivo da cultura escolar ou da oferta de ar condicionados nas escolas municipais.

Mikhail Bakhtin e E. P. Thompson podem oferecer a clareza e a relevância acerca da cultura popular que falta ao professor Robério Paulino. Aliás, curioso como alguém que se pretende afirmar na vida pública da cidade como um intelectual crítico ignore uma das principais lições desses autores, qual seja: o papel da valorização da cultura popular de uma sociedade como questionamento crítico da cultura dominante. Carnaval não se reduz à alienação ou ao pão-e-circo, esta é uma visão muito estreita desse complexo fenômeno cultural, e que, se vende aos mais desavisados, como se fosse uma visão crítica e defensora das reais necessidades do povo. Pretensão paternalista esta de definir por cima o que é essencial ao povo. É lamentável que alguém com formação em Ciências Sociais parta de um pressuposto tão reducionista e pobre.  Mas pelo que fala e defende, o professor, eterno candidato a alguma coisa, ele precisa deixar de lado os escritos, ou melhor, manuais de conduta marxista de Lenin, Stalin e Atilio Borón, e avançar para novas leituras mais arejadas e heterogêneas.

Mais importante, se o professor eterno candidato a algo quer de fato contribuir com a vida cívica do estado precisa aprender que a política dos demagogos populistas é a política da mediocridade. Assim, a esfera pública potiguar precisa de debates sérios que elevem a cultura local e a política, não o exemplo deseducador do professor Robério Paulino que considera a cultura um tema de menor importância na agenda de políticas públicas.

No final do século XVIII, nomes como Herder e Goethe enxergavam na cultura (Kultur) a mais autêntica expressão da vitalidade de um povo (“Volk”). Ao estabelecer uma escala hierárquica e valorativa entre cultura e educação formal, Robério rebaixa moralmente não somente a cultura popular, mas também as demandas não-econômicas, ou melhor, as urgências culturais da população potiguar. A população não quer só comida, mas quer também educação, cultura, lazer e arte, sem pré-noções hierárquicas como estabelecer o que é “essencial”. Sem romper com as pré-noções que tornam a política mera gestão administrativa e instrumental da vida e da coletividade, não vejo que novidade e densidade de fato nos traz o candidato de todas as coisas e cargos.

 

Logo abaixo, o depoimento do professor Robério Paulino

robério bocão