Search
Close this search box.

Sobre a copa e as vaias à Dilma

Compartilhar conteúdo:

Por Gabriel Medeiros, Estudante de Direito e Diretor do DCE-UFRN

 

images (1)Vamos lá ao assunto do momento. Primeiramente, não tratarei o episódio das vaias à Dilma pelo prisma da moral. Não fiquei horrorizado ou moralmente abalado ao ouvir xingarem “vá tomar no cu”. Ouvimos todos os dias entre amigos, até. Há, porém, que se debater o caráter preconceituoso deste xingamento do ponto de vista sexual e também de gênero, mas isso fica para os próximos capítulos. O que quero destacar aqui é a natureza política do ato de quinta-feira, e o episódio foi definitivamente uma manifestação política. Nos moldes burgueses, mas foi. Grande número daqueles e daquelas que estavam no estádio para assistirem ao jogo do Brasil estão legitimamente indignados com os rumos do governo federal e destilaram todo o seu ódio contra a presidenta da forma que lhes convinha. Da mesma forma que já vaiei e xinguei bastante Micarla de Souza (PV), nossa inesquecível prefeita, e Rosalba Ciarlini (DEM), governadora-modelo de desgoverno, em inúmeras oportunidades durante manifestações contra o aumento das passagens, pela instalação de Comissões Especiais de Inquérito, pelo pagamento dos salários dos servidores públicos atrasados e em outros atos que denunciaram as escolhas políticas dessas governantes que me despertam asco, desta vez xingaram a presidenta. Provavelmente naquelas oportunidades não utilizei esse xingamento específico, mas minha criatividade certamente me presenteou com outro. E se eu definitivamente tinha minhas razões para fazê-lo, os que o fizeram na quinta-feira também tinham as suas. Estavam todos com o ódio entalado desde a chegada dos “médico-guerrilheiros” cubanos, indignados com a destinação de 10% do PIB para a educação determinado com a aprovação do Plano Nacional de Educação há algumas semanas, rancorosos ainda com a implementação das cotas nas universidades e nos concursos públicos, putos da vida com a PEC do trabalho doméstico, revoltados com o decreto “bolivariano” que instalou a Política Nacional de Participação Social assinado pela presidenta nos últimos dias e em profunda contradição ao ver o Brasil, antes somente porto provisório de acolhimento entre uma viagem aos Estados Unidos e outra à Europa, sediar um evento deste porte e que envolve e emociona tão profundamente o nosso povo. É a luta de classes. A questão, porém, que merece reflexão e que possui grande potencial pedagógico para o Partido dos Trabalhadores, é o paradoxo em que se pôs o governo federal ao não medir esforços para garantir um evento que contempla com cadeiras VIP e camarotes a classe que tem ódio da classe para quem governa. Isso deve nos alertar. É certo que havia uma quantia de ingressos a preços plenamente razoáveis, na mesma faixa de custo de jogos normais dos campeonatos estaduais, inclusive. Porém, é fácil determinar que a maioria do público que prestigiará os jogos do lado de dentro dos estádios, principalmente dos camarotes de onde começaram as hostilidades contra a presidenta, são da famigerada elite branca brasileira, nossa inimiga declarada. São as contradições que partem da escolha política de “governar”, feita lá em 2002, e sem a qual não teria chegado ao palácio do planalto um metalúrgico nem o sucedido uma mulher. Mas essa contradição não deve nos acomodar. Pelo contrário, se ela é constante, também deve ser constante o nosso esforço para minimizá-la e priorizar espaços majoritariamente compostos pelo nosso povo, nossa classe, os trabalhadores e as trabalhadoras. Nesses espaços, Dilma pode até ser cobrada, mas também é aplaudida justamente pelo que a fez ser xingada na quinta-feira.