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Hipernarcisismo em tempos de simulacros e simulações

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As transformações sócio-econômicas, tecnológicas e culturais das últimas décadas trouxeram uma nova sociabilidade e fenômenos comportamentais, que  impõe imensos desafios para todos aqueles que procuram compreender a sociedade contemporânea. Um dos fenômenos comportamentais mais curiosos trazidos por esta nova sociabilidade é presença de um imperioso hipernarcisismo, que se caracteriza pela exposição permanente da imagem pessoal, exibicionismo doentio e desmedido.

narci dig  As redes sociais servem como cenário perfeito e profícuo para exacerbação de tal fenômeno, propiciando exagerada exposição da vida privada e uma clara ausência de senso de preservação pessoal.  O que pode estar por trás da necessidade de pessoas comuns, de serem (mesmo de forma efêmera) centro das atenções (“por favor, veja que eu existo!”), receberem aplausos, serem vistos e reconhecidos como importantes?

A partir de olhar psicanalítico, podemos sugerir que indivíduos precários emocionalmente, vão procurar nas redes sociais agregação e sentimento de pertencimento que não encontraram interagindo com seres humanos de carne e osso. Quanto maior for o vazio do indivíduo, maior será sua busca de preenchimento através das redes sociais, buscando algo que compense tamanha precariedade pessoal e encobrir inúmeras deficiências interpessoais/emocionais devidamente camufladas por disfarces e personagens comuns de gente “antenada”, “chique” e “sofisticada”.

Parte significativa daqueles que se dedicam por horas à postar fotos de situações “festivas”, “importantes” e “sofisticadas”, são na vida real embotados afetivos e precários pessoalmente que perambulam em busca de escapes e situações que disfarcem/camuflem a vida real assustadora. A manutenção destes disfarces e máscaras é um dos principais pilares de sustentação da sociedade contemporânea.

Estes tipos sociais citados, pessoas comuns que perambulam pelas redes sociais, usam MÁSCARAS sociais para serem narci iaceitos e aparentarem estar bem. E como não existe um EU consistente em seu interior, não conseguem na vida real lidar com as situações interpessoais comuns do cotidiano como o enfrentamento de medo, frustração, ansiedade, insegurança, depressão etc.

Comumente são pessoas incapazes de reconhecer suas reais angústias, frustrações, medos e fragilidades, sendo presas fáceis do imediatismo contemporâneo e das inúmeras pílulas e promessas de felicidade imediata que tanto nos oferecem o mundo encantado das “celebridades”. Incapazes construírem significados consistentes para seus cotidianos.

Ótima referência do mestre Carl Gustav Jung: “Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro acorda”.

Existe uma enorme diferença entre vaidade e autoestima. As pessoas vaidosas que dependem doentiamente do aplauso e do exibicionismo nas redes sociais, não tem autoestima, pois a prioridade é a exaltação da aparência (embalagem!!). A autoestima é resultante da avaliação que a pessoa faz de si própria, recurso que é buscado internamente e sem a dependência da opinião do outro sobre nossa aparência e roupas ou condição social.

A preocupação doentia com a aparência e imagem vão denunciar a ausência de autoestima e que é alimentada pela imagem dos corpos idealizados das “celebridades” e modelos impostos de mídia (que precisa apenas de imbecis que comprem seus produtos). Na exposição exagerada e mascarada da vida privada de pessoas comuns nas redes sociais, percebemos a tentativa e busca da inútil adaptação aos padrões corporais burgueses: branco, rico, magro e sofisticado.

A partir da obra de Jean Baudrillard (Simulacros e Simulações) conseguimos estabelecer importante reflexão sobre a representação da realidade em dias atuais. Intuitiva e inconscientemente (através de códigos e signos), as pessoas comuns vão entendendo que para serem respeitadas e valorizadas é preciso aparentar e REPRESENTAR, não sendo necessário ser essencialmente. Daí, inserimos o fenômeno do hipernarcisismo tão evidente nas citadas redes sociais.

Para finalizar, segue a seguinte reflexão sobre felicidade e bem estar psíquico: existe diferença entre exibição e execução, entre aparência e conteúdo. Os que realmente cuidam de sua autoestima optam pela execução e conteúdo no cotidiano e os vaidosos/exibicionistas que necessitam do aplauso optam pela aparência e exibição artificial e fantasiosa.