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Pinta e playboy: os dois lados da mesma moeda do desamparo juvenil

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142067247    A discussão em torno dos que são chamados de “pinta” ou playboy pode ser enriquecida com olhar mais amplo, menos generalista e reducionista. Num reconhecimento de indivíduos, singularidades e de construções cotidianas.

O playboy e o “pinta” são construções sociais e simbólicas resultantes das relações de poder de nossa sociedade, ambos carregam poderosos estigmas que fazem com que não enxerguemos indivíduos e os trajetos particulares. Os fatos cotidianos nos mostram que, ambos são reflexos do desamparo juvenil, cada um em seu contexto.

Os contextos particulares são distintos demais, porém essencialmente vivenciam mazelas emocionais que os deixam no mesmo nível de comportamento social diante dos grupos humanos doentios. Ambos atendem e correspondem os apelos dos comportamentos de massa e do consumismo exacerbado.

O território que cada um vai construir sua identidade e seus símbolos será definido principalmente pelas questões econômicas, que são muito determinantes para as construções dos signos e representações do poder. Importe observar as particularidades, pois uns vão construir seu modo de estar (falas, gírias, vestuários, preconceitos, ações, reações, locais a frequentar) no mundo a partir do seu lugar: que tanto faz ser periferia de São Paulo, Leblon, Felipe Camarão, Ipanema, Rocas ou Candelária.

O território (estético, racial, cultural, etc), seja abastado ou miserável, pode influenciar de maneira determinante a construção das identidades e representações para os indivíduos. No caso, os referidos neste texto: playboy e “pintas”.

gadelha  A desestrutura familiar, as ausências de afetividade e de valores humanos estão presentes nos dois universos. Muitos (seja “pinta” ou playboy) são filhos de pais permissivos, sejam estes executivos (escolarizados, brancos e endinheirados) ou suburbanos pardos (vendedores ambulantes, com pouca escolaridade).

Geralmente seus comportamentos desregrados, exibicionistas e violentos, representam um pedido de socorro, uma vontade de serem vistos e reconhecidos. Tente um olhar psicossocial para o cotidiano destes indivíduos e logo perceberá que seus comportamentos podem ser resultantes de desamparo, rejeição e falta de formação para serem bons cidadãos.

O acesso ao dinheiro vai fazer com que o playboy (geralmente branco e escolarizado!) exerça o “seu papel” e corresponda a tal estigma: afirmação pessoal através de bens materiais exibicionistas, como roupas de grifes, carros, celulares avançados, points da moda, etc. E principalmente no que tange os seus valores, enraizados num narcisismo doentio, onipotência através do poder do dinheiro e estética.

O “pinta” (geralmente pardo, mulato e de pouca escolaridade!) não é simplesmente um “excluído”, pois também corresponderá aos apelos do consumismo e do comportamento de massa. Porém, o seu território (e poder econômico) não é o mesmo que do playboy e isso será determinantes para a criação de importantes simulacros de “inclusão”, adaptações e invenções. Observem os discursos de poder que também fazem parte do vocabulário do “pinta”, essencialmente não se diferem do playboy, apenas as camuflagens do contexto.

O sujeito que é conhecido como “pinta” também introjetou, conforme seu contexto, os signos de poder. Pois assim como o playboy, também se alimenta de exibicionismo e demais extravagâncias que lhe garante status dentro de seu universo de satisfações particulares, miséria emocional, e “desajuste” social.

E o shopping center é um cenário perfeito para a construção de deste conflito de representações. Pois é um espaço privado, mas de acesso público e “democrático”, os “pintas” (sua cor, vestuário, trejeito, gíria) estão querendo se inserir num território que não lhes pertencem, daí o incomodo dos frequentadores tradicionais que não aceitam “se misturar” com uma ralé.

Vamos refletir sobre as mensagens subliminares deste cenário, percebam os símbolos e o acesso às lojas, em que os próprios frequentadores introjetaram quais são as de “rico” e as de “pobre”. Inclusive os tipos físicos de vendedores (as) diferem bastante conforme o status e símbolo de determinadas lojas.

Mesmo que não exista violência, baderna ou desordem, os “pintas” não são bem- vindos neste território. Natal tem suas particularidades no que tange o preconceito racial e social, pois são curiosos os símbolos de poder da cidade, seja da parte abastada ou da parte abandonada.

E numa sociedade desumana, perversa e pouco acolhedora com nossos jovens, podemos concluir que playboys e “pintas”, essencialmente, representam em seus contextos, os dois lados da mesma moeda do desajuste e desamparo juvenil!

Nesta discussão toda é preferível reconhecer as singularidades e os trajetos de vida, não se limitar a um olhar dicotômico, generalizante e reducionista muito determinado pelo ângulo que se olha os sujeitos citados. Mas diante da cultura de massas, que transforma indivíduos em números e rótulos, quem se importa com subjetividade??