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O mito horizontalista e a extinção das lideranças estudantis no RN

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O mito da horizontalidade continua a ceifar o desejado surgimento de boas lideranças estudantis e a geração de quadros para a esquerda. O DCE-UFRN, por exemplo, parece não preparar nem revelar mais agentes políticos como antigamente.

A retórica da democracia direta – aliada ao apoliticismo reinante – desarticula e não faz prosperar um projeto mais incorpado. Só a afirmação da passividade auto-anuladora da possibilidade de ganhar corações e mentes para além de meia dúzia de estudantes que vivem por um pequeno período dentro da universidade.

A “horizontalidade” enquanto discurso é um recurso de combate. É solicitada de modo maroto por aqueles que não têm voto. Um jeito ressentido de melar a legitimidade democrática de um projeto que sai vencedor das urnas. Com isso, ninguém consegue se sobressair, não há grupo vencedor, um único rosto. Nem uma necessária oposição questionadora, papel que deveria ser desempenhado pelos perdedores do pleito. O que figura é: “a minha proposta não logrou êxito na jornada eleitoral. Não convenci a maioria. Porém, tenho o direito de tomar decisões tanto quanto você”.

Vale lembrar que vereadores e deputados da esquerda foram formados no movimento estudantil. Mas, hoje, é incapaz de destacar alguém. A culpa não é de ninguém especificamente. O problema é sistêmico.

Cabe insistir. É a horizontalidade, nunca efetivada na prática – ela é irrealizável, mas produz uma retórica apartadora -, que desmotiva a disputa e desautoriza a organização em prol da obtenção do poder e de tudo o que é possível fazer com ele. O efeito é a apatia.

E, em seu lugar, não é o “reino dos céus” que surge, como sonham os mais inocentes. A frase já é bem batida e deve ser novamente dita: a política não aceita vácuo. Os espaços são ocupados por lideranças de outros setores da esquerda e da direita que se articulam por outros meios e incorporam o aprendizado político por outros caminhos que levam as vitórias em eleições de maior significado.

O horizontalista acaba, numa consequência não intencional, produzindo o movimento contrário daquele que ele pretendia – é placidamente administrado por gente que ele tem menor poder de influência do que poderia gozar, caso aceitasse o fato de que a competitividade democrática livre e aberta promove a participação legítima e orquestradora de sua inserção autônoma.

Há um entendimento turvo da realidade. A sociedade é atravessada por relações de poder e por interesses não necessariamente convergentes. Os grupos sociais apoiadores das visões diferenciadas sobre como administrar o nosso futuro e o nosso presente devem conflitar do ponto de vista democrático, através do livre direito de associação (partidos, sindicatos, clubes de bairro, associações empresariais, movimentos sociais, etc) e exposição de suas teses. O horizontalista procura desesperadamente negar o combate, a política (além do ganho civilizacional que a mediação democrática proporciona) e vira tripulante de uma matrix de amor e paz.