Nada, hoje, é mais violento na UFRN, sobretudo na área de humanas, do que o movimento daqueles que, quando questionados e/ou diante de qualquer discurso que não comungue dos seus credos – às vezes, religiosos –, enquadram o outro como “conservador”.
Chamar o discordante de conservador se tornou uma blindagem contra a crítica, contra quem pensa diferente. Um silenciador. É a tentativa de imposição de um lugar comum – aquela diferença que adora só a sua igualdade –, de uma prática num espaço que deveria ser de debate.
De acordo com um ex-aluno, que alegou não falar sobre isso abertamente para não “arrumar confusão”, o medo de ser cravado como um “reaça”, versão descolada de “conservador”, é enorme. “Seja chamado de tudo no mundo menos de ‘reacionário’”.
Em determinados setores, ser conhecido como “reacionário”, seja lá o que isso queira dizer, significa morte social. O inverso caricatural disso seria a plenitude. Não raro, um combatente em favor de uma liberdade hedonista, que desconsidera o fato básico de que ele vive em sociedade e a sua ação irá impactar na vida de terceiros. Opção de escolha? Só ele pode ter. Não o atingido. Do contrário? Conservador! Não raro, um operador da desconstrução de um vago poder que, na verdade, é a busca por uma regalia de arregaçar com as instituições e obrigar os outros e o que eles constroem a submeterem aos seus desmandos niilistas e ao seu mantra ideológico.
O medo de ser tomado por “conservador” também vem inviabilizando os diretores de centro e até a reitora, que assistem, inertes, ao que já vem se tornando um banal quebra-quebra, um ludismo ressentido indisfarçado nas dependências da universidade.
Mas, afinal de contas, o que danado é ser um “conservador”? Como me falou um amigo: para alguns, “conservador” é respeitar o Patrimônio Público e o Estado Democrático de Direito. Para outros, o simples ato de assistir as aulas, permanecer em sala até o fim do horário – sem aquela entrada e saída de 5 em 5 minutos que atrapalha pacas – e acompanhar a bibliografia indicada pelo professor. Alias este último não é conservador apenas. É também um “intelectual de gabinete”, que não “olha a vida como ela é” (numa explícita defesa de um empirismo embrutecido, pois que sem nenhuma teoria).
Pedi ao meu amigo para escrever um texto para a Carta Potiguar sobre o assunto. E ele me disse: “Eu não. Sou conservador demais para isso”. Acho que faz sentido.