Em que pese cada pessoa ter “um lado”, um posicionamento ideológico; isto não inviabiliza a necessidade de sonhar com um campo político, que permita uma eleição “sortida” com muitos projetos em disputa. E é justamente o cenário que não se desenha, pelo menos por enquanto, para 2014 no Rio Grande do Norte. A feira nem começou e as prateleiras para a majoritária já estão vazias.
Até o presente momento, há duas candidaturas competitivas – a que virá do PMDB e a da ex-governadora Wilma de Faria. Há quem acredite nas (remotas) chances eleitorais de Rosalba. Mas não é bom desconsiderar a realiadade: alta rejeição, atrasos seguidos de salários, perda do voto urbano (ou alguém acredita que Rosalba repetirá o mesmo desempenho que teve em 2010 em Natal e na região metropolitana?), difícil relação com os grupos empresariais, etc, tornam a tarefa praticamente impossível. Um brado retumbante substituto da Rosa ornado de boas novas? Improvável. O cidadão não é um idiota político. E outra: imaginar que empréstimos salvadores irão mudar a rota é um delírio já compartilhado pelo grupo da ex-prefeita Micarla de Sousa (não quero dizer, com isso, que Rosalba e Micarla são a mesma coisa). Não há sequer tempo para gastar os recursos, pois que uma intervenção de maior porte requer projeto, licenças, licitações. Bem distante de algo que se resolva do dia para a noite.
Voltemos aos fatos. Carregando agendas sofríveis para o RN – para dizer o mínimo –, PMDB e o grupo wilmista abrirão amplo espaço para uma candidatura não alinhada. Um postulante sem uma grife tradicional ainda surfará no desgaste da chamada “classe política”, que Henrique, Wilma e congêneres corporificam muito bem. Tal tendência será ainda mais fortalecida pelo esquizofrênico desejo posto pelas articulações de ambos os lados de produzirem um sonhado pleito sem disputa, sem debate e o (positivo) confronto político. Problemas enfrentados, soluções levantadas e grupos sociais atingidos mobilizados, ou seja, o jeito de fazer política com “P” maiusculo está nas cordas. No centro só o que a população tende a comprar como “conchavo” ou, em sua versão descolada, “acordão” – uma noção com pouco valor explicativo, mas já consagrada pelo acrítico jornalismo local.
O deputado estadual Fernando Mineiro e o vereador Fernando Lucena, os dois do PT, já perceberam o potencial destrutivo dessa conjuntura e tentam, remando contra a corrente, valorizar o debate e aproximar o diálogo das bases sociais e partidárias. Eles sabem que uma coligação do PT fechada “por cima” com o PMDB pode significar a perda da atuante militância, além de frustrar, inclusive, o crescimento da agremiação em 2014 e, não nos esqueçamos, em 2016 quando Mineiro, pelos mais de 20% dos votos que obteve em 2012, pode ingressar de forma mais bem posicionada. Mas o trabalho é difícil e o grupo majoritário, pela linha nacional, já impôs a direção do vento.
Os dois grupos em formação, sem agenda clara e com uma articulação completamente distante do eleitor, terão condições de satisfazer os anseios do cidadão? Me parece que não.
Por tudo o que foi dito, haverá, a continuar nessa tocada, um grande contigente de norte-riograndenses dispostos a não votar em um candidato do PMDB, nem muito menos numa desbotada “guerreira”. Procurarão, provavelmente, um candidato cacareco, no estilo Miguel Mossoró, ou um postulante que não navegue na barca das “oligarquias”.
É a avenida que se abre para o PSOL no Rio Grande do Norte. Com uma candidatura capaz de propor um debate qualificado e procurando dialogar com os estudantes, servidores públicos, trabalhadores, além de outros setores será possível obter uma significativa votação, bem além dos minguados 3%. Um bom desempenho na majoritária traria outro atrativo: ajudar a impulsionar as candidaturas nas proporcionais. Pelo andar da carruagem Amanda Gurgel para Deputada Federal – caso a aliança PSTU-PSOL se repita – e Sandro Pimentel na disputa por um acento na assembleia.
Mas será preciso fazer política. Até para driblar o escasso tempo de tv e falta de infiltração no interior. De pouco adiantará apenas produzir incompreensíveis lições morais, denunciar as vagas oligarquias ou atentar para outras questões menores como ocorreu nas eleições na capital em 2012. Será imprescindível por o dedo na ferida. Por exemplo, apontar o modo como Wilma, que prometeu acabar com o analfabetismo, entregou a educação do RN para sua sucessora: como o vigésimo quarto estado da federação conforme índices do setor. Provar que a estória da suposta união da classe política – como se fosse desejável uma democracia sem oposição, existisse amplo consenso sobre os problemas que atravessam o RN e como resolvê-los – para captar os recursos que o RN tanto necessita não passa de mero engodo e que amargamos a rabeira no que tange o recebimento de transferências voluntárias da união no nordeste, ficando atrás de estados bem menores que o nosso e sem contarem com a presidência do senado, da câmara. O eleitor, para se sentir seguro, deverá ser convencido da consistência do discurso, perceber firmeza e descartar a possibilidade do mero devaneio da espuma radical e da nada modesta superioridade ética. Constatar que se trata de uma candidatura que toma parte em seu favor, que fala com ele e para ele.
A estratégia não poderá ser isoladora. Marchar suavemente um pouco mais para o centro será preciso. Alias como fez Amanda Gurgel em 2012, que nitidamente escondeu o nome da sua agremiação e fez uma campanha capaz de ampliar o horizonte de votantes. Com uma candidatura nos moldes da promovida pelo PSOL-RJ, com Marcelo Freixo, ou, guardadas as devidas diferenças, de Randolfe na região norte, será possível surpreender e, de fato – intenção buscada pelo PSOL em 2012 em Natal, mas nem de longe atingida –, qualificar o pleito. Se isso acontecer, todos ganharão – eleitores e os demais candidatos, talvez, forçados a mudar o marasmo que tem tudo para sobrepujar nas eleições que se avizinham.