Por Thadeu de Sousa Brandão

A Antropologia Visual é, mais do que uma metodologia ou técnica de análise sóciocultural, uma maneira de interpretar o mundo, etnograficamente, através de imagens fotográficas em geral. Desde Malinowski, as Ciências Sociais perceberam o importante instrumento de registro dos “imponderáveis da vida social” através da máquina fotográfica. Mas, longe de capturar a verdade da realidade social, ela captura um olhar, uma visão interpretativa dessa realidade.
Neste sentido, exponho aqui, minha visão deste Dia de Finados, em uma visita que fiz, logo de manhã cedo, ao Cemitério de São Sebastião em Mossoró. Seguindo a perspectiva da Antropologia Visual, trago meu percurso e meu olhar neste locus onde a morte/vida são celebradas. Partindo também da perspectiva de Marcel Mauss, de “fato social total”, pode-se perceber o Cemitério como um espaço onde vários elementos do social se encontram presentes.

O comércio está presente em várias modalidades: lanches, bebidas, artigos religiosos, velas, muitas e muitas barracas de flores. Também a ação social, com o Hemocentro e uma equipe trabalhando na coleta de sangue.


Também é o espaço das mais variadas formas de expressão da religiosidade. Católicos, evangélicos e até mórmons, apenas para citar os “vizualizados” estão presentes. Claro que há aquelas que não estão visíveis ao olho destreinado, mas encontram espaço aqui também.


A arquitetura do Cemitério é outro elemento presente. Uma mistura de vários estilos, onde o neogótico predomina, como da bela capela central. Os adornos dos túmulos complementam a beleza do espaço e da celebração da morte/vida. Neste sentido, chama a atenção o rico jazido da elite local, em memória do ex-governador Dix-Sept-Rosado.


Claro que o mais esperado, deixei para o final. Isso mesmo. Eis o túmulo do cangaceiro Jararaca, Santo-Bandido, canonizado pelo catolicismo popular. O mais visitado, mesmo que apenas por curiosidade. Velas, flores e orações adornam seu túmulo. Preces àquele que fora execrado em vida como bandido, mas é devotado na morte como santo.



Para finalizar este breve ensaio, não poderia deixar de mostrar aquilo que considero um dos aspectos mais significativos do ethos e da visão de mundo mossoroense. Onde o cangaceiro é cultuado como santo, o seu algoz, o prefeito Rodolfo Fernandes é esquecido. Seu túmulo, mal cuidado e sem visitações, “jazia” abandonado, usado como ponto de ambulantes. Isso fala bastante sobre certa cultura de “valentia” e violência que ainda persiste? Deixo em aberto o questionamento.

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COPYRIGTH DAS IMAGENS:
BRANDÃO, Thadeu de Sousa. Breve Ensaio de Antropologia Visual – O Álbum. Disponível em: < http://on.fb.me/1bNBINz >. Publicado em: 02 nov. 2013.
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PUBLICAÇÃO ORIGINAL EM:
BRANDÃO, Thadeu de Sousa. Breve ensaio de Antropologia Visual: Cemitério de São Sebastião, Mossoró/RN. Blog do GEDEV – Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência – UFERSA. Disponível em: < http://bit.ly/Hy06KP >. Publicado em: 02 nov. 2013.
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SOBRE O AUTOR:
Thadeu de Sousa Brandão é Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Professor de Sociologia da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) e Consultor de Segurança Pública da OAB/RN-Mossoró