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Seriam Meros 5%?

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Por Marcos Dionisio Medeiros Caldas

A Folha de São Paulo vem com mais uma de suas pesquisas mensurando apoios e contrariedade para com o Black Blocs, 5% e 95%, respectivamente.

Black Blocs1

O Brasil convive com a maior concentração de violência difusa do planeta. Maior, inclusive, que a de países em guerras ou em guerras civis. São mais de 102000 mortes violentas por causas externas no Brasil por ano, aí, incluídos, acidentes de trânsito, homicídios, vítimas da letalidade da ação policial e policiais vitimados no exercício da função ou “no bico”.

Nossas Polícias são as que mais matam no mundo.

Nossos policiais são os que mais morrem também.

Nossa juventude é a que mais morre e também deve ser a que mais mata. Só saberemos quando houver investigação policial “à vera”.

rjNossas mulheres assassinadas por quem elegeu para enternecer seus corações. (Tomara que João Grilo não leia essa frase…). Nossos idosos padecendo nas mãos de filhos e netos que gostam mesmo é do seu cartão magnético. E a juventude sendo dizimada num genocídio continuado e seletivo quanto à etnia e classe.

Com o mundo todo se consumindo numa terrível crise econômica e nós ainda escapando e com alguns alentos socioeconômicos, tudo o que não precisaríamos aqui nesse momento era esse viés orgânico da violência política. Mas hoje é uma realidade que precisa ser encarada.

Encarar não é aperfeiçoar o espetáculo de amadorismo policial e institucional verificado no bojo da Copa das Confederações e seus rescaldos. É abrir janelas de descompressão e promoção de diálogos políticos “resolutivos”.

Na mesma senda desse assunto, antecipo a próxima onda de violência a se somar às demais, falo da Violência Religiosa da qual também não necessitamos, mas que vem sendo germinada por quem quer manipular a miséria, o desespero e a falta de perspectiva de vida de uns, construindo maiorias localizadas e sem perspectivas de crescimento, a não ser do crescimento do ódio aos diferentes, às vezes, até em nome de pacifistas como Jesus Cristo. A chegada de Feliciano à Comissão de Direito Humanos da Câmara Federal não foi por geração espontânea.

Na Folha e no “tuite”, vi que alguns lamentam que 5% ainda apoiem os Black Blocs.

Penso que o que deveria ser lamentado é justamente a desmoralização da política que faz com que jovens se mobilizem para a guerra. Uma guerra em que não haverá vencedores.

Câmaras MunicipaisUma guerra em que não sairão vencedores, mesmo que o Passe Livre, por exemplo, (não é a mesma coisa que o Black Blocs), tenha ganhado visibilidade por essas mobilizações e já comece a ser realidade em algumas cidades.

O voluntarismo e a imaturidade política dos neomilitantes deveriam ser objeto de estudo por parte das Universidades e centros irradiadores de pensamento. O Congresso Nacional, deveria melhor auscultar o ambiente político brasileiro. Com sua inoperância, demagogia e fisiologismo, precisa entender que estão dando o calor e as condições necessárias para a maturidade do Ovo da Serpente “diverdade” que será a junção da Guerra Civil Brasileira, do Black Blocs, do ódio de seitas religiosas (algumas digitais também) à desmoralizada política parlamentar brasileira e as gestões erráticas. Uma aventura totalitária sonhada pelas viúvas de 64, da UDN, do fisiológico PMDB, da Arena, da Arena Verde e do PFL/DEM que se reúnem em sótãos, quintais e varandas onde consomem lagostas, camarões e hipocrisia sem sentimento de culpa.

Os senhores herdeiros da Casa Grande querem agora que a Polícia vá às ruas garantir a ordem a qualquer preço.

Os jovens, rebeldes, descrentes da política, frágeis, enxergam na violência a saída, quando é exatamente a entrada num beco sem saída.

As raposas, tipo Alckmim, Henrique Alves, Sarney, Renan ora sequestram a pauta das ruas em projetos demagógicos em trâmite célere, ora vão produzindo suas patifarias mitigadas ante a observação constante da Imprensa proporcionada por lampejos de visibilidade advindas da vigência da Lei de Acesso à Informação.

Nem desconfiam do que pode surgir quando a casca do verdadeiro Ovo da Serpente se romper…

Da mesma forma como gestos estabanados podem “transformar” Bush, Obama, Alckmim, Dickson, Cabral em “estadistas” de ocasião, a imaturidade política juvenil dos militantes e a perversidade e desfaçatez das nossas elites, principalmente daquela que aparentemente está fora do poder, podem fazer surgir no Brasil um período de fratura exposta de desconstrução do estado democrático de direito.

A política surgiu da necessidade do ser humano tratar suas diferenças fora dos campos de batalha.

O Congresso dirigido por Renan e Henrique e Câmaras Municipais, como a dirigida por Albert Dickson querem criar um ambiente para que nossos militarizados serviços de segurança e defesa social façam valer a Lei de Segurança Nacional.

As covardes agressões a jornalistas e militares é a outra face da moeda da violência imposta pelos andares de cima do establishment brasileiro às manifestações.

Ambas são desnecessárias e covardes. O uso da força física em lugar da interlocução política é o reforço à visão militarista e plutocrata de mundo.

Convém se ler sobre momentos de desmoralização da política na história da humanidade.

Black Blocs2Na Itália, por exemplo, num período, o Ovo da Serpente ao partir sua tênue casca, desdobrou-se em Benito Mussolini e na aproximação com Hitler. Em outro período, mais recente, nas Brigadas Vermelhas, tentações que não podem contaminar os brasileiros, sejam jovens ou imortais da política. Depois na Itália, tivemos Silvio Berlusconi, aqui temos os nossos BODES GALEGUINHOS, como a pesquisa, personagem real também da Folha de São Paulo.

Mas há quem pense diferente e não são meros 5%. Acreditem.

É preciso restaurar a política para salvar a jovem e ainda inconclusa Democracia brasileira.

Nenhuma experiência democrática da humanidade conviveu com mais de 102000 mortes violentas anuais. A Democracia está em risco no Brasil.

É preciso evitar novos horrores da balcanização do Brasil, para usar uma expressão do historiador Luís Mir, inclusive, evitando esse movimento pendular onde, midiaticamente, ora sensibiliza-se pelas agressões sofridas por Coronéis e Soldados, ora se encolhe pelas agressões patrocinadas por Coronéis e suas ordens militarizadamente impostas.

Não são meros 5%, os que apoiam os vários níveis de black, green, vermelhos, laranjas, azuis e cinzas blocs.

É AÍ ONDE RESIDE O PERIGO e as pesquisas da Folha ainda não o alcançam.

Mas o DataMosk, sim, infelizmente.

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SOBRE O AUTOR:

Marcos Dionísio Medeiros Caldas, advogado e militante dos Direitos Humanos, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos/RN e do Comitê Popular da Copa – Natal 2014, com efetiva participação em uma infinidade de grupos promotores dos direitos fundamentais, além de ser mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de uma forma geral.