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A problemática linha tênue entre discurso e prática como força motriz para a implosão dos movimentos sociais

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Leonardo Souza – acadêmico de Direito, músico, poeta e livre pensador.

O Movimento Passe Livre de Natal, nascido das cinzas da Fênix de 2006, é só uma compilação de todas essas ideias apresentadas ao longo do texto. Resumidamente, a materialização de uma política autoritária e segregacionista, que camufla suas sedes fechadas em ditos ‘espaços libertários’, através dos quais a liberdade é a dádiva mais cerceada.

130571A falta de articulação nos movimentos sociais, especialmente no contexto político atual de Natal, tem sido uma das principais causas da crise de representatividade que há muito vejo acontecer. Definitivamente. Isso porque o modelo de plenária adotado à época da Revolta do Busão, há muito já questionado por não contemplar todas as demandas, saiu de cena para o estabelecimento de um outro ainda mais centralizador, que não atende a qualquer uma senão a do próprio movimento idealizador.

Mas isso não é, de longe, o maior dos problemas. Quando as organizações não têm mais, hoje, espaço para discutir as práticas de um movimento que sempre apoiaram, é porque os pilares da horizontalidade e pluralidade já caíram. O que não deixa de ser importante, é claro, devendo ser tratado tão logo quanto possível para que a democracia não se limite ao voto e permita o renascer da revolta: particularmente autêntica, a revolta popular. Isenta da cristalização no discurso que se contradiz na prática.

Talvez devesse ser assim para que surgissem questionamentos sobre a paranóia do aparelhamento das instituições sobre os indivíduos através das plenárias deliberativas, a partir das quais, natural e indiscutivelmente, os partidos têm vantagem na contagem dos votos por seu notável maior contingente – mesmo inconscientemente. Talvez fosse mesmo necessário filtrar a participação dessas instituições, com seu suposto controle social, para percebermos, no fim, que elas nunca foram problema senão para si próprias – e não são.

O resultado dessa perspectiva segregatória de participação culminou na instrumentalização libertária, não mais a temida partidária, quando pequenos grupos de afinidades decidiram criar seu próprio movimento, com discursos e práticas próprios, únicos e inquestionáveis, isentos da responsabilidade de serem criticados. E é aí que nasce a autoridade endeusada tão antes combatida dentro de um movimento social, com seu sistema hierárquico outrora também combatido, através de sua cúpula nem tão secreta assim de líderes de crachás (in)visíveis.

E quem são esses, que desenvolvem perseguições não só às organizações partidárias, mas a qualquer um que ouse questionar seus métodos de luta? Quem são os venerados por uma juventude sem crítica, que está alheia a essa figura de autoridade reivindicada, tão problemática e preocupante? Quem são e o que querem? São os mestres de guerra. Os responsáveis por premiar esses jovens, perdidos entre devaneios e epifanias, com a possibilidade de serem lembrados como “parte” de uma geração de lutas…

Sim, eu estou falando de um movimento que nasceu a partir do breu das salas da UFRN, sem participação do povo e das organizações partidárias. Que conta, hoje, com os tais jovens contadores de histórias, presas fáceis de uma matilha que aplica a teoria de Hobbes: O homem é lobo de si próprio. Uma matilha sedenta por sangue alienado. Que objetiva, inescusável e definitivamente, uma revolução imagética. Comprovada através do histórico deixado no acampamento da Câmara Municipal de Natal, que só atesta isso.

Histórico até lúdico, eu ainda diria, com tantas expressões artísticas e marcas de resistência popular. Perfeito, não fosse a agressão desmedida, descriteriosa e autoritária que sofreu um menor de idade, motivada, pura e simplesmente, por uma ação supostamente praticada por ele, que teria sido considerada machista pelas feministas. Ação esta praticada por outros nove homens, dos quais ele foi o único responsabilizado. Pobre garoto, ironicamente, o que menos tinha participação política e afinidades naquele meio.Um bode expiatório. Bravo!

É como têm combatido as práticas machistas, assim consideradas por elas próprias, as neofeministas natalenses que tanto combatem o sexismo. Como? Aplicando o discurso sexista de ódio aos homens. Na prática, imposição coativa. Bravo!

Uma matilha sedenta por sangue alienado. Que objetiva, inescusável e definitivamente, uma revolução imagética. Comprovada através do histórico deixado no acampamento da Câmara Municipal de Natal, que só atesta isso. Histórico até lúdico, eu ainda diria, com tantas expressões artísticas e marcas de resistência popular. Perfeito, não fosse o acontecimento envolvendo uma agressão desmedida, descriteriosa e autoritária de agressão física. Motivada, pura e simplesmente, por uma ação considerada machista pelas feministas.

 

Porque não se trata de uma discussão de igualdade dos sexos, mas de guerra entre eles. Ora, se não se discute a dominação da mulher pelo homem como resultado histórico de uma sociedade naturalizadamente machista, oriunda dos tempos patriarcais através do diálogo, de políticas de conscientização! Ao contrário, é semeado o ódio ao que consideram seu inimigo de classe. Comportam-se, invariavelmente, como se estivessem em uma condição natural de inferioridade em relação aos homens. Ignoram o progresso que já tiveram na sociedade – conquistaram mais espaços e condições de igualdade – e as verdadeiras lutas feministas, perpetuando uma vitimização em seus discursos que supostamente respaldaria suas práticas como reações às ações, não agressões – a inversão do polo passivo. Nada mais inteligente!

Um exemplo dessa autoridade é a ideia de que o homem, “macho adulto branco e heterossexual”, como elas vomitam, não pode participar dessa construção por sua condição natural aterrorizante de animal predador. Quando simpatizante da causa feminista, portanto, o homem deve se limitar ao apoio integral e inquestionável dessas representações, quer autoritárias ou não. Ai de mim! Devo ter sido inserido em uma lista negra, já muito comentada, por me posicionar contra essa lide sem lógica, baseada numa subjetividade relativa como toda, que estabelece a sujeição do homem.

Mais autoritário, impossível. Definitivamente, isso não condiz com os princípios libertários dos quais se originam os movimentos sociais que discutem a igualdade e pela qual lutam como objeto comum a todos, enquanto parte de sua pauta reivindicatória.

O Movimento Passe Livre de Natal, nascido das cinzas da Fênix de 2006, é só uma compilação de todas essas ideias apresentadas ao longo do texto. Resumidamente, a materialização de uma política autoritária e segregacionista, que camufla suas sedes fechadas em ditos ‘espaços libertários’, através dos quais a liberdade é a dádiva mais cerceada. Que irônico! Pior, com imposição de medo sob ameaças a quem se atrever discordar de suas diretrizes. É de espantar que indivíduos deixem de frequentar tais espaços por temerem, na melhor das hipóteses, algum provável dano à sua integridade física? Não acho.

Certamente serei apresentado ao calvário por me manifestar contra um conflito egoico que transforma os parceiros de perspectivas diferentes em adversários ideológicos, enquanto o verdadeiro inimigo estatal avança em políticas efetivas de combate à luta. Eu nego, porém, todos os agentes. Onde quer que estejam presentes, como quer que seja isso, através de seus símbolos vermelhos verticais ou de pretos horizontais. No fim das contas, para mim, são todos sofistas impondo seus discursos de dominação de massas. O que diferencia um estilo do outro é o símbolo utilizado para representar sua coreografia no baile da democracia – hipocrisia – representativa.

Que sejam tomadas medidas emergenciais de politização e conscientização e que seja questionada toda forma de repressão! Se não, nos tornaremos personagens de um jogo de caça. Um jogo sem final feliz.

foto: Tribuna do Norte