Graças a iniciativa louvável do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais (UFRN), um dos maiores especialistas na obra e pensamento de Max Weber ministrará duas palestras em nossa universidade. Trata-se de Wolfgang Schluchter, sociólogo alemão e professor na Universidade de Heidelberg; comentador renomado e intérprete inovador da sociologia weberiana. Em sua reconstrução do pensamento social de Max Weber, Schluchter dedica especial atenção para os estudos da sociologia da religião weberiana enquanto a chave de inteligibilidade para compreender os processos de racionalização da cultura ocidental, inserindo-os, conforme sua proposta de interpretação, dentro de uma lógica do desenvolvimento da singularidade do mundo moderno ocidental. Com isso, Schluchter retoma um dos aspectos mais frutíferos e desafiadores da obra de Max Weber, qual seja: sua sociologia comparativa.
Schluchter integra, ainda, o grupo de responsáveis editoriais pelo projeto de compilação das obras completas de Max Weber.
Portanto, todos aqueles que estudam e se interessam por Max Weber, quer os que se iniciam nas ciências sociais quer os mais calejados na obra do autor da Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, desfrutarão de uma oportunidade privilegiada para enriquecer suas leituras deste clássico incontornável da sociologia e do pensamento social. Mais uma vez, convém fazê-lo, devemos congratular e aplaudir a iniciativa do DCS e do PPGCS, pois, inegavelmente, trata-se de uma ocasião que brindará os seus participantes com um aprendizado e debate ímpar.
Entretanto, a despeito de todos os méritos da organização, e o reconhecimento que lhe é devido e merecido pela ideia e viabilização das palestras, cabe um questionamento com respeito ao que, segundo penso, é um equívoco, cujas razões não estão inteiramente claras. A escolha do local das palestras, o auditório de Geografia no CCHLA, obrigou a organização a restringir as vagas a um número limite de 50 pessoas – vagas, aliás, já esgotadas e preenchidas desde quarta-feira, dois dias após o início das inscrições.
No CCHLA existem outros espaços e auditórios maiores, e, caso estivessem todos reservados, há inúmeros outros na universidade a que se poderia recorrer, e, assim, evitar a limitação de vagas e a consequente frustração de alguns ou muitos que não conseguiram se inscrever. Ora, Max Weber é um autor estudado por diversas áreas do conhecimento. Somente na graduação e pós graduação de Ciências Sociais temos cerca de 300 estudantes ativos e matriculados – obviamente que nem metade irá prestigiar. Ainda assim, 50 vagas estão certamente muito aquém da expectativa de público.
A vinda de nomes como Jessé Souza, Charles Taylor, Ruy Braga, Schluchter e outros mais que vieram até nós nos últimos anos é mais do que simplesmente eventos acadêmicos para ouvir e dialogar com autores de peso e renomados. Se os clássicos de uma disciplina consistem naqueles autores cuja obra e contribuição foram capazes de definir critérios básicos em seu campo de conhecimento, os contemporâneos, os mais notáveis destes, representam, por sua vez, aqueles autores cuja singularidade e talento do trabalho e da perspectiva são capazes de sugerir os rumos e as mudanças pelas quais uma disciplina e campo de conhecimento podem estar enveredando.
Nesse sentido, os ganhos intelectuais e pedagógicos proporcionados por tais oportunidades vão muito mais além da mera familiariazação e contato com as produções atuais do pensamento social contemporâneo ou a oportunidade de trocas intelectuais mais diretas e de ampliação da rede social e institucional de contatos. São ganhos significativos e substantivos cujos efeitos podem ter implicações gerais e profundas na formação e na realidade acadêmica local. Por isso, a importância pedagógica e acadêmica de atingir o maior público possível.
Espero que a limitação das vagas possa ser revista, e, com isso, as palestras sejam transferidas para outro local. De sorte a permitir a devida abrangência e livre acesso que a relevância da palestra comporta. Mais ainda, a abrangência e livre acesso que uma universidade pública e o conhecimento científico, que é sempre um esforço coletivo e compartilhado, reclamam. Certamente, os responsáveis pela organização já estão cientes da demanda e sensíveis a esse propósito. Aguardemos então.