Por David Rêgo e Paulo Emílio
Livro didático é um roubo. As editoras deveriam ser fechadas e seus donos presos por assaltarem a população de maneira tão gritante e descarada. Por não ser pai, nunca me importei em prestar atenção ao valor dos livros utilizados pelos pequenos humanos no ensino fundamental e médio. Porém, por ser professor tive de escolher um livro para os próximos anos letivos e deparei-me com uma situação aterrorizante: Os livros didáticos são absurdamente caros, principalmente se considerada sua qualidade “material” , o conteúdo e o “know-how” do autor.
Apenas para se ter ideia, um livro de sociologia da Editora Moderna (é, digo o nome da editora mesmo, tem que denunciar esses abusos), que apenas “cumpre com o esperado” é negociado ao valor de R$ 104. Não possui mais do que 500 folhas, o acabamento do livro não é dos melhores e o conteúdo (como sempre) é tratado de maneira anti-didática, que não desperta o menor interesse do aluno. Paga-se mais de R$ 100 para que utilizemos o livro durante 3 anos, nada mais que isso, o livro não possui “mérito” para ser utilizado no ensino superior.
Apenas para se ter ideia dos valores: um dos mais conceituados sociólogos ainda vivo, Anthony Gidens, criou um “manual” de sociologia que, na Inglaterra, é utilizado tanto para ensinar no equivalente ao ensino médio, como também no ensino superior. Moral da história, trata-se de um livro que pode ser utilizado desde o ensino médio até o doutorado. O valor do livro? Os preços podem variar entre R$ 90 e R$ 120, a julgar a livraria.
Em teoria paga-se quase o mesmo pelos 2 livros, porém, existe uma diferença gritante: o livro de Gidens pode ser utilizado por mais de uma década (diferente do livro da Editora moderna que serve, no máximo, por 3 anos); é um autor de renome; foi conselheiro de primeiros ministros ingleses; é um dos maiores sociólogos do mundo (o que lhe dá um mínimo de know-how); o livro tem mais de 600 páginas, entre outros pequenos detalhes.
É vergonhoso observar as margens de lucros que trabalham as editoras nacionais. Como um livro feito por profissionais com uma menor qualificação que Gidens pode custar tão caro? Definitivamente não consigo acreditar que o autor do livro nacional cobre um “cachê” maior do que o de Anthony Gidens. O livro nacional não precisou pagar um tradutor entre outras coisas mais. Os custos não são altos. Mas, ora! Existindo essa situação, a culpa deste desrespeito, desta vergonha e falta de postura só pode se dever às editoras nacionais, que, no uso de um capitalismo aventureiro, utilizam-se de preços abusivos para produtos que, definitivamente, não valem o que se cobram.
Além dos livros de Sociologia, cito também o de outras disciplinas, como a Geografia. O caso mais descarado é da Editora Ática e com o autor José Willian Vesentini. O livro “Geografia Série Brasil” custa entre 50 e 60 reais, já o “Geografia: O mundo em transição” entre 80 e 100 reais – ambos da Editora Ática. Tudo bem que eles são “volume único”, mas existem inúmeros relatos que o referido autor (professor da USP) todos os anos tem um “stand” e um banner em tamanho real com o mesmo nas livrarias para o lançamento de um livro super resumido, praticamente em tópicos. Infelizmente, há outros livros absurdamente caros, como “Conexões – Estudos de Geografia Geral e do Brasil”, também volume único, (Editora Moderna) que custa entre 100 e 125 reais. Já o livro “Projeto Eco Geografia” (Editora Positivo), para cada série do Ensino Fundamental custa entre 48 e e 55 reais. O “Fronteiras da Globalização – Geografia Geral e do Brasil” (Editora Ática – mais uma vez, que coincidência, não?).
Enquanto isso, livros essenciais na graduação até o doutorado, como Milton Santos, Marcelo Lopes de Souza, Antonio Jose Teixeira Guerra e Aziz Ab’saber (esses dois últimos voltados para a “parte física” da Geografia, ou seja, livros que contém bastante fotos, tabelas, gráficos etc., o que encarece ainda mais o preço) custando em média 20 a 80 reais.
O pior de tudo é saber que estas editoras apenas prosperam pois possuem a conivência dos professores, estes que, acomodados, não buscam alternativas para suas aulas, enclausurando o aluno em um mundo de livros didáticos altamente anti-didáticos, broxantes e caros. Enfim, é isso.