Sobre a Morte em Serviço de Segurança Pública
Com apenas 44 anos de idade o Agente Penitenciário Estadual Maxwell André Marcelino foi assassinado ontem pela manhã, dia 8 de agosto de 2013, durante uma tentativa de resgate a um preso que estava sendo escoltado para o Presídio Estadual de Parnamirim/RN após ter sido levado para uma consulta médica. Maxwell, o condutor da viatura foi atingido diversas vezes e agonizou no local até ser socorrido por uma equipe do SAMU, falecendo antes de chegar ao hospital.
Em termos de reconhecimento público e valorização, a profissão policial é uma das piores que existem, não há o devido respeito pelo guardião que diariamente arrisca sua vida pela sociedade e ainda tem que conviver com políticos e gestores públicos escarnecedores que dizem que ele “ganha bem” ou melhor do que muitas outras carreiras.
A referência feita aqui à profissão policial indica todas aquelas envolvidas na segurança pública, ou seja, Policiais Civis, Militares, Guardas Municipais, Policiais Federais, Agentes Penitenciários…
Não há como comparar a profissão policial com as outras, mesmo as que pressupõem perigo de morte, porque nela o perigo da morte vem de um cidadão comum, que pode ou ser um criminoso, o que desde o princípio já coloca o agente encarregado de aplicar a lei em suposta desvantagem.
O estresse gerado por uma profissão em que se lida com o pior da natureza humana todos os dias, se vê a morte potencialmente diante de si e de colegas de trabalho e se vê essa morte personificada em vítimas de todas as idades, mutiladas, violentadas… é indizível! Essa situação piora quando o profissional se depara com o corpo de um colega morto em serviço, tombado pela violência do inimigo disfarçado de “criança” e de “cidadão comum”, vitimizado pela falta de estrutura de trabalho.
Vilma Batista, presidente do SINDASP/RN, fala sobre as deficiências do trabalho, as mortes de agentes de segurança pública e apela para parlamentares e para própria Presidenta Dilma Rousseff nesse vídeo postado no YouTube:
Equipamento não consoante com a necessidade de trabalho, acompanhamento psicológico inexistente para profissionais altamente cobrados em suas condutas e em suas ações, falta de avaliação física, e tantas outras “faltas”, aumentam inúmeras vezes as possibilidades dos agentes profissionais da segurança pública de envolverem-se em situações de perigo.
Além disso, a desvantagem numérica aliada à falta treinamento periódico que proporciona uma doutrina de procedimentos, deixa esses agentes à mercê do acaso e da sorte, quando se reúnem para trabalhos em conjunto e cada um quer agir de acordo com seu conhecimento e quando estão sozinhos e seus conhecimentos não lhes garantem um mínimo de precaução para a sobrevivência.
O que se percebe é que a vida do profissional da segurança pública não é valorizada como deveria, e sobre a morte em serviço, ela recebe a conotação de heroísmo porque essa talvez seja a única oportunidade de trazer para aquele ser humano um pouco de notoriedade além daquela que somente poucos amigos e familiares lhe dariam. Talvez o caso de Maxwell enseje uma paralisação de suas atividades em busca de melhores condições de segurança no trabalho e Maxwell seja lembrado além do tempo costumeiro das missas e passageiras homenagens póstumas.
E assim, Maxwell André Marcelino, Agente Penitenciário do RN, que perdeu sua vida em serviço de segurança pública, hoje está sendo velado.
Mas quem sentirá falta de Maxwell André Marcelino?
Um herói que tombou, afinal, para ser herói nos serviço policial geralmente é preciso estar morto, pois enquanto estão vivos, tudo que fazem é rotulado como mera obrigação, apenas fazendo jus ao salário que ganham e ao pífio investimento do Estado. Todavia, até essa condição de herói será esquecida, em breve Maxwell ficará apenas nas estatísticas e nada mais, seu nome não será imortalizado ao ser dado para uma nova praça, uma nova rua, uma central de detenção provisória, uma sala qualquer dentro de uma academia de polícia, nada disso. Maxwell voltará a ocupar a posição que já ocupava antes, a do anonimato, sendo sua falta percebida por uns poucos colegas que ainda dele se lembrarão, e sentida pela sua família que nunca mais o terá em suas vidas.
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Texto escrito por Ivenio Hermes e publicado originalmente em parceria com o amigo e jornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.
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SOBRE O AUTOR:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves tendo publicado diversos livros, dentre eles três sobre segurança pública no Rio Grande do Norte. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.