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A Sabatina do Secretário

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Kelps Lima indaga o secretário Obery Rodrigues
Kelps Lima indaga o secretário Obery Rodrigues

Obery Rodrigues Representa o Governo do RN na Berlinda

Após a Governadora Rosalba Ciarlini manifestar publicamente em duas ocasiões diferentes que havia superávits nas arrecadações e que tudo corria bem na administração dela, estranhamente nas últimas semanas chega a notícia de que o Estado do Rio Grande do Norte estaria com sérios problemas, numa ordem tão grave que precisaria efetuar cortes drásticos nos gastos, inclusive na folha de pagamento.

Logo de saída, a Polícia Civil, que já sofria com a falta de investimentos, agora simplesmente foi impactada com cortes nas gratificações e no adicional constitucional de um terço de férias dos seus policiais que iniciaram uma greve por tempo indeterminado.

O Estado Elefante já vinha apresentando problemas nos setores básicos como a segurança pública, a saúde e a educação, sem falar que a mobilidade urbana também preocupa o estado que em breve sediará um megaevento esportivo, não sendo contemplado por políticas públicas de investimentos estratégicos que evidenciassem que havia uma preocupação do Governo em evitar o caos. Pelo contrário, enquanto se caminhava para esse abismo financeiro, a Administração do RN continuava fazendo gastos elevados com viagens e propagandas que não eram prioridade.

Os gastos se avolumaram e o Estado Elefante possui um déficit na ordem de 417 milhões anuais que o levou a deixar de investir há muito tempo. Se os gastos da máquina estatal são feitos basicamente com custeio, salários e investimentos, se não há praticamente mais nenhum tipo de investimento sendo feito no RN com recursos próprios, se o custeio do Estado gira na casa dos 280 milhões de reais, se não existe a possibilidade de deixar de pagar os salários, dificulta-se a possibilidade de tirar o Estado do buraco.

Preocupado com essa situação o deputado Kelps Lima solicitou o comparecimento para audiência na quinta-feira, 8 de agosto, ao plenário da Assembleia Legislativa os secretários de Planejamento e Administração do Governo do Estado para explicarem em público a realidade, mas somente o secretário Obery Rodrigues compareceu para falar numa sessão que teve as duas câmaras populares lotadas por servidores públicos, de um lado, os policiais civis e do outro, os trabalhadores da saúde.

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Policiais Civis chegam à Assembleia Legislativa para ouvir as respostas do Governo do RN.

Logo na chegada das duas classes de servidores havia uma grande multidão e todos queriam entrar para ouvir as explicações do Governo. O espaço ficou pequeno diante de tanta gente desgostosa, que diversas vezes bradava sua indignação pedindo o impeachment de Rosalba Ciarlini, afinal, os problemas, assim como também as soluções, não são mostrados claramente pelo governo, levando essa administração a uma perda vertiginosa de sua credibilidade.

O Secretário Obery Rodrigues não foi feliz com sua exposição inicial, não apresentando nenhum argumento novo na audiência para a qual foi convidado, apenas trazendo números já conhecidos dos Deputados, e que já haviam sido contestados, espalhados em planilhas sem atrativo que cansavam a todos que assistiam. Ao lhe ser exposto, esses argumentos pelo Deputado Kelps Lima, o Secretário ficou visivelmente desnorteado, não conseguiu responder as perguntas que lhe foram feitas e ficava constantemente usando seu smartphone ou passeando os olhos perdidamente por uma planilha impressa que nunca era consultada para subsidiar nenhuma respostar. Parecia tão disperso que não demostrava estar muito ciente de seu papel naquela casa e na grande maioria das vezes, enquanto os deputados argumentavam ele mantinha o olhar fora do interlocutor, mexendo na gola, rabiscando, e outros movimentos imprecisos.

As perguntas de Kelps Lima demonstraram, ou que o Secretário não possuía conhecimento para responder, ou compareceu à audiência apenas por obrigação ou que estava nervoso. Aliás, uma das mais constantes desculpas dele era a de não possuir as informações requeridas naquele momento e prometia enviá-las para o deputado inquiridor em ocasião posterior. Em diversos momentos pedia para repetirem as perguntas, pois não conseguia memorizá-las e nem tampouco anotá-las, ensaiou perder a compostura e até brincou de forma aparentemente sarcástica sobre a falta de soluções para a Polícia Civil, enfim, Obery Rodrigues não estava num bom dia.

Marcia Maia e Fernando Mineiro foram responsáveis por mais golpes duros no representante do Governo. O nível de desconforto do secretário foi tal, que ele até chegou a dizer que não responderia um questionamento de Fernando Mineiro, que educadamente disse que se fosse para não responder não era preciso ter comparecido àquela sessão, claro que com outras palavras.

Kelps Lima fez o argumento final. Informou ao secretário que nenhuma pergunta que ali fora feita tivera a conotação de ofensa pessoal e sim a de obter as respostas desejadas, mas que as respostas não foram satisfatórias.

Nas câmaras populares, policiais, servidores da educação e da saúde vibravam com cada argumento do governo que era derrubado e nem a intervenção do presidente da Assembleia, Deputado Ricardo Motta, arrefecia os ânimos do povo que expunha seus cartazes de manifestação.

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A aparente apatia do secretário diante dos questionamentos dos parlamentares.

Contudo, num dia importante assim, dos 24 Deputados Estaduais que compõem a Assembleia Legislativa 8 não estiveram presentes, os 16 que compareceram foram: Kelps Lima, Larissa Rosado, Márcia Maia, José Dias, Fernando Mineiro, Fabio Dantas, Getúlio Rego, George Soares, Jesane Marinho, Nelter Queiroz, Hermano Moraes, Walter Alves, Raimundo Fernandes, Ricardo Motta, Gilson Moura e Agnelo Alves.

A intenção de Kelps Lima de fazer a opinião pública entender a real situação do RN pode não ter dado certo da forma como o parlamentar imaginava, afinal a quase totalidade das perguntas feitas ao secretário não foram respondidas. Entre rodeios argumentativos e até um discurso legalista sobre o termo “quebrado” referindo-se às finanças do Estado, nenhuma resposta se obteve sobre a situação econômica real do Estado do Rio Grande do Norte, ficando somente a certeza de que se os outros secretários da Administração Ciarlini apresentam esse nível de resposta às indagações que lhes são feitas, então é preciso redefinir o conceito de caos, talvez tomando emprestando a obra de Dante[1] onde no Estado Elefante se estabelecerá os níveis de caos em que cada setor da administração pública se encontra ou em que cada camada da população foi atirada.

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Texto escrito por Ivenio Hermes e publicado originalmente em parceria com o amigo e jornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves tendo publicado diversos livros, dentre eles três sobre segurança pública no Rio Grande do Norte. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


[1] Dante Alighieri. A Divina Comédia: Inferno, Purgatório e Paraíso. Tradução e notas de Ítalo Eugênio Mauro. Em português e italiano (original). Editora 34, São Paulo, 1999.