O resultado de uma administração ineficiente
A ausência de políticas públicas claras e a falta de transparência da Administração de Ciarlini são prenúncios da falência da gestão do Governo do RN. Essa cômoda obscuridade manteve a atual gestão entrincheirada em sua fortaleza de propaganda e cercada por secretários, talvez com alguma exceção, apáticos e sem expressividade no espectro de abrangência de suas pastas.
O Caos no Estado Elefante foi introduzido desde o momento em que o Governo do RN obstaculizou todas as formas de dialogar com as representações de classes e com os representantes do povo.
Na segurança pública, ao invés de buscar soluções, Rosalba Ciarlini se contradisse desde o momento em que deixou de nomear concursados da Polícia Civil, discurso contrário ao que ela mesmo pregava enquanto senadora, concedeu aumento aos policiais militares não fazendo o mesmo para os policiais civis e postergou uma resposta aos 824 concursados da Polícia Militar dando a esses homens falsas expectativas de luta.
Com salários corrigidos, os policiais militares se viram na obrigação de merecer mais respeito da sociedade e intensificaram seu trabalho de policiamento ostensivo, contudo, sem investimentos fundamentados em suas reais necessidades de efetivo e sem um plano diretor para suas ações que viesse da Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Civil, que deveria orquestrar atividades continuadas pela Polícia Civil, a atividade preventiva falhou e os índices de cometimentos dos mais diversos tipos de crime entraram em trajetória ascendente.
A Polícia Civil, humilhada às últimas instâncias, sobrevive de minguadas operações de sucesso e do investimento de recursos próprios de seus policiais. Corroborando com essa argumentação está a afirmação do Secretário de Administração que disse em uma reunião com o SINPOL, que não sabia da falta de efetivo que assola o órgão de polícia investigativa.
A insegurança gerada pela ausência do Governo do RN em traçar planos de ação de combate ao crime estabeleceu uma perigosa sensação de impunidade que engrandece os perpetradores de ilícitos.
Um grande número de modalidades criminosas tem ressurgido no Rio Grande do Norte, de tal forma que não há mais freio para a audácia dos criminosos e nem para a violência policial.
A sensação de guerra iminente se consolida pela falta de segurança generalizada e promessas de revide entre criminosos e policiais. O calor dessa batalha que se aproxima já é percebido nos “tirinetes de balas[1]” anunciados diariamente pelo fotojornalista Cezar Alves e pelas balas perdidas que atingem os cidadãos. No final de semana passado dois ataques ocorridos na cidade de Mossoró revelam uma mudança no modus operandi[2] dos confrontos entre criminosos rivais e criminosos e a Polícia Militar. Esses confrontos de rua se materializam na forma de guerra nas ruas, com cenas de perseguição, troca de tiros, invasões de domicílios, ataques em festas e situações públicas que culminam na morte de inocentes.
As famosas balas perdidas já feriram várias pessoas e ceifaram as vidas de pelo menos três crianças e quatro adultos, como Deyse Kelly Félix da Silva[3], de 2 anos. Nesse episódio, os bandidos invadiram a casa onde Deyse residia para matar um jovem de 16 anos, que sobreviveu. Deyse e João Morais, um senhor de 48 anos não tiveram a mesma sorte.
Anteriormente os assassinatos ocorriam de forma reservada, hoje as ações são como a do caso Pálio branco que se aproximou de um grupo de pessoas em um local público no bairro Lagoa do Mato, em Mossoró, e seus passageiros efetuaram disparos que acertou um cidadão. E o requinte miliciano de uma guerra de ruas não para, Wesley Everton da Costa Bezerra, de 19 anos de idade, morador da rua Raimundo Galdino, no Bairro Boa vista, preso por porte de arma, informou suas munições haviam sido untadas com veneno para ratos.
Em uma conversa com o amigo Cezar Alves, ele recordou: “Estes ataques me fazem lembrar do matador Mainha em suas ações na década de 70 e 80, pois quando ia matar alguém, também matava todos que estivesse por perto.” Mainha agiu assim em São Miguel (RN), Quixadá (CE) e outros lugares por onde passou.
Mais recentemente, em 14 de julho último, a menina Ângela Maria[4] de 12 anos de idade, foi assassinada e outras três pessoas foram atingidas em partes diferentes do corpo como pescoço, abdome, peito e braços.
Nem quem está dentro de casa escapa, pois no último sábado uma senhora foi alvejada por três disparos de arma de fogo oriundas de um tiroteio em frente à casa dela. Também no sábado dia 27 de julho, policiais militares corajosamente prenderam e apresentaram ao plantão da Polícia Civil um homem com a prisão preventiva decretada, por cometimento de vários crimes desde assaltos até assassinatos, mas foi solto porque a Polinter desatualizada informou que não havia mandado de prisão em aberto.
Criminosos audaciosamente anunciam revanches à polícia que tentou prendê-los através de seus perfis na rede social facebook. A vingança pretendida vitimizará inocentes e desencadeará mais revanches.
A violência dessas ações de guerra foi gerida no útero da ausência de investimentos em segurança pública, não somente ostensivo, mas no ciclo restante da atividade policial que seria desempenhado pela Polícia Civil e ITEP. Os confrontos que antes eram tolhidos pelas prisões e persecução criminal agora aumentam em forma, intensidade e frequência. Ninguém está a salvo.
Os grupos criminosos estão bem armados e atiram à vontade, enquanto a PM e a PC amargam um contingenciamento de sua minguada verba anunciada pelo corte dessa gestão sem critério, que prefere gastar milhões de reais em propaganda ao invés de investir em um policiamento inteligente e direcionado para prender criminosos com uma tática que os surpreendam e não os confrontem, potencializando a vitimização de inocentes.
Enquanto durar essa política de administração sem compromisso com a segurança pública, a sociedade potiguar continuará refém de criminosos e da incapacidade policial que o próprio Governo nutriu. Quantos ainda perderão a vida nos “tirinetes de bala”? Quantos ainda verão seus suas famílias serem obliteradas? O resultado de uma administração ineficiente do Governo Estadual foi causadora da ineficiência das polícias e da ascensão do fortalecimento dos criminosos sem punição que declaram guerra urbana ao povo do Rio Grande do Norte!
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SOBRE O AUTOR:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves.
[1] Termo criado pelo fotojornalista Cezar Alves para conceituar disparos de armas de fogo que vitimam pessoas e provocam o homicídio.
[2] Expressão em latim que significa “modo de operação”, utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo sempre os mesmos procedimentos.
[3] GIBSON, Felipe. Polícia investiga possível negligência no caso de criança morta no RN: Ferida na perna durante tiroteio, menina foi atendida no HRTM e liberada. Logo depois ela morreu; Itep encontrou bala alojada na caixa torácica dela. G1 RN. Disponível em: < http://db.tt/FGUoQVBh >. Publicado em: 27 maio 2013.
[4] ALVES, Cézar. Estudante de 12 anos é assassinada e outros três são baleados em Mossoró. Jornal De Fato. Disponível em: < http://db.tt/lglSVSVU >. Publicado em: 14 jul. 2013.