Um mito, se assim me permitam falar os colegas antropólogos, surgido na seara sertaneja neste País de Mossoró, aos poucos vai se propagando como se verdade fosse. Mitos, lembrando o clássico Micea Eliade, são verdades ancestrais que se interpõem no tempo e se propagam como alicerçadores e justificadores de uma dada realidade. Não podem ser tomados como verdades científicas e, numa perspectiva mais estruturalista, são de fato falseadores do real. Criam uma realidade à parte, reificada, daquilo que julgam representar. Repetidos indefinidamente, chegam a tornar-se, parafraseando Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler e mentiroso contumaz, verdades.
Pois bem, ligar a violência e criminalidade homicida em Mossoró (e mesmo no RN) à existência de um Presídio Federal em terras tapuias é um mito. Não há qualquer relação significativa. Os dados mostram que os homicídios, assaltos e mesmo o tráfico de drogas local tem base LOCAL! Em pesquisa do GEDEV em andamento acerca do Mapeamento dos Homicídios de Mossoró, a tabulação dos dados de 2010-2011 apontam para uma dinâmica homicida e criminal influenciada não pelo Presídio Federal de Mossoró, mas, em parte, pela ineficiência dos presídios estaduais de cumprirem seu papel constitucional e legal (referente ao que determina a Lei de Execuções Penais de 1984). Outras causas são econômicas, estruturais e funcionais. Nada de ligação com o Presídio Federal.
Não quero aqui cumprir papel denuncista ou temerário. Não é papel da academia servir de baluarte ou aríete político. Mas, cumpre-nos um papel de desmistificação social e, quando necessário – porque não? – político. Alguns mitos servem para a edificação social, cultural e nacional. Outros são puro engodo e realizam um desserviço à sociedade em geral. A esses, cabem-nos derrubá-los.
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SOBRE O AUTOR:
Thadeu de Sousa Brandão, Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Consultor de Segurança Pública da OAB/RN e Professor de Sociologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Mossoró/RN