Por Cauê Almeida Galvão
No ato do dia 19/07, percebemos que o aparato policial ao serviço do Estado está indo muito bem na condição econômica, afinal, uma estrutura que inclui helicóptero, mais de 20 viaturas policiais e pelo menos 2 pelotões da Tropa de Choque da PM/RN para uma manifestação pacífica e em repúdio à VIOLÊNCIA praticada por uma guarda legislativa, sob o comando de um policial militar que ocupa duas funções públicas concomitantes e ainda por cima é um capacho do presidente da câmara de vereadores, o vereador, médico oftalmologista com processos de negligência na profissão, Albert Dickson.
Esta situação nos remonta a condição na qual o estado se posiciona frente às necessidades que solicita do governo federal. Enquanto nosso estado se coloca em situação de emergência em relação à seca, hospitais e outras temáticas de direitos básicos fundantes, na contrapartida, o estado tem recebido cada vez mais aparatos de segurança (pública?) para conter as reações da população contra o assalto dos benefícios sociais praticados por gestores públicos. O que temos observado é a tática governamental do silêncio que cala e faz acontecer. Entretanto, os indivíduos que colocam seus corpos em um enfrentamento como o que houve no dia 19, tem plena ciência – e por isso o fazem– da tentativa de silenciamento por parte dos policiais via repressão, dos políticos via aparato policial e silenciamento pelas suas mídias “oficiais” favorecedoras, por parte das mídias “oficiais” que abusam da construção de diálogos dicotômicos na busca de encontrar culpados e vítimas num jogo espetaculoso de criação de verdades, como aponta bem Guy Debord*, bem como pela confusão de informações causadas por essas mídias massificadoras, que incessantemente apontam culpados como se fossem juízes ou doutores em causas legislativas.
Além de tudo isso, agora o governo também está usando o aparato da inteligência para investigar locais de moradia de alguns dos participantes do movimento que luta pela dignidade humana na mobilidade social da cidade. Neste aspecto, estão surgindo diversas denúncias em relação à perseguição e rondas de policiais sobre manifestantes, nos levando diretamente ao túnel da história, rememorando as ações do DOPS durante a ditadura “esclarecida” do Brasil. Hoje quando ouvimos de pessoas mais velhas e nostálgicas que nós lutamos para que vocês tivessem direitos de fazer isso ou aquilo, podemos perceber que estes vanguardistas de outrora, terminaram por ser iludidos pela mídia de massa – que já era forte, presente e fonte de opinião – que no Brasil havia tido um processo de redemocratização. As ações e estruturas policiais no Brasil mostram a evidência disso. Hoje não vivemos a ditadura esclarecida, e sim a democratura assistida, ou seja, uma ditadura vestida de democrática pelo direito ao voto (e não aos benefícios e tomadas de decisão coletiva) e ao mesmo tempo uma ditadura silenciada pelas mídias massificadoras. Exatamente por isso, surgem as novas mídias alternativas, voltadas para apresentar a realidade e não construir um enredo de histórias semelhantes a novelas e folhetins, como vemos nas TVs e jornais – impressos e online – vendidos aos gestores que estão dominando o poder.
Nesta perspectiva, esperamos que a população comece a perceber e se envolva diretamente na situação para que não tenhamos que chorar como muitas famílias com o desaparecimento de pessoas que lutam por uma sociedade melhor e mais justa. Neste aspecto, cabe a nós, sociedade, a busca por uma democracia de fato, sem intermediadores ou representantes. Afinal, o que nos levou a situação de democratura atual foi exatamente o sistema democrático representativo pautado/baseado em eleições em que o eleitor sem perceber, abdica de sua cidadania quando indica alguém para ocupar o seu espaço nas tomadas de decisões da cidade, do estado e até mesmo do país. A crise de representatividade é perceptível na sociedade brasileira e mundial como Turquia, Egito, Espanha e outros. Esta crise de representatividade não é por conta dos partidos, apenas respingam nesses, pois, os mesmos participam do jogo e não apontam para a libertação social e sim para o domínio das maiorias em supostas “casas do povo” que dizem preservar a democracia. O que não vemos em nenhuma das esferas.
Precisamos aceitar que a democracia no Brasil precisa ser validada de fato. Precisamos que os militantes que se vangloriam de ter lutado pela redemocratização coloquem-se na situação da realidade e percebam que o que está posto hoje na rua, é a continuação desse movimento de democratização da sociedade e distribuição dos poderes de forma justa e solidária entre todas as pessoas da localidade, findando assim as zonas de confortos e privilégios mantidas pelos partidos e seus representantes. O modelo democrático representativo (político-partidário) pautado em partidos políticos está ruindo em todos os países do mundo que (o tinham como base política) adotaram esta estratégia política. Precisamos ouvir a voz das ruas, e assim, fortalecer uma democracia real e participativa, onde todos apontam as suas necessidades locais para assim podermos fortalecer todas as localidades. No molde de hoje, as decisões do que será feito em bairros, por exemplo, não passa por uma decisão coletiva dos moradores, apenas é imposto a eles sem direito a participação e tomada de decisão, como na ditadura.
Da repressão abrimos mão, queremos ser ouvidos e ter o poder de decisão. Esta foi a percepção que observamos nesse ato e que contrapõe as ações policiais de defesa de espaços públicos, que após as eleições tornam-se privados àqueles que sustentarão seus privilégios e criarão facilidades para as empresas e pessoas que financiaram sua estada ali.
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SOBRE O AUTOR
Cauê Almeida Galvão – Graduando em História. Pesquisador da base de pesquisa Ideia&Mímesis pertencente ao Departamento de Filosofia da UFRN.