A imparcialidade morreu. Foi jogada no mesmo abismo cotidiano de informações manipuladas em que, contraditoriamente, gritam pela permanência dela.
O fazer crítico não é possível sem o acesso às informações, que devem ser disponibilizadas e construídas coletivamente com a sociedade em seus mais diversos níveis e vozes. No contexto da revolta popular, destaca-se a luta pela democratização da mídia desde sempre submetida a oligopólios e afundada num complexo jogo de interesses políticos. A necessidade da construção da crítica e da reflexão é urgente, e é antiga.
No ato da #RevoltaDoBusão de ontem (19/07) tornou-se visível um conflito: na linha de frente do ato posicionavam-se (além dos manifestantes) coletivos de mídias alternativas, autônomos e outras lentes focadas não apenas para ações da polícia (policiando quem nos policia) como também para lentes das mídias corporativas que registram – cautelosas nas ruas, agressivas nas redações – todos os atos do movimento e fazem o uso de manobras a fim de favorecer interesses políticos e econômicos ou são sitiadas por um modelo cristalizado de se fazer jornalismo no país.
Desde o início das manifestações, temos observado ecoar nas ruas a busca por uma imprensa efetivamente comprometida com a comunidade, uma mídia que forneça a denúncia contra ações que ferem brutalmente direitos da sociedade e um jornalismo livre do coronelismo que assombra este estado. Esta busca toma forma nas veias de Natal, nos gritos de movimentos sociais e nos questionamentos durante o labor da imprensa oficial nos atos. A ótica dualista da imprensa monopolizada em busca de encontrar culpados e eleger vítimas está fadada a uma ruptura com o modelo midiático tradicionalista.
As manifestações atuais no país configuram uma nova disputa pela conquista de autonomia, democracia direta, pluralidade ideológica em movimentos, democratização da mídia monopolizada e apontam para construção de mídias alternativas, coletivos e o favorecimento de ações diretas em que o movimento busca realizar seu fazer político por si mesmo e luta contra a dominação de um território tomado ainda por diversos mecanismos de poderes.
A ocupação de territórios midiáticos e a construção de mídias alternativas que dialoguem diretamente com a comunidade e com os interesses sociais atuais devem agir constantemente como forma de resistência e ressonância da liberdade de expressão em favor da construção de um pensar crítico que busque garantir um empoderamento social, poder popular: plural e direto.
“A organização comunitária, quando não é financiada por aqueles que estão no poder, é tida como forma de agressão ou subversão. A confiança no tratamento institucional torna suspeita toda e qualquer realização independente.”
Ivan Illich – Sociedade sem Escolas