A candidatura de Josivan Barbosa à prefeitura, uma das melhores possibilidades de afirmação política do PT em Mossoró, passou a ser torpedeada, de forma nem sempre aberta e leal, por adversários internos. Isso é absolutamente lamentável. Até porque não é nenhum desatino a posição de quem é contrário a tal aposta política. Não acho que seja natural a candidatura própria em todas as situações. Cada caso, repitamos aqui uma máxima do impagável Conselheiro Acácio, é um caso.
Mas, como nos ensinou velho e tão citado mestre, em cada realidade devemos nos perguntar o que está (e o que não está) em jogo. O que não está em jogo nas próximas eleições, sejamos francos, é a sustentação parlamentar da Presidente Dilma. Quem duvida, analise o caso do PR. Saiu pelas portas dos fundos, humilhado, da ambicionada pasta dos Transportes. Em revanche, anunciou que se somaria ao exército da oposição. Passados meses, continua dando força e votos ao governo.
Voltando ao foco. É mais do que óbvio que o PSB vai forçar a barra para garantir apoio às suas candidaturas. E não apenas em Mossoró. A sua direção sabe que o jogo de 2012 é o de armar as cartas para o grande jogo de 2014. Até na oposição, o jogo é assim. PSDB, DEM e PPS, por mais semelhanças políticas e ideológicas que cultivem (ou, para sermos críticos, sejam obrigados a cultivá-las), sairão com candidaturas próprias em muitas cidades.
Ora, reforçar a identidade de cada ator político é o que a arena de 2012 possibilita. Em 2008, quando o PT apoiou Larissa Rosado não era assim? Claro que era! Mas, naquele ano, valei-me Santo Acácio!, o momento era bem outro. O PT estava arrumando as peças para um incerto jogo: a costura de uma base política para o projeto de garantir um dos seus na cadeira de Lula.
Agora, o quadro é bem outro. Dilma não enfrenta, nem de longe!, os solavancos parlamentares de Lula. Demite ministros aos montes e o faz sem ter que se submeter às concessões do Lula. Por que é mais dura e ética do que o seu antecessor? Conversa fiada! Quem afirma esse lugar-comum, sejamos diretos, faz tudo, menos análise política. Dilma faz o que faz porque… PODE. E PODE porque a sua base de sustentação é mais sólida do que a do Lula. Não está, portanto, submetida a injunções momentâneas, como eleições municipais. A máquina azeitada garante muito, é certo. Mas não tudo. A força da Presidenta advém também, e isso ninguém fala, do fato que, com exceção exatamente do PSB, não há nenhum projeto político, no momento, que coloque em risco a sua hegemonia.
A eleição em Mossoró é só de um turno. Sim, e daí? Serão sob essas condições que as eleições ocorrerão na maioria dos municípios brasileiros, ora. Obviamente, em muitos municípios, onde já participa das gestões ou nos quais construiu uma sólida aliança em momentos pretéritos, o PT apoiará candidatos de outros partidos. Perde na afirmação do seu projeto partidário, mas soma forças para embates futuros. Há ainda situações onde a polarização justifica o apoio a uma candidatura, mesmo com a qual não se tenha afinidades políticas, para derrotar uma outra, claramente oposta à primeira.
Ora, o embate entre as candidaturas do bloco de Rosalba/Carlos Augusto Rosado e Larissa/Rosado será mesmo o confronto de forças radicalmente opostas? É necessário gastar muita saliva e fazer bastante ginástica verbal para sustentar tal posição política.
Para o PT, não apenas no RN, mas em todo o Nordeste, dar primazia à aliança com o PSB é fortalecer um projeto que se pretende (e esta é uma pretensão bem legítima, diga-se de passagem) alternativo ao seu. E não só. Alternativa até à Presidenta Dilma. Ou alguém aí acha que o Governador Eduardo Campos deixará de pular no barco de Aécio Neves, se isso for mais conveniente para o seu partido em 2014?
Há ainda um argumento bem caviloso: o de que o apoio à candidatura de Larissa pode levar a uma derrota do DEM no seu berço. Ora, ora, uma derrota do DEM em Mossoró apenas alterará a correlação de forças no seio do bloco Rosalbista. O único resultado mais palpável dessa derrota seria que os Alves se fortaleceriam mais ainda. Somente isso. Do ponto de vista do jogo para 2014, isso significa muito pouco. Algo como trocar seis por meia dúzia.
A candidatura própria, em Mossoró (e, mais ainda, em Natal) é uma imposição da disputa politica. DISPUTA POLÍTICA, repitamos. Não da disputa eleitoral.
Mossoró não é Itararé, a cidade da batalha que não houve. A disputa entre os dois grupos do mesmo ramo familiar não pode ser a base para que o PT local trave uma batalha por algo que não está em jogo. A candidatura própria é um projeto difícil, por certo. E arriscado também. Mas é uma possibilidade que, desperdiçada, pode resultar em prejuízos políticos de longo prazo.