Tribuna do Norte
Alípio de Souza, sociólogo
Quais consequências podemos esperar dos atos que estão acontecendo em algumas cidades do país?
A consequência mais importante é que o Brasil não será nunca mais o que foi até aqui. Algo de novo debaixo do sol do Brasil está acontecendo. Pela primeira vez, terá fim a mitologia verde-amarela do país de povo ordeiro, pacífico, alegre com tudo, amante de futebol, carnaval e que não se importa com política, com participação. As manifestações mostram um outro povo: se gosta de futebol, não se deixa mais alienar com ele, protesta contra o próprio uso do futebol quando isso implica em desvios de recursos públicos que poderiam ser aplicados em áreas carentes, políticas que são esperados há tanto tempo. Outro mito que cai é o de um povo não-violento. A pulsão violenta do movimento, e esta há e é autêntica em seus atos, mostra que se sabe também agir violentamente para expressar o ódio ao desprezo pelos mais pobres, às exclusões sociais.
O que esperar do ato de hoje em Natal?
Espera-se um grande ato, com muita participação. E espera-se que seja pacífico. A pulsão violenta e incontrolável do movimento é imprevisível.
Qual deve ser o posicionamento do Governo?
Os governantes devem, primeiro, orientar as forças policias a atuarem sem violência. Atuarem não para reprimir o movimento, mas para assegurar a manifestação. Segundo, já deveriam ter chamado reuniões de negociação com representantes do movimento e da sociedade para atendimento das reivindicações e discussões sobre os assuntos que estão sendo pautados. Fechados em seus gabinetes, os governantes, em todos os níveis, aumentam a ira dos manifestantes. Não sem razão, imagens nacionais mostram manifestantes agindo para entrar nos palácios do poder. Um ato que deveria ser interpretado como as pessoas dizendo: esse lugar é também nosso. Queremos que nos escutem. A mesma mensagem serve para os políticos e parlamentares: e é assombroso o silêncio destes. Não se pronunciam e não se colocaram, até aqui, como negociadores, intermediários, entre movimento e governantes.