Por Terezinha Barreiro
Em volta a queixas, dores, maus tratos e sangue, novamente vemos “o povo”, nós mesmos, dizendo NÃO a tudo aquilo que nos indigna, fere, abusa e tira. Um momento que se espera não seja apenas um segundo, minuto, hora ou dia e sim uma constante e persistente expressão e atuação de direitos sobre aquilo que é devido e tem sido minado ano após ano, governo após governo.
De um lado um governo comilão, gordo e insaciável, devorando tudo que vê, desenvolvendo ideias miraculosas de como e onde conseguir mais e mais sobre seu povo, sua gente, vistos como discípulos e marionetes. Homens truculentos agindo como carrascos sobre pobres e mal alimentados brasileiros, munidos de argumentos de obras favoritivas e de melhoramento, expansão de estádios de esporte tentando convencer os outros o quanto somos ricos. Projetos de financiamentos de casas que, em geral, são mal feitas e/ou erguidas em favelas, que hoje são chamadas de comunidades, como se toda rua, bairro ou cidade não fosse uma comunidade também. Hospitais que se resumem apenas a prédios caídos onde pouquíssimas pessoas vestindo branco cruzam com muitos vestindo sangue a espera de milagres, como se o povo trocasse a igreja pelos bancos de um hospital e santos por médicos. Propostas indecentes de educação e cultura são feitas em prol do próprio governo, usadas como logotipos e logomarcas para umas e nem isso para todas as outras escolas que hoje subexistem e professores são apenas voluntários que recebem “ajuda de custo”, pois só o governo chama de salário aquilo que “doam” aos professores no fim do mês. Impostos altíssimos sobre nossos próprios produtos, inalcançáveis para a maioria, onde um tomate ganhou repercussão nacional e internacional, roubando a cena da verdadeira situação calamitosa dos alimentos, justo num país onde ainda é considerado o “celeiro” do mundo, e onde um dia foi dito “nessa terra, em se plantando tudo dá” (Pero Vaz de Caminha)
Caos, desordem, multidão, policiais, paus, pedras, tiros, cassetete, pimenta e revolta no ar. Uma visão complexa de uma simples equação elaborada nos primórdios do mundo e que só viram manchetes pelo despreparo de todos, principalmente dos que assistem pelos meios de comunicação (manipuladas, também, pelo governo). O perigo mora ao lado, como nos filmes, pois aquele que assiste é aquele que apenas critica ambos os lados, sem nada fazer a não ser votar de novo e de novo nas mesmas pessoas e se sentir sempre, sempre vítima de todos, do povo e do governo. Que xinga o governo e condena a expressão popular sem nada fazer, comodamente sentados em seus sofás apontando erros sem dar conta de acertos, seja de que lado for. São os chamados “em cima do muro”. Talvez a posição mais perigosa dentre os conflitos atuais. Não mudam o sistema e ainda atrapalha quem quer mudar.
Despreparo do governo em ver seu povo reclamar e despreparo do povo em saber reclamar. É uma relação difícil, sempre foi, entre mandantes e mandados. Uma dicotomia nada nova, mas que sempre escandaliza quem não espera e dá força a quem faz.
O momento é do povo e para o povo. Nossos gritos são mais altos e nossas ações repercutem mundialmente. Por quê? Se o governo é manchete todo dia pelos seus feitos megalômanos? Deveríamos tornar isso mais frequente e elaborado para sermos mais fortes e pontuais quanto as questões impostas por governantes no abuso do poder e insensibilidade das necessidades e prioridades da nação.
O governo não se diz preocupado e se comporta de fora ditatorial e o povo não vai ceder. A polícia baixa pancada e povo picha muros e quebra o que vê, num desabafo saído na pressão de quem não aguenta mais.
A Copa do Mundo de futebol se aproxima e o povo, com sua paixão brasileira diz NÃO ao esporte pela primeira vez na história do país. Creio que agora os governantes (o povo) devem ser entendidos pelos governados.
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SOBRE A AUTORA:
Terezinha Barreiro é Escritora, Psicóloga Clínica, Analista Comportamental e Sexóloga