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Não é de pena que a prostituta precisa, mas de reconhecimento e cidadania

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Sempre desconfie do discurso que retira a capacidade de mobilização dos sujeitos porque, no fundo, o que se furta é o recurso efetivo que todo mundo tem de falar sobre suas angústias e necessidades, sem nenhum porta voz. Sim, as pessoas refletem sobre seu universo e não é necessário diploma universitário, ou tutela para isso.

ProstitutasA prostituta, por exemplo, não é “humilde” e “sofredora”, como um moralismo oportunista despotencializante (pseudo) bondoso tenta passar. A prostituta não é agente passivo, é portadora de direitos – que alias não são respeitados no Brasil. Se há uma classificação que lhe cabe é a de trabalhadora e que precisa de proteção do Estado como os demais batalhadores. Por que deveria ser diferente?

Porém, enquanto o grupo que atua no mercado de serviços sexuais procura o devido reconhecimento, os conservadores tentam lhes negar a existência, a sua possibilidade de construir um caminho. Prova é a campanha publicitária criada pelo governo federal para afirmar a condição cidadã da prostituta e depois suspensa pela pressão de alguns evangélicos liderados, dentre outros, pelo deputado federal Marcos Feliciano (PSC).

O retrocesso demonstrou sua pujança. Ora pintada como uma herdeira de sodoma e gomorra, ora como coitada; no fim, o resultado acaba sendo o mesmo – o direito a existência de brasileiras recusado. E não há nada mais sofrido, isto sim, do que a estigmatização, o assassinato social.

Permaneceu a institucionalização da hipocrisia da sociedade judaico-cristã, que aponta o dedo para as profissionais do sexo durante o dia e aproveita o que ela vende no período da noite. Continuou a subcidadania de alguns em detrimento da supercidadania de outros.

E em que pese pesquisas sociológicas já afiançarem que a prostituta não é suja, não é burra, não é uma transmissora de doenças, não é uma paranóica-tarada e, em muitíssimos casos, não ter sido obrigada a desempenhar sua atividade – está fazendo universidade, cuidando de sua família ou simplesmente tocando a vida do jeito que acha mais conveniente –, o obscuratismo ainda manteve a luz apagada.

Que o cartaz retorne e não esqueça de incluir homens, homossexuais, travestis, etc, que também são cidadãos e merecem respeito.