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Aécio, FHC e o (in)defensável

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As últimas semanas foram marcadas pela mudança de rota no discurso elaborado pelo presidenciável Aécio Neves. É que, ao contrário dos candidatos anteriores do PSDB, o hoje líder máximo do ninho tucano faz defesa aberta das gestões de FHC. E é aí que se encontra a celeuma. Para alguns, a estratégia é inócua. Pior: além de não dialogar com a geração mais nova, que não vivenciou os supostos ganhos proporcionados pelo seu companheiro de agremiação, contrai para si a inegável má avaliação fruto da política de privatizações e parcas aproximações com o “social”.

image_previewA crítica faz certo sentido. Por um lado, a estabilização inflacionária completa 20 anos e os mais jovens não se sentem ameaçados por um fantasma que nunca assombrou sua freguesia. Por outro, a visão de que Fernando Henrique governou para os ricos ainda gravita na consciência coletiva dos brasileiros. Marcos Coimbra, em sua coluna na revista Carta Capital, aprofunda o que foi dito acima (A herança de FHC: http://www.cartacapital.com.br/revista/751/a-heranca-de-fernando-henrique-3458.html). Porém, ao tratar a ação de Aécio Neves como sinônimo de “irracionalidade”, deixa de capturar o que leva o dito cujo a se mover na determinada direção, ou seja, perde de vista o que existe de racionalizável.

Há mais de um ano da eleição, quando pouca gente quer saber de 2014 – a não ser quem está diretamente implicado -, Aécio se preocupa em falar para “dentro” e não para “fora”. Ao retirar do armário a bandeira empoeirada do passado, o senador por Minas Gerais atua em prol de corrigir problema vivenciado pelos ex-presidenciáveis José Serra e Geraldo Alckmin – obter unidade partidária em torno do seu projeto. Resgatar o Brasil de 1994 à 2002 tem o sentido de reafirmar algo que integra gregos e troianos, o café e o leite: a teodiceia azul. E, em que pese o biquinho de setores serristas, o mineiro ingressa com um nível de consenso não atingido pelos derrotados em 2002, 2006 e 2010.

E Aécio Neves não mobiliza apenas os tucanos mais próximos. Ele traz para a campanha todos os possíveis militantes que vêem no PT um partido que surfou nos alicerces econômicos forjados pelo PSDB. Mais. O neto de Tancredo também atende a um clamor da imprensa, em especial, a que asseverou e ainda protege com unhas e dentes o legado fernandista.

No texto “Em defesa do governo Fernando Henrique (http://www.imil.org.br/artigos/em-defesa-do-governo-fernando-henrique/), Carlos Alberto Almeida, articulista do Valor Econômico, mostra, nesse sentido, uma irritação significativa. No calor pós-eleitoral da vitória dilmista, Almeida expele todo o seu ressentimento – que na minha hipótese não é apenas dele – em relação a Serra, por ele, mais uma vez, ter escondido FHC e envergonhado o PSDB enquanto partido que ajudou a construir o Brasil.

Por fim, Aécio também joga para os seus possíveis financiadores de campanha, já que “legado FHC” foi sinônimo de muito dinheiro no bolso de uma elite, que se beneficiou com os juros altos, desemprego estrutural e salários bem mais baixos do que os praticados contemporaneamente.

Penso que é esse diálogo que Aécio quer, neste momento, estabelecer. Depois de aplacar os revoltosos e/ou desconfiados em seu próprio teto, começará – acredito – suave alteração de rota dialógica. Tal análise me parece ser mais coerente do que insinuar que o PSDB não está fazendo sondagem de opinião, como salientou o diretor do Vox Populi Marcos Coimbra.

VIÉS

Além de não procurar compreender para quem Aécio sinaliza, o sociólogo Marcos Coimbra também absolutiza – no sentido de naturalizar – a sua inserção no campo político. Para ele, que é analista e consultor, faz todo o sentido já refletir sobre as condições eleitorais. No entanto, o momento ainda não é de “caça ao voto”.

Marcos Coimbra universaliza a sua aproximação com a eleição, que não é, nem de longe, a do eleitor médio. Não tão distante do pleito. Por enquanto, este último quer saber de pagar suas contas, encher a geladeira e programar o lazer do final de semana. Eleição? Fica para o ano que vem.