Carta aos amigos Cezar Alves e Ivenio Hermes
E é essa mesma cantiga em todo RN, caros Cezar Alves e Ivenio Hermes.
A Secretaria de Segurança de São Paulo divulgou ontem os números de seus homicídios até o final de Abril. Foram 1500 homicídios em todo o Estado de SP. Na Capital, 400.
Mossoró com essa penúltima notícia que você nos passa (penúltima porque é bem capaz, infelizmente, de você já estar digitando a nova penúltima notícia de morte matada em Mossoró e arredores…), já deve estar com 77 homicídios cometidos em meio a uma população de 266 758 mossoroenses e acolhidos. Natal já vai com 213. Ante uma população de 817.590 habitantes.
No nosso RN velho de tantas mortes, já ultrapassamos os 567 homicídios, pelo menos, imersos numa população de 3.228.198, dados também do IBGE. E sem a publicação pela SESED dos assassinatos ocorridos no dia 24 de Maio.
Isso deveria preocupar de maneira empreendedora, a Governadora e seu esposo, a bancada federal, a Assembleia Legislativa e as Câmaras Municipais, porque, claro que nominalmente 213, em Natal, até 24 de Maio estariam longe de 400, de São Paulo, capital, até Abril; Os 567 homicídios, pelo menos, até 24 de Maio, no RN, distariam dos 1500 homicídios cotejados em todo estado de São Paulo até o final de Abril.
Nominalmente, pode parecer e, se brincar, escribas de aluguel e a propaganda governamental, ainda são capazes de dizer que moramos numa Suíça tropical. Eu não duvido nada, principalmente depois da reiterada análise de que a guerra civil de Mossoró é atribuída pelo Establishment ao presídio Federal ou a Beira-Mar.
Na verdade estes números parecem escandalizar cada vez menos pessoas e pouquíssimas autoridades em meio à crise de desgovernança maior de que se tem notícia na história da terra de Poti.
O gigantismo dos números do estado de São Paulo e a preocupação que os atuais números estão causando naquele estado, talvez façam nossa sociedade acordar para mais um dia em meio à guerra civil, com propósitos de construir a paz. O que só seria possível com um mínimo ranço de humildade do governo em convocar a sociedade civil e pesquisadores para a construção de uma ambiência restabelecedora da coexistência pacífica dentre nós.
Em resumo o que eu queria dizer, indo ao encontro do que sempre dizes aguerrido Cezar Alves, na boa companhia de Ivenio Hermes, é que esses números deveriam preocupar, escandalizar e tirar o estado do RN da sua paralisia administrativa e do corolário de intrigas politiqueiras em que se tornou, não com debates nos parlamentos e fóruns, mas em convescotes de suas elites que se habituaram nos colóquios em batizados, enterros , casamentos e solenidades.
Natal com 213 homicídios, pelo menos, até 24 de Maio de 2013, não está tão distante dos 400 homicídios de São Paulo, capital, nominalmente. Os matemáticos podem nos aproximar da realidade, contrastando os números de Natal, Mossoró e do RN com os do Estado e da capital de São Paulo. Nossos números de homicídios 77, 213 e 567, em Mossoró, Natal e no Rio Grande do Norte, ocorreram, respectivamente, numa massa demográfica de 266 758 moradores de Mossoró, 817.590, de Natal e nos 3.228.198 de habitantes do RN.
São nossos números, parciais, de dores e de perdas e nunca deveríamos, na lição de John Donne, perguntar “por quem os sinos dobram”? Eles deveriam ser dobrados por toda a sociedade. Aquelas mortes por homicídios em São Paulo, acreditem, ocorreram no leito de populações que contam com 41.901.219 no Estado de São Paulo e 11.376.685 habitantes, na São Paulo, capital. Esses números de São Paulo e, sobretudo, os do Rio Grande do Norte, deveriam nos impulsionar a esforços para que o RN deixe de ser exterminador do presente e do futuro para um sem número de potiguares, como a garota de dois anos que teve sua vida tragicamente interrompida em Mossoró no fogo cruzado, ontem, entre contendores sem perspectiva de vida.
O primeiro passo necessário é empoderar a humildade e exercer o diálogo, não nos encontros sociais suso aludidos. Mas dotando o Rio Grande do Norte do Conselho Estadual de Segurança nos moldes do Conselho Nacional de Segurança Pública, onde gestores, policiais e representantes da Sociedade Civil iriam parir as políticas de que necessitamos para a superação desse tempo de trevas e de mortes.
Para o Brasil Mais Seguro poder render os resultados de que desesperadamente necessitamos, é mister a modificação dos critérios de velocidade e do modo de governança.
Nossa atual onda de Violência já é infinitamente superior a violência praticada em São Paulo e é a maior da nossa história. Ante a barbárie instaurada, a Sociedade começa a se movimentar civicamente, ou o governo reinventa-se ou terá outro desfecho melancólico, micarlizando-se. Trabalhadores Rurais, Estudantes, OAB, pesquisadores e humanistas em geral levantam as bandeiras humanizadoras que um dia foram içadas por Carlos Antonio Varela Barca, Jales Costa, Sabino Gentile, Pastor Machado, Silton Pinheiro e que precisam de uma interlocução que se transformem em políticas e que sejam transformadoras da triste realidade em que se encontra, sob todos os aspectos, o nosso RIO GRANDE DE MORTE, sem sorte e ainda sem NORTE.
¹Marcos Dionisio Medeiros Caldas é Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.