Quando a gente olha para a história do Brasil no fim dos anos 60 e início dos anos 70 sem muita dificuldade elaboramos a lista de organizações de esquerda que optaram por uma oposição armada à ditadura militar.
Em meu blog, falo muito sobre o PCBR no qual lutou meu pai. Mas posso citar o PCdoB e a Guerrilha do Araguaia. Não se pode esquecer da ALN de Marighella. E outras tantas organizações.
Mas o que a gente normalmente não conhece é a existência de movimentos sociais e políticos semelhantes em países como os Estados Unidos.
“Sem proteção”(“The Company You Keep”), novo filme dirigido e estrelado por Robert Redford, me apresentou ao Weather Underground, movimento radical que surgiu do Student for Democratic Society. Os partidos lutaram pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnam. Explodiram bombas em prédios públicos e realizaram assaltos a banco. No solo americano.
E você provavelmente não sabia disso.
Não pretendo escrever uma resenha sobre o filme de Robert Redford.
Após um fim de semana muito cansativo acompanhando o WebFor 2013 e recebendo amigos de Natal para o evento, estava no Shopping ontem quando me arrisquei a assistir um filme que tinha Redford no elenco. “Robert Redford é sempre garantia de muita reflexão”, pensei, apesar de o cartaz nos enganar e fazermos pensar que o filme é apenas mais um de ação.
O filme conduz duas linhas reflexivas importantes para mim.
A primeira, a jornalística. Recomendo fortemente que todos os estudantes de jornalismo, especialmente meus alunos, assistam o filme e acompanhem a história sob a perspectiva do personagem Shia LaBeouf. Questões técnicas, éticas, profissionais e do negócio da imprensa, que temos discutido em sala de aula, aparecem no filme de forma clara.
A segunda, a militante. O filme nos convida a olhar os movimentos sociais de juventude que varreram o globo a partir do fim dos anos de 1960 – e a partir deles, nos convida a refletir sobre os movimentos contemporâneos. Da Primavera Árabe ao Occupy Wall Street, passando pelo #ForaMicarla e a #RevoltadoBusao. E me fez pensar em como a informação, na era da Internet, consegue ser ainda mais controlada hoje do que há quarenta anos. O campo midiático escondeu de tal modo os movimentos contemporâneos, os igualou em boa parte dos lugares a vandalismo e crime, que você pode imaginar que dois anos depois tudo cessou.
Haja controle.
No campo militante podemos descobrir que os processos de criminalização – e repressão – dos movimentos sociais são se diferenciam muito aqui no Brasil ou nos Estados Unidos.
Para alguns personagens do filme, o conformismo e o abandono das lutas é resultado do amadurecimento. “Viramos nossos pais”, diz o protagonista em um diálogo.
Um outro personagem critica os antigos militantes que transformaram sua luta em ganha pão, acadêmico e profissional. A luta se transformou em objeto de análise. E os alunos aplaudem bastante quando ele, o ex-militante professor, conta isso em sala. Depois, partem para o Facebook e esquecem tudo o mais.
“Sem proteção” conta a história americana do Weather Underground e do Student for Democratic Society, mas podia estar contando, na verdade, uma parte de nossa história.