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Cisne Negro

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Darren Aronofsky tem uma carreira impecável, mesmo que alguns achem A Fonte da Vida (The Fountain, 2006) fraco. Desde Pi (1998), passando pelo perturbador Réquiem para Um Sonho (Requiem for a Dream, 2000) e seu penúltimo filme O Lutador (The Wrestler, 2008, filme ao qual ele faz uma digna homenagem a Mickey Rourke), ele mantêm um nível de qualidade constante e que geralmente surpreende. E mais uma vez é exatamente isso que ele faz: surpreender-nos de uma maneira que vale cada segundo diante da exibição de Cisne Negro.

Natalie Portman faz Nina, uma bailarina obcecada pelo papel duplo no famoso balé O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.  Entretanto, sua personalidade de menina casta e superprotegida pela mãe (uma bailarina frustrada que sobrecarrega a filha com suas próprias frustrações) se ver na obrigação de assumir uma personalidade oposta para ser escolhida no espetáculo que exige que ela assuma não apenas o “cisne branco” da obra, o que condiz mais com ela com seu aspecto de menina bem comportada, como também o seu antagonista, o tal “cisne negro” do título. No entanto, esta pressão faz com que ela libere algo que está acima do seu controle, levando ela (e nós mesmos) a não saber mais o que é ou não é real, e tudo isso em nome da perfeição artística.

Nina é uma mulher presa a um cotidiano que não permite que ela amadureça como tal, impedindo o natural desenvolvimento da sua própria sexualidade, obcecada pela sua carreira de bailarina e enclausurada no universo claustrofóbico que sua mãe criou em torno dela. Seu quarto ainda é o típico quarto de uma menina, com bonecas e bichinhos de pelúcia. A sufocante presença da mãe é denunciada, dentre outras coisas, pelas portas do banheiro e do quarto que a mãe não permite serem trancadas por dentro pela filha, impedindo que a mesma tenha o mínimo de privacidade. E se de um lado sua mãe a mantêm como uma eterna menina, inocente e submissa, por outro o diretor do balé tenta despertar a mulher presa dentro de Nina. Desta forma, o cisne branco e o cisne negro do espetáculo talvez sirvam como metáfora da dualidade conflitante da protagonista. Um conflito que aumenta ao longo do filme, potencializado pela obsessão da personagem pela perfeição.

Entretanto, mais do que tudo, Cisne Negro é um filme de arte sobre os extremos da arte. Um misto de David Lynch com cinebiografias de artistas que deram tudo, a vida, o sangue e até a sua lucidez, em nome da arte. Além do mais, é um filme de Darren Aronofsky. Neste filme ele retorna as personagens obcecadas que formaram a fonte narrativa da sua carreira, como, por exemplo, o perturbado protagonista de Pi. Assim, na sua acertada escolha para fazer a protagonista deste Cisne Negro, nada mais adequado do que escolher Natalie Portman para tal. Sempre talentosa, neste filme ela está na sua melhor forma, o que mostra que é mais do que merecido sua indicação ao Oscar deste ano. Desde sua estréia como a menininha que quer ser assassina profissional e vingar a morte do irmãozinho no O Profissional (Léon, 1994), de Luc Besson, ela tem feito papéis bastante variados, mostrando uma bem sucedida versatilidade. Sua interpretação em V de Vingança (V for Vendetta, 2006), por exemplo, é um desses momentos em que todo o seu talento é posto a prova, assim, como neste Cisne Negro, ela emerge como uma grande atriz que grava sua marca na história do cinema.

Título original: (Black Swan)

Lançamento: 2010 (EUA)

Direção: Darren Aronofsky

Atores: Natalie Portman, Mila Kunis, Winona Ryder, Vincent Cassel.

Duração: 103 min