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Hollywood – uma máquina de refazer filmes

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Refilmagens desnecessárias, busca desesperada por franquias milionárias (que refletem na falta de uma ousadia criativa descompromissada com o retorno financeiro), dentre outros prováveis motivos comercias e culturais, fazem do cinema norte-americano uma fábrica que não cria, mas recicla filmes numa profusão que denuncia a falta de criatividade patológica que contamina de forma epidêmica os estúdios hollywoodianos nesses últimos anos. Por isso, não  deveria ser supressa se deparar pela internet com uma das primeiras fotos do novo filme do Homem-Aranha. Quando li, algum tempo atrás, a notícia de que iriam re-contar a história do aracnídeo estadunidense, eu pensei: “deve estar havendo uma epidemia de bloqueio criativo em Hollywood”.

Mal terminamos de ver a trilogia do herói assinada pelo diretor Sam Raimi, na expectativa pelo quarto filme, quando é anunciada uma nova franquia, uma nova versão do super-herói norte-americano para o cinema. E isto foi divulgado na mesma época, aproximadamente, em que anunciaram a refilmagem de outros super-heróis da Marvel (mas com os direitos sob o domínio da Fox), o Quarteto-Fantástico, após o fiasco de duas sequências medíocres. Também parece ter sido a época do anúncio das refilmagens, desta vez nos moldes norte-americanos, do excelente filme sueco Deixe Ela Entrar (Lat Den Rätte Komma In, 2008), seguido pela divulgação da refilmagem do seu conterrâneo Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Män Som Hatar Kvinnor, 2009). E outras tantas refilmagens que já estavam em produção e outras sendo exibidas na época (Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers, 1978), por exemplo, na sua quarta produção, desta vez renomeada apenas como Invasores (The Invasion, 2007)).

Se não me engano, embora Hollywood sempre fosse chegada numa refilmagem, esta nova onda de reciclagens cinematográficas começou, mais ou menos, a partir da decepção com Hulk (2003) de Ang Lee, re-filmado em 2008 por Louis Leterrier, o que faz parecer também que as refilmagens atingem bastante esse tipo particular de cinema: a adaptação de quadrinhos de super-heróis (o que não é supressa, já que este tipo de entretenimento cinematográfico tem dominado o cenário dos blockbusters hollywoodianos nos últimos tempos). Por exemplo, até o próprio Homem de Aço de Bryan Singer parece ter acompanhado a mesma decepção que a versão de Ang Lee para o Hulk causou; assim, em 2012, está previsto uma nova versão do Super-Homem, não mais na mão do diretor Bryan Singer que, assim como Ang Lee, deve ter decepcionado muito os produtores, estes, por sua vez, sempre sedentos por franquias milionárias bem sucedidas (como o Batman de Christopher Nolan ou o Senhor dos Anéis de Peter Jackson).

O que tudo isso indica, além da falta de criatividade, é a busca desesperada por franquias cinematográficas milionárias, onde através de uma seqüência de filmes (geralmente, trilogias) e um viral merchandising se possa lucrar muito, explorando o máximo que puder de personagens como os super-heróis norte-americanos; ainda a incapacidade do norte-americano parece ter de ler legendas, fazendo com que muitos filmes estrangeiros, embora impecáveis em roteiro e direção, sejam re-filmados segundo os moldes estadunidenses, com atores americanos, e, às vezes, mudando até o cenário e as referências culturais para serem mais facilmente aceitos pelo público.

Entretanto, muitas dessas refilmagens se mostram como o “feitiço que vira contra o feiticeiro”, pois, além de se mostrarem desnecessárias (às vezes, nem mesmo alcançando o retorno financeiro que os produtores pretendem com tal refilmagem), são aquém da obra original (salvo raras e definitivas exceções como o Batman de Christopher Nolan). Invasores de Corpos (1956, 1978, 1993, 2007) é um exemplo bastante peculiar disso, filmado quatro vezes, a melhor versão é considerada a segunda, de 1978, com Leonard Nimoy. As outras duas seguintes se mostram piores do que a outra, sendo a última de 2007, com Nicole Kidman no elenco.

Outra refilmagem em andamento é Conan, o Bárbaro (1982), personagem criado pelo escritor Robert E. Howard, adaptado, por um longo e fértil tempo, pelos quadrinhos da Marvel Comics e imortalizado no cinema por Arnold Schwarzenegger. São poucos os diálogos no filme, e nem mesmo precisava de muitas. Pois, os vários momentos de silêncio e da ação foram maravilhosamente preenchidos pela inesquecível trilha sonora de Basil Poledouris. Acredito que, de modo algum, essa refilmagem irá ofuscar o brilho da versão original, pois, por mais tecnicamente superior que essa nova versão seja, o filme de 1982 se destacou por uma mistura de elementos quase impossíveis de se reproduzir hoje. Afinal, a união do diretor e roteirista John Milius e o roteirista Oliver Stone, mais a música de Basil Poledouris, como citado acima, e ainda um truculento Arnold Schwarzenegger, na sua melhor forma, fizeram desse filme uma das melhores adaptações dos quadrinhos e da literatura. E, neste caso, a tecnologia de hoje pode, provavelmente, mais atrapalhar do que contribuir para uma versão a altura do original.

Mesmo assim, em meio a essa onda de tantas refilmagens, ainda surgem versões interessantes e até mesmo geniais como o Batman de Christopher Nolan (Amnésia (Memento, 2001), A Origem (Inception, 2010), que não deve ser considerado como uma refilmagem dos filmes de Tim Burton, mas uma forma nova, criativa e respeitosa com um velho personagem da historias em quadrinhos. E é justamente Christopher Nolan, dentre outros, como Darren Aronofsky (Cisne Negro, 2010), por exemplo, que mostra que, apesar de tudo, ainda existe um sopro criativo que nada contra a maré da mesmice hollywoodiana.