Membros e simpatizantes da #RevoltadoBusão fizeram plenária, hoje (17), no centro de convivência da UFRN.
Debate acalorado, muitos discursos, análises, discordâncias e propostas. Por fim, a construção de consensos sobre novos desdobramentos. Tudo conforme regra de uma arena de participação e tomada de decisão plural e que consagra a diversidade.
A questão a ser levantada não é essa – já que falar do caráter aberto da #RevoltadoBusão é chover no molhado -, mas denunciar que uma viatura do Bope rondou o entorno do centro de convivência no instante da reunião.
Além disso, policiais pediram à UFRN cópia dos vídeos da sua segurança interna, para supostamente identificar manifestantes.
Óbvio que a UFRN não vai passar a gravação. E os policiais sabem disso.
Então, por que a medida? Por que cercar estudantes? Falar em vídeo? Ora, para criar clima de medo e frear o movimento de maneira covarde e intimidatória.
Não quero negar o conflito. A democracia não o rejeita. Enquanto forma de governo e regime de relacionamento social, ela traz diferenças para um espaço de disputa. Porém, se trata de conflitos de interesses, de pontos de vista e a #RevoltadoBusão luta legitimamente por direitos e questiona – põe em xeque – cenário de conservadorismo social e atraso político.
Arestas devem ser aparadas pela edificação de significados – não da truculência -, que se tornarão, pela via democrática, intersubjetivamente compartilhados.
O movimento social, que não é apenas de estudantes como tenta passar parte da imprensa que teima em desinformar, cumpre, enfim, função civilizatória. Não na sua acepção colonialista. Entretanto, no desejo de refundar o que significa igualdade na aclamada – no estilo acrítico bobo alegre – “cidade do Sol”, na terra de poti.
Cabe ao(s) poder(es) pressionado(s) elaborar uma resposta de argumentação, de relacionamento com as demandas levantadas. Assim se constrói e fortalece uma sociedade preocupada em se aproximar sucessivamente – e de modo ininterrupto – do bem comum.
E – vale escancarar! – não é só um aumento (o que já é muito). É o direito à cidade.
Não é apenas uma licitação. Mas a intransferível responsabilidade de arbitrar sobre a própria sorte, sem heteronomias.
No entanto, no momento em que um braço do Estado utiliza da agressão psicológica, do terror para amendrotar, esse Estado (e sua polícia) perde completamente a validade.
Um governo que interage com cidadãos pela pressão, pelo terror é totalitário.
E uma polícia que substitui o diálogo pela violência é fascista.
Mais. Mostra que é uma corporação que teima em viver olhando para 68. Não o francês. Mas o brasileiro.
Na prática, essa rivalização alicerçada numa antidemocracia desavergonhada só fortalece o sentimento de indignação dos estudantes, sindicatos, simpatizantes, cidadãos, em suma, da sociedade natalense. Repito, tais atitudes são um tiro no pé: da polícia, do governo do estado, da prefeitura, no pisante do Seturn.
Ora, a estratégia é idiota porque produz um ataque desnecessário (ou imprescindível para manter o atual modelo) contra o cidadão por parte da polícia, que deveria lhe servir e não atirar contra ele. Continuam tentando apagar incêndio com gasolina. Reproduzo a indagação de um opúsculo anterior: será que vai dar certo?
Não é possível encerrar este texto sem fazer uma ressalva para os que lideram a querida Universidade Federal do Rio Grande do Norte: a UFRN enquanto organização autônoma em relação ao governo do RN precisa se manifestar sobre os outros e mais este absurdo porque, agora, sua imagem foi diretamente atingida. Caso contrário, o bope invadirá o espaço do saber, da diferença, das mestiçagens, a universitas – contexto fomentador do universo de conhecimentos -, para praticar desmandos. O precedente é perigoso. Já ocorreu no passado. Não devemos nos esquecer, nem muito menos subestimar. Cheira a DOI-CODI.
PS. UFRN é terreno da União. Bope não pode entrar lá. Sua entrada, sobretudo nas condições dadas, é absolutamente ilegal.
Vídeo gravado no momento em que o bope apareceu:
https://www.facebook.com/photo.php?v=574557049251541