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Feliciano venceu

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Não sei se a estratégia utilizada pelos críticos de Feliciano foi a mais correta. Se a gente conversar com pessoas evangélicas, grupo no qual, de fato, o líder de uma igreja constituída está preocupado em apresentar uma resposta e se legitimar, fica a conclusão de que ele saiu mais fortalecido e não o inverso.

feliciano-abreA consequência não intencional da ação é tão objetiva que ele, além disso, recebeu o apoio de outros líderes religiosos, se posicionando dentro do campo religioso com uma pujança política que talvez não gozasse antes dos episódios que se sucederam nos últimos meses.

No fim, acredito que ele soube muito bem canalizar as justas críticas em relação ao seu discurso homofóbico e segregador de direitos como uma cruzada de “hereges” contra o já “perseguido” povo protestante (ouvi falas de um amigo pastor defensor do deputado federal do PSC sobre as narrativas bíblicas de ataques aos cristãos e que as gravações contra o seu colega de profissão foram todas manipuladas por quem não aceita Deus e seus preceitos).

A disputa trás algo que é crucial para se pensar as atividades em que existe combate – nem sempre a intenção que motiva um agente ou mesmo um movimento social gera o resultado almejado. Quando se desconsidera a lógica dos interesses e crenças em jogo, não raro universalizando um ponto de vista e subestimando a visão diversa dos outros envolvidos, a “paulada” dada num terceiro só o deixa em situação mais confortável.

Feliciano não precisa ganhar a mente e o coração de todos, mas como disse, apenas daqueles que representa. Até porque atua numa casa legislativa que segue a noção de proporcionalidade e não da maioria, como nas eleições majoritárias.

Por ora, Feliciano não apenas não saiu da presidência da Comissão dos Direitos Humanos, como também deve ter crescido entre o seu eleitorado.

A “culpa” se deveu em parte ao etnocentrismo dos movimentos sociais, que perderam de vista quem era o seu interlocutor e como este concebe o mundo. Esqueceram que o Marco Feliciano tem, sim, base social, quer seja agradável ou não aceitar essa verdade.

O Brasil é um país em que causas conversadoras ainda contraem muito prestígio. Marco Feliciano foi mais astuto em jogar com isso. Paradoxalmente, soube melhor do que os seus opositores utilizar o “senso de proporção”, milimetrando de modo prático os seus movimentos. Ao passo que quem deveria ser guiado pela razão se deixou levar pelas ineficazes correntes da emoção. O porta voz do atraso conservador e cerceador de vida plena para todos, independentemente de cor, condição de classe ou orientação sexual, pelo menos até aqui, ganha de goleada.

CONTRA-ATAQUE

A democracia produz o seu contrário, aquele que os federalistas liberais acertadamente tanto temeram. Através de meios legais, um ator político legitima discussões e a possibilidade de fazer valer regulamentações não democráticas, na medida em que atenta contra minorias. Com musculatura, Feliciano agora tenta aprovar projeto em que prevê o retorno da ultrapassada prática denominada de “cura gay”. Os movimentos sociais precisarão de uma pauta mais reflexiva para estabelecer novo diálogo com a sociedade.