O Fim da Rivalidade Notável
Por Ivenio Hermes
Propaganda de Manipulação
Numa clara homenagem a uma greve ocorrida no ano de 1886 na cidade de Chicago (EUA), o Brasil e vários outros países adotaram o dia 1º de maio como o dia do trabalhador. O rigor da manifestação foi declarado por milhares de trabalhadores que buscavam o direito de ter sua jornada de trabalho abrandada com menos cinco horas diárias. O que parece absurdo hoje era a realidade da época onde se trabalhava mais da metade do dia, ou seja, 13 horas, e tudo que se queria era a redução para 8 horas diárias.
Ainda sem organização fundamentada, os operários brasileiros somente se consolidaram em busca de princípios e leis sob a influência de imigrantes europeus que já possuíam esses conceitos bem firmados na Europa.
Somente em 1917 aconteceu a Greve Geral, paralisando o Brasil, sendo somente em 1924 que o Presidente Artur Bernardes decretou que o dia 1º de maio seria feriado nacional. Até o início da Era Vargas esse dia era utilizado para os protestos dos operários, com greves e manifestações como elementos marcantes.
A manipulação da propaganda trabalhista do Presidente Getúlio Vargas era muito hábil e usou esse dia para anunciar benefícios aos trabalhadores que logo passaram a se aquietar no dia que passou a ser conhecido como o“Dia do Trabalhador”.
A partir dessa propaganda, os protestos foram substituídos por comemorações e desfiles, ou como um dia extra de descanso para o trabalhador brasileiro.
Uso Indevido do Poder
Aos poucos as manifestações passaram a serem vistas como atos subversivos e caracterizados como atitudes desviantes de baderneiros e nesse ponto o Estado Soberano precisava intervir através do poder de polícia, que incorporava valores sociais para o estabelecimento da ordem pública que supostamente fora ameaçada.
O tão chamado Estado de Direito, definiu o poder de polícia como sendo a atividade administrativa que envolve o Estado na finalidade de impor limites e educar ao exercício dos direitos e das liberdades dos cidadãos. Essa foi a premissa necessária para a utilização indevida do poder de polícia.
Para impedir o povo do ato legítimo de se manifestar contra quaisquer ações administrativas dissonantes dos princípios fundamentais, o Poder Executivo passou a se utilizar o aparato policial. Dissimulando suas ações no uso proporcional da força, capaz de preservar a ordem pública, o atendimento aos valores mínimos inerentes da convivência social, destacando-se a segurança pública, a saúde, a dignidade e outros valores, o Estado Soberano jogou duas classes de trabalhadores uma contra a outra, iniciando uma rivalidade histórica que se mantém arraigada no conceito popular.
“Se comporta menino, senão eu chamo a polícia pra te prender”, “Cuidado com o policial”, “Se abaixa para o policial não te ver”, são exemplos das frases que as mães utilizavam para impor o comportamento aos seus filhos e esses começaram a desenvolver um medo sobrenatural dos homens uniformizados ou portadores de um distintivo.
O uso indevido do poder estragou uma relação que deveria ter se solidificado com base no princípio de proteger e servir típicos das carreiras policiais.
Relação Bipolarizada
A figura do policial embrutecido e de intelecto limitado a uma subserviência ao poder do Estado foi criada. Mais uma vez a manipulação estatal impunha alterações no tecido social quando jogava o policial contra a população descontente e estimulava o agente encarregado de aplicar a lei a agir com severidade e a conquistar uma recompensa por agir assim, a impunidade de seus atos. É o paradigma pavloviano determinando a conduta policial.
E assim, a mesma população que precisa recorrer ao serviço policial é aquela que teme a atuação do agente da lei.
O combate à violência, algo tão necessário atualmente, onde o clamor social exige politicas públicas direcionadas para uma solução, se confunde com a violência policial, tão presente nas manifestações populares.
A população indignada vai para as ruas contra o Governo que impõe regras injustas, que age com leviandade, que delapida o patrimônio público, que sobrecarrega seu povo com impostos para tapar o buraco dos rombos que ele mesmo faz nos cofres públicos. Contudo, esses protestos são propagandeados como arroubos de ilicitude e sua manifestação no espaço público da rua é considerada como caso de polícia.
Assim se sucedeu nas manifestações populares como o Fora Micarla; a Revolta do Busão e recentemente, no episódio da Carcaça Exposta, onde um manifestante foi preso por utilizar o cadáver ressequido de um animal como símbolo da falta de políticas para o trato com a situação da seca. Todos os casos são episódios potiguares recorrentes na atual administração do Estado.
A polícia novamente foi usada como massa de manobra para coibir o direito constitucional da livre manifestação.
O povo não sabe mais a quem recorrer.
Dia do Trabalhador
Se o dia 1º de maio ainda fosse palco de manifestações, como ficaria a relação da classe dos trabalhadores com a dos policiais? Importante notar que os policiais também são trabalhadores e nas suas manifestações precisam também do apoio popular, como o ocorrido no dia do Resgate da Polícia Civil/RN, onde os motoristas de ônibus, de veículos de passeio e pilotos de motocicletas, não se indignaram com o trânsito interrompido, pelo contrário, levantaram seu apoio aplaudindo e promovendo um “buzinaço” durante os minutos de paralização.
Seria sonhar muito querer que a alegria do crescimento mútuo pudesse engrandecer as relações sociais entre as diversas de trabalhadores?
É a união contra os administradores públicos desonestos que deve nortear as ações da sociedade civil. União contra quem promove construções de obras faraônicas para conquistar o enriquecimento ilícito, contra quem não respeita nenhuma classe trabalhadora,inclusive a dos policiais, com a imposição de uma carga tributária absurda, contra quem empreende ações enfraquecedoras das instituições policias com receio que elas venham a investiga-los e posteriormente prendê-los, enfim, contra todos que agem irresponsavelmente na Administração Pública.
Que esse dia do trabalhador marque uma nova era de cooperação entre os trabalhadores policiais e todas as outras classes. Que a rivalidade seja substituída pela aproximação amistosa, todos juntos em busca de lidar contra a opressão, a ferramenta maior do principal inimigo de todos.