Coluna publicada na versão impressa carta potiguar, n III
Há certos setores da esquerda, principalmente os mais radicais, que apresentam a histórica dificuldade de dialogar com um agente legítimo do capitalismo – o empresário. O “homem de negócios” ainda é visto com desconfiança por alguns herdeiros dos jacobinos. Uma visão mais moderada, no entanto, permite ir além dos particularismos para ressaltar a contribuição que o boss pode trazer para a produção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Friedrich Engels e Karl Marx, no “Manifesto do Partido Comunista”, abrem a impactante obra com uma ode ao que eles chamaram de “burguês” (neologismo de “burgo”, já que os primeiros comerciantes viviam em cidadelas assim denominadas nos entornos dos castelos). Os dois pensadores ficaram absolutamente impressionados com a capacidade desse personagem de revolucionar as forças produtivas, o nosso próprio modo de vida. É justamente este aspecto empreendedor que o empresário carrega – muito bem descrito pelo economista Joseph Schumpeter –, aliado a uma ética para o trabalho incessante forjada pela revolução cultural protestante, que não pode ser descartado, não deve ser desconsiderado.
É verdade que o empresário, muitas vezes, tenta restringir os problemas postos por uma comunidade aos seus interesses particularistas. Mas ele não é o único a desenvolver tal movimento. Nos conselhos gestores, nas audiências promovidas para discutir questões públicas associações, sindicatos e outros agrupamentos – igualmente legítimos – também procuram “defender o seu”.
E não há nada de errado em querer resguardar o seu ponto de vista e as consequências advindas dele. Alias, a democracia não nega o conflito nem muito menos a diferença. Pelo contrário. Ela tenta trazer a disputa para uma arena que está estruturada por regras claras de arbitragem. E com o desenvolvimento dos meios de como se deve jogar e incremento dos canais de participação, a formação de um horizonte compartilhado de práticas em prol do crescimento sustentável da cidade se torna cada vez mais vislumbrável.
É munida dessa possibilidade objetiva que a esquerda deve chamar o empresário para construir consensos, reformas inclusivas e produtoras de uma sociedade melhor para se viver. O percurso é longo, sempre inacabado e cheio de avanços e retrocessos. Mas infelizmente (ou felizmente?) ainda não inventaram outro caminho.
PLANO DIRETOR
A revisão do Plano direitor marcada para o ano em exercício poderia ser um bom momento para exercitar o que foi exposto acima. Não se trata de comprar in natura o projeto do Sindicato da Construção Civil de Rio Grande do Norte (SindusconRN). Mas de procurar, sem desconfianças, abrir linhas de reflexão.
INEGOCIÁVEL
Agora, sempre lembrando que princípios não se negociam. A geração de uma cidadania para todos deve iluminar a discussão e nortear o que vier a ser acordado.
ROMÁRIO
Muitos duvidaram de Romério na Câmara. O deputado federal eleito pelo PSB-RJ vem calando, porém, a boca de muita gente. Vítima de um preconceito semelhante ao sofrido por Lula – o de não ter um diploma de graduação –, o mágico da pequena área mostra que também tem desenvoltura na política. É hoje, talvez, o mais lúcido crítico da Copa do Mundo de futebol no Brasil e das questionáveis relações da Confederação Brasleira de Futebol (CBF) com agentes e negócios “desautorizados” pelas leis vigentes no país e até com a ditadura.
VOANDO
Verdade seja dita: a Carta Capital está voando. Muito melhor do que os demais periódicos semanais. Só a Piauí tem o mesmo nível, mas com outra proposta, outro tipo de público e relação com o tempo – ela é mensal. Época e Istoé precisam comer muito feijão com arroz. Veja eu não comento.
O QUE RESTA DA DITADURA NO RN
Primeiro, três delegados escalados para monitorar os participantes da chamada #RevoltadoBusão, movimento pacífico que pediu transporte público de qualidade e tarifa condizente com o serviço prestado. Agora, a formação de cadastro de militantes, conforme denunciou o jornalista Daniel Dantas. Fichar manifestante é o que resta da ditadura no RN.
#DITADURACIARLINI
O modo centralizador de administrar do governador de fato, o esposo da eleita Rosalba Ciarlini e chefe da casa civil Carlos Augusto Rosado, não incomoda apenas a oposição. Até os seus aliados começam a abrir o bico.
TODAS AS PALAVRAS NÃO BASTAM?
A nota emitida pelo PMDB é clara: a parceria com o DEM no RN é administrativa. Nada consta sobre apoiar a reeleição da rosa, como é chamada pelos bajuladores.
O CUSTO DA EXCLUSÃO DO PSD
O título acima foi retirado do artigo de Alan Lacerda veiculado em seu blog lordedaniel.blogspot.com. Para o professor do departamento de políticas públicas da UFRN, o afastamento de Robinson Faria da base rosada no RN gerou uma grande dependência em relação ao PMDB de Garibaldi e Henrique. Faz sentido!