Ataque no Dia do Patriota

Segurança Pública

16/04/2013

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Feridas na Tradição Esportiva

Por Ivenio Hermes

O Dia do Patriota

Em 19 de abril se comemora o Dia do Patriota num dos mais tradicionais Estados da região de New England (Nova Inglaterra) nos Estados Unidos da América. Nesse ambiente de patriotismo pelo qual os americanos são comumente lembrados quando, na maioria de seus filmes há sempre a ostentação da bandeira americana, como símbolo da soberania capitalista, a segunda maior corrida de longa distância ocorre todos os anos desde 1897.

A Maratona de Boston, como é conhecida, é a segunda mais antiga das maratonas e veio como resposta americana à maratona olímpica disputada pela primeira vez em Atenas 1896, sendo a de Boston a pioneira de todas as disputadas anualmente e sem interrupção desde que foi criada.

A prova era disputada no dia 19 de abril até 1968, data comemorativa do Dia do Patriota, o feriado que comemora o início da revolução americana contra o domínio inglês, cujo reconhecimento se dá apenas em dois tradicionais Estados americanos: Massachussets e Maine (que foi criado em 1820 sendo anteriormente a parte nordeste de Massachussets). Contudo, desde o ano de 1969, por questões logísticas, o feriado foi mudado para a terceira segunda-feira do mês de abril e com ele também foi modificado o dia da prova.

Nesse percurso desportivo, repleto da representatividade do patriotismo norte americano, tem palco a Maratona de Boston, a mais famosa e tradicional corrida de longa distância, recebe corredores de todo o mundo para disputarem seus 42,195 km, tendo sua largada na cidade de Hopkinton e sua linha de chegada em Boston, no Estado de Massachussets.

O Terror Renasce

Desde os ataques de 11 de setembro que os americanos se previnem contra situações como essa, contudo, o aparato policial envolvido na segurança da maratona não foi um das maiores já utilizados.

As ruas de Boston, cidade onde o evento termina e onde há a maior concentração turística, estavam livres para o tráfego de veículos e pessoas, e somente as tradicionais ruas foram fechadas para o evento. Não que isso fosse algo displicente, foi apenas algo decorrido das investigações preliminares dos órgãos de inteligência que não observaram indícios de ataques terroristas.

Entretanto, duas bombas foram detonadas às 15hs (horário local) perto da linha de chegada, havendo um intervalo de tempo entre elas e um espaço de quase trezentos metros entre as duas detonações. Algum tempo depois, outra bomba parece ter explodido dentro da biblioteca, algo que parece não ter relação, pois o prédio público estava fechado devido ao feriado.

Seria leviano descartar que a origem das explosões seria o terrorismo internacional, afinal, a prova percorre 42,195 km por ruas e estradas repletas de curvas nas rodovias estaduais 135, 16 e 30, todas elas cortando cidades e vilas até a chegada em Boston. A largada da corrida é realizada em ondas, ou seja:

Na largada inicial estão os atletas de elite e que tem maior velocidade;
Vinte minutos depois ocorre a segunda onda, onde estão grupos organizados e pré-avaliados para realizarem todo o percurso da prova. Nessa onda estão militares, grupos de corredores e representações de entidades esportivas locais;
Finalmente, quarente minutos após a primeira largada, sai a última onda composta por entusiastas, amadores e patriotas em geral;

O curioso é que as explosões só aconteceram cerca de três horas após os vencedores da prova terem cruzado a linha de chegada, inclusive, muitos corredores já estavam confortavelmente instalados em seus hotéis. Se houvesse a intenção de um grupo terrorista internacional de agir, eles perderam a oportunidade de chamar atenção na chegada dos dois pelotões principais.

A linha de chegada fica nas imediações da Praça Copley, ao lado da Boston Public Library, a biblioteca onde houve a terceira detonação. Nesse local estaria a maior possibilidade de atingir mais pessoas e realmente abalar as estruturas de segurança americanas.

Em diversos pontos das cidades cortadas pelo percurso, ou seja, Hopkinton, Ashland, Framingham, Natick, Wellesley, Newton, Brookline e Boston, havia concentração de pessoas para serem atingidas num ataque melhor orquestrado, impedindo até mesmo a continuação do evento.

De todas as formas, se o que houve foi uma ação terrorista internacional, ele não teve o rigor de um planejamento típico, pois nesse tipo de ataque, três mortos, cerca de 130 pessoas feridas, e 17 internadas em estado grave, é algo considerado como uma meta pequena.

Uma coisa é certa, o terror voltou a se instaurar no ego patriótico norte-americano.

O Medo Interior

Já levando em consideração a possibilidade de terrorismo doméstico, ou seja, oriundo de grupos ativistas de dentro dos EUA, ou ainda de atos inerentes de assassinos americanos, tipo seriais ou não, o Governo Americano não acionou nem a CIA (Central Intelligence Agency) nem o DHS (Department of Homeland Security), ambos geralmente encarregados quando se trata de terrorismo internacional. Ao invés disso, as investigações do atentado ficaram por conta do FBI (Federal Bureau of Investigation).

Como é natural nesse tipo de acontecimento desde a derrubada das Torres Gêmeas, o nível de segurança foi intensificado nas principais cidades-alvo, ou seja, Nova York e Washington (Capital).

O chamado incidente “aparentemente de explosões a bomba” recebeu a notoriedade natural que atentados recebem, inclusive com o pronunciamento normal de Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos, dizendo que ordenará a “resposta necessária” ao incidente.

Ed Davis, o comissário da polícia de Boston, ao se pronunciar sobre os fatos tratou-os sem alarde e citou a bomba da biblioteca presidencial John F. Kennedy, com apenas um evento “relacionado”.

As alusões a possíveis ações da Coreia do Sul são absurdas, pois são meras especulações geradas pela atual situação de animosidade entre os EUA e aquele país. O fato é que as aparências apontam para o terrorismo interno ou doméstico e até mesmo redes de televisão como a FOX News e CNN preferem descrever o fato como um incidente.

A Tradição

Os norte-americanos são tradicionalmente alvos de terrorismos e atentados, tanto de origem externa como de origem interna. Devido a isso tenham desenvolvido tecnologias e técnicas de segurança muito avançadas, contudo, nem esse desenvolvimento tem sido o suficiente para evitar massacres em escolas, atentados à bomba em ginásios e assassinatos em público.

O terror sempre tem encontrado um meio de inovar e driblar os mais avançados métodos e as tecnologias de ponta em matéria de segurança.

A tradição agregadora do esporte também deixou de ser tão inatingível. Já há algum tempo relatos de atentados nas celebrações esportivas deixaram de ser raros ou pouco plausíveis e o anteriormente sagrado espírito esportivo, tem sido atacado em nome de ideologias fundamentalistas e mentes desviantes.

O Brasil não é tradicionalmente alvo de ataques terroristas e isso não o isenta do risco potencial de futuros rompimentos nessa tradição. O Brasil antigo deu lugar a outro que está em constante evidência no cenário mundial. A política brasileira de manter-se neutro em algumas questões internacionais não o livra, pelo contrário, o suscetibiliza a ações de pessoas e grupos mal intencionados.

A fama de somente fechar a porta após o ladrão ter entrado é levada em consideração por quem quer usar o solo brasileiro e a fragilidade preventiva de nossas instituições de acordo com o interesse próprio. Aliás, essa prática já é comum nos crimes contra o patrimônio e o erário público e na falta de ação punitiva do Estado.

Resta aos brasileiros, no caso de Boston, apenas lamentar e rezar pelas famílias que tiveram perdas em vidas, danos físicos e mentais permanentes. Já no caso de cada estado da União, os brasileiros ainda tem a escolha de ficarem passivos ou de tomarem a atitude proativa de cobrar das gestões estaduais e federais, um melhor serviço de Segurança Pública e de obras executadas no tempo certo e utilizando realmente os recursos que lhe foram destinadas, em nome da segurança da sociedade civil e dos turistas que estarão no pais por ocasião do próximo grande evento que se aproxima.