Do Coletivo Leila Diniz
A visão naturalista, generalista das mulheres de Natal descrita no texto Feliz Natal, publicado porMárcio Nazianzeno, na revista Playboy, você pode ler o texto no link: http://playboy.abril.com.br/sexo/comportamento/feliz-e-natal/ , tem gerado repercussões nas redes sociais. O que era de se esperar, dado o teor machista, reducionista e preconceituoso com os quais o autor tratou de usar para descrever o comportamento feminino na cidade.
Ora, a ideia da natalense quente e que leva a vida de praia e curtição sexual é tão antiga, que mostra o despreparo e desconhecimento histórico de Natal pelo articulista. Lembram da Segunda Guerra Mundial? E da década 1980/1990, quando o governo divulgou imagens de Natal, com uma moça e sua bunda em destaque em um buggy? Essa propaganda gerou um desgaste político até hoje debatido e repreensível judicialmente, face sua visão reducionista e mercantilista do corpo feminino. E, ainda hoje, permear todo um texto, com um tom sugestivo de que Natal é uma cidade para turismo sexual… é difícil compreender.
A cidade é litorânea e com clima predominantemente de verão, o que leva a maioria das pessoas a se vestir com roupas mais leves, curtas, coloridas. Acreditem, vestimentas apropriadas para o calor! Mas que aos olhos de alguns, pode soar como convite sexual, dado da cultura machista, na qual qualquer comportamento “desviante” feminino é tido como abertura sexual fácil e permissiva.
Mas qual o risco de generalizar as mulheres? O risco é que você trata um lugar como sendo apenas aquilo, você estigmatiza, e o estigma esconde a complexidade e diferença existentes, reduz uma realidade a apenas ao que você propaga. Em Natal, assim como em qualquer cidade, há vários tipos de mulheres, pertencentes a diferentes classes e condições sociais. Há na cidade, trabalhadoras, mãe de famílias, casadas, lésbicas, divorciadas, empresárias, solteiras, pastoras evangélicas, católicas, ateias, agnósticas, idosas, jovens, negras, brancas, etc. Enfim, uma gama de tipos de mulheres correspondente à própria condição humana, o que é sabido por qualquer um que tenha razoável conhecimento das ciências humanas. E acreditem, tem mulher reitora, tem poetisas e atrizes famosas, tem professoras e tem feministas conhecidas internacionalmente.
E também há jovens garotas que usufruem de sua liberdade para dançar, namorar, ficar e ter experiências sexuais, assim como ocorre em diversas cidades brasileiras. Isso é um dado da modernidade e, não da cidade de Natal isoladamente. É importante lembrar que a tal fome sexual, que o autor escreve, reforça as diferenças entre homens e mulheres, quando ninguém se choca com comportamento livre masculino, e quando uma mulher age assim, ela só pode ser comparada a um cio animal. Ainda há algo bem preocupante que permeia todo o texto; é a ideia de um reforço ao turismo sexual na cidade, fato também muito debatido publicamente e com inúmeras ações judiciais.
O machismo tem disso, se reveste de engraçado, sensual, divertido e, por hora, despojado, crítico, inteligente… Porém, como bem destacou a blogueira Lola Aronovich sobre o Gerald Thomas ter metido a mão sob o vestido de Nicoles Bahls na TV, “nada é mais careta e ultrapassado que ser machista. Gerald Thomas é só mais uma relíquia posando de moderninho”. (Leiam no blog: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br) E só a fim de divulgação de informação, os dados demográficos apontam que o défice masculino no Brasil é de quase 6 milhões, e onde menos tem presença masculina é no sudeste, pesquisa feita em 2012 peloPNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mas afinal, que tipo de mulher há em Natal? Há também aquelas que se rebelam contra atos machistas, porque isso nada tem de liberdade de expressão e opinião.