Cai um Mito da Administração Ciarlini
Por Ivenio Hermes
Denúncia
Comprovando as verdades informadas no livro “Crise na Segurança Pública Potiguar” e outros artigos de minha lavra, sempre pautando pela pesquisa in loco além da busca de informações com autoridades competentes, surgiu uma denúncia feita ao Policial Roberto Moura, presidente da ASSESP/RN (Associação dos Escrivães de Polícia Civil do RN).
No texto da denúncia reproduzido ipsis verbis abaixo, mostra como o reforço policial no interior do estado ou a interiorização da Polícia Civil são inverdades propagandeadas pela assessoria de comunicação da Administração Ciarlini.
O policial, que temendo pela sua própria segurança pede que a denúncia seja mantida no anonimato, apresenta um quadro aterrorizante da situação em que a Delegacia Regional, onde funciona o único plantão de Polícia Civil de Mossoró.
O quadro que existe e repete em muitas delegacias do Estado é descrito por um policial que está sob profundo stress, responsabilidades exageradas, carga de trabalho excessiva, e temor pela segurança do efetivo policial que trabalha na delegacia em tela e pela segurança dos presos que abarrotam os corredores da delegacia de plantão.
Texto da Denúncia
(Com negritos acrescentados)
***
Caro presidente Roberto.
Antes de tudo peço que essa denúncia seja anônima.
O Stress no trabalho tá grande, as responsabilidades, problemas, a carga de trabalho só aumentam e parece que ninguém quer resolver. A indignação dos colegas com a situação é grande, mas pessoalmente não podemos fazer muita coisa, a não ser procurar o bom caminho, apresentar as soluções e sugestões, sem com isso criar inimizades, e orar ao Senhor por dias melhores. A possibilidade de buscar um novo concurso parece ser a melhor saída. Peço a Deus que as soluções cheguem logo a quem pode fazer alguma coisa.
Os presos estão sendo deixados, pelas outras delegacias, no corredor da Delegacia Regional, onde funciona a DP de Plantão, e eles se somam aos presos durante o horário do plantão.
Tentamos de todas as formas liberar os presos que tem algum direito a liberdade, diminuindo a fiança, ou pro misero, etc.
Não ouve reforço no plantão. Continua 3 agentes, 1 escrivão e 1 delegado. A vigilância dos presos que ficam alguns algemados, sentados ou deitados no chão do corredor, há poucos metros dos policiais, sem nenhuma separação física pedindo para ir ao banheiro, beber água, falar com familiar, comida, doentes, etc, tomando tempo dos policiais e até do escrivão. Diga-se de passagem que não há cela na DP, não há banheiro para os presos, os mesmos usam um banheiro que era da Delegacia Regional.
Amanhece o dia e o Delegado Regional tenta vaga em presídios e cadeias fora de Mossoró, mas já teve preso que passou 8 dias nos corredores.
Temo por algum fato trágico, os policiais cansados e em menor número serem alvo de uma revolta ou resgate de preso, pode haver violência ou até morte.
Peço que a ASSOCIAÇÃO entre em contato com o SIMPOL e JUNTOS ajudem a DP de Plantão de Mossoró, os policias, limpam a DP, fazem as vezes agora de carcereiros, trabalham a noite sem adicional noturno, equipe pequena para uma demanda gigantesca de ocorrências (um só escrivão), há momentos em que devido ao grande número de presos, a pequena quantidade de policiais, temos que por segurança fechar a porta da DP de Plantão e não registrar os BO (exceto os de homicídios), pois a insegurança é grande no prédio. A situação é Urgente, e neste final de semana terá uma grande vaquejada na cidade e sempre há muitas ocorrências e presos.
Solicito que oficiem ao Ministério Público e Poder Judiciário competente para fiscalizar a DP de Plantão. Com certeza vão pedir a interdição do prédio ou a retirada dos presos do local, ou que pelo menos nós policiais de plantão não sejamos “obrigados” a ficar guardando presos durante a nossa atividade de plantão. OU que a Delegacia Regional seja obrigada a escalar reforço para a DP de Plantão, no intuito de guardar os presos que ficam nos corredores, deixados pela Regional, no começo do plantão.
Pois só reclamar na DP não soluciona, a administração local é capaz de punir o policial, por isso peço a ação em conjunto da ASSOCIAÇÃO e do SIMPOL.
Um abraço.
***
Um Barril de Pólvora
O policial não pode fornecer fotos da situação porque temeu pela sua segurança e por uma punição conforme ele mesmo alega no penúltimo paragrafo de seu texto.
A situação de insegurança completa na DP Regional de Mossoró é concreta. Em contato telefônico com um amigo de Mossoró, pedi que ele fosse ao local simulando pedir informação para averiguar a veracidade dos fatos. A comprovação foi rápida.
A DP é o retrato do caos, como podemos extrair do próprio texto:
Os agentes encontram-se sobrecarregados e suas condições de reagir a uma situação inopinada serão diminuídas no ritmo inversamente proporcional aos dias que ficarem sob essa situação de penúria;
Os agentes fazem serviços para os quais não estão preparados nem com armamento e nem com superioridade numérica que faça frente a uma investida de outros bandidos numa tentativa de resgate;
Sem uma alternativa para os presos, que são deixados em condições sub-humanas, os agentes se veem obrigados a dividir espaço comum, elevando o nível de insegurança para ambos os lados.
É o caos na segurança pública, a sublimação da falta de cuidado com profissionais encarregados de aplicar a lei e de seres humanos, que sob custódia, vivem no desprezo do desconforto e falta de respeito.
Se a Administração Ciarlini não for fiscalizada pelo Ministério Público, Poder Judiciário, Conselho Estadual de Direitos Humanos ou qualquer outra entidade, o pior acontecerá.
A DP é um verdadeiro barril de pólvora com um estopim bem curto e pronto para explodir pela combustão gerada por um mero desentendimento entre policiais e presos, ou por um fato de maior proporção como uma tentativa de resgate.
A Caixa de Pandora
Sem querer abrir a Caixa de Pandora dos problemas da segurança pública potiguar, antecipamos que a Administração Ciarlini não fará ainda as nomeações definitivas e nem chamará outros aprovados para fazerem o curso de formação.
Nesse mapa potiguar de falta de gestão quanto às políticas públicas para a segurança, antevemos as prováveis soluções que serão adotadas:
- Envio de Policiais Militares para fazer a segurança da DP, descobrindo um santo para cobrir outro, pois a PM já se encontra carente de efetivo também;
- Retirada de policiais civis desta ou daquela delegacia para reforçar a DP Regional, que também acarretará em sobrecarga para aqueles que ficarem nas delegacias de onde policiais serão tirados;
- Acionar a SEJUC para conseguir dar solução ao problema, sendo que esta secretaria já se encontra assoberbada pela falta de espaço para acomodação de presos, e falta de efetivo de agentes penitenciários que possam garantir a segurança dos estabelecimentos carcerários;
- Desmentir o fato, realocando presos em outros locais na calada da noite e depois convocando a imprensa para mostrar que nada do que foi denunciado procede, haja vista que isso já aconteceu anteriormente por ocasião da visita da Governadora ao Hospital Walfredo Gurgel e que foi relatado por este autor juntamente com Tião Ferreira no texto: “A Visita da Dama Carmesim”;
- E se não for dado a devida divulgação sobre essa denúncia, será apenas mais uma que será ignorada como se nada tivesse acontecido, como nosso artigo sobre a “7ªDP: O Retrato do Caos”.
Não há mais como negar, todos percebem a situação da segurança pública no Rio Grande do Norte. Todas as informações já foram disponibilizadas para a Administração Ciarlini através de inúmeros artigos meus e de diversos analistas de segurança pública, pesquisadores, jornalistas e outras pessoas do bem que não querem ver a Copa Mundial de 2014 chegar a Natal e encontrar as condições atuais.
O tempo urge! Famílias estão sendo reduzidas, pessoas ameaçadas ou sob o temor da insegurança. A situação chegou ao ponto de nem aqueles que deveriam garantir a segurança da sociedade, os policiais, terem controle sobre sua própria segurança.
Como essa novela da insegurança potiguar chegará ao fim? A expectativa está no ar.