O deputado federal Henrique Alves desejou e o presidente da assembleia legislativa do RN, Ricardo Motta, e o prefeito de São Gonçalo, Jaime Calado, anuíram – o nome do aeroporto de São Gonçalo vai se chamar Aluízio Alves.
Bem, é legítimo que o filho queira homenagear o pai. Porém, São Gonçalo, o RN inteiro não pode deixar de ser consultado em decorrência disso (afinal, a obra não é de propriedade do deputado, ou é?!). Além de antidemocrático, cria uma situação de completo esquecimento em relação às outras figuras proeminentes de nossa história.
No momento em que surgiu, Aluizio Alves representou avanço em relação ao que estava posto politicamente na época. Mas apresenta uma trajetória que justifique ganhar um aeroporto de presente? Nutro grande desconfiança de que os norte-riograndenses se sentiriam mais representados pelo nome de Câmara Cascudo.
Alguma discordância? Sem problemas… Por que não promover uma discussão? Por que aprovar na calada da noite, através de requerimentos na distante comissão de transporte em Brasília?
A atitude faz lembrar os incontáveis casos da antiguidade em que um rei, um sultão, produzia uma grande obra para homenagear o pai, ou mesmo uma namorada. Mas diferentemente do passado, nosso regime não é mais monárquico, teocrático, plutocrático, ditatorial.
Apesar de impressionar a naturalidade com que um pleito como esse avança sem nenhum debate, a medida não é incomum. Há cerca de cinco anos, com um bom lobby da igreja local, a Assembleia Legislativa do RN deu um feriado para lembrar a luta dos padres em terras potiguares. De fato, eles lutaram bastante, ajudando a exterminar os índios que moravam por aqui. Não sobrou um para contar a história. Mas na versão oficial, os povos indígenas acabaram sendo punidos pela própria morte violenta.
E, desse modo, (re) contando o passando ao seu bel prazer, se legitimando através de mitos gloriosos, as elites políticas criam as condições para se perpetuar no poder ad infinitum.