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Sobre o direito de não ter opinião

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Não ter opinião, às vezes, é uma arte. Dizer que não sabe como se posicionar diante de um determinado tema é um ato de coragem. A máxima vale, principalmente, nesses tempos de internet, de redes sociais e notícias instântaneas, que você não pode se furtar de enfrentar.

A controvérsia envolvendo o nu artístico na UFRN é significativa, nesse sentido. Fui criticado pelo Beto Leite, da Revista Catorze (texto aqui: http://revistacatorze.com.br/2013/como-e-juvenil-o-pensamento-do-moralista e republicado pela Carta Potiguar), pela nota que produzi na noite de ontem (aqui: https://https://https://https://https://https://https://https://cartapotiguar.com.br//wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-1.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca.jpg.com.br/novo/2013/03/22/alunos-do-deart-tiram-a-roupa-como-forma-de-manifestacao-artistica-na-ufrn/ ). Conforme o referido jornalista, meu texto era ralo e a minha frase – “confesso não ter opinião formada sobre o assunto” –, se eu entendi bem, moralista. Para finalizar, utilizando o que a retórica chama de “efeito de contexto”, ainda deslegitima todo o projeto da Carta por tabela.

A análise empreendida por Beto Leite é positiva em diversos aspectos. É interessante porque discute a hipocrisia, o pavor com que a gente se relaciona com a nudez. Sua compreensão sobre a geração da notícia é relevante porque mostra como a busca por acessos pode, digamos, empobrecer a apresentação de um acontecimento, conteúdo.

Mas seu opúsculo tem brecha para alguns questionamentos. Primeiro Beto Leite naturaliza a ideia de que procurar acessos é uma ação necessariamente negativa (a antiga falsa separação entre aquele que discute X o mero entretenimento embrutecedor). Ora, me parece existir aí um equívoco. O erro está em supor que todo mundo trabalha por pageviews, por reconhecimento de modo semelhante. De maneira sorrateira, o habilidoso articulista iguala a nota do Blog do BG à minha. Só que, enquanto Bruno Giovanni fala de um trote em que termina todo mundo nu – pressupondo uma orgia irresponsável numa universidade, como se descrevesse um encontro de baderneiros –, eu me resumi a relatar o que, de fato, estava acontecendo e qual as opiniões envolvidas. Meu ataque ao modo de trabalhar do ex-dj é claro, apesar de não verbalizado.

Segundo, de modo militante, o texto da boa revista de cultura catorze estabeleceu uma outra oposição não articulada, mas nem por isso menos objetiva – de um lado, os reflexivos, livres de preconceito que viram no ocorrido uma legítima atuação artística. Do outro, um grupo homogêneo de retrógrados e moralistas, que, apenas por isso, não concebia o ato como uma forma de arte. Ora, a estratégia também é velha. A ideia, um tanto quanto desonesta do ponto de vista intelectual, é pintar aquele que se deseja criticar da pior forma possível, para assim facilitar enquadramentos depreciativos.

Particularmente, não caracterizo os críticos da atuação dos estudantes de artes em questão como automaticamente sem razão, como reles moralistas. Há, sim, entre eles simples debochadores. No entanto, existe gente séria se questionando e indagando. Há pessoas dizendo: aquilo não é arte. Sem nenhum maniqueísmo, sem nenhum etnocentrismo. E sem tentar impor a sua opinião no grito.

Diante das duas perspectivas e me recusando a expor uma opinião rápida, sem fundamento, preferi apenas apresentar o que estava em jogo. Se errei? O debate está aí e é legítimo que ele (e sobre a própria concepção do que é arte) se processe.

Agora, é preciso também discutir alguns subterfúgios inscritos no texto veiculado pela Catorze. Se forma em Natal um tipo de (pseudo) argumentação capitaneada por alguns jovens e bons escritores, que é o de “causar” como meio de expressão em sites, redes sociais e blogs. Debater…, refletir perde centralidade nesse cenário. O que vale é utilizar palavrões, ofensas morais e uso abundante de noções sexuais como um meio de constranger/impressionar/imobilizar os interlocutores. Piroca, cu, trepada, em resumo, toda uma linguagem chula, aliada a certos hermetismos, vira palavreado recorrente. Para depois sair de cabeça alta, dizendo: “tu viu? Eu arregacei. Botei para fuder”,  com um indisfarcável sorrisinho consagrador no cantinho da boca.

Tal baixaria – eu assim classifico, sou moralista por isto?! – não deixa de ser um meio também de procurar mais acessos, de se legitimar com a galera e figurar nas listas dos mais-mais do ano. Talvez, menos distante do modo Bruno Giovanni de trabalhar do que concebe os seus convictos praticantes.

SOBRE O BLOG DO BG

A figura do Bruno Giovani mereceria um livro. Acho que em Natal ainda não apareceu uma vítima maior do ressentimento das pessoas do que o BG.

Ressalto contra os maniqueístas que a crítica ao seu modo de fazer jornalismo é válida. Mais. Necessária. O professor universitário Daniel Dantas empreendeu uma boa análise sobre o “fenômeno” Blog do BG. O jornalista Alex de Souza, que escreve no substantivo plural, também.

Mas ao contrário de Daniel Dantas e Alex de Souza, que criticaram o referido Blog preservando a pessoa do produtor e o seu direito de escrever aonde bem entender – todo mundo pode escrever, dominando ou não a ortografia, não é? –, os jornalistas de Natal se irritam, às vezes, muito mais com a grana que ele está ganhando, às vezes, muito mais com o sucesso que um cara faz mesmo com suas “barrigadas”, termo retirado do texto de Beto.

Outro dia, num tolo e preconceituoso debate matutino no Twitter, alguns jornalistas falavam dos erros gramaticais do BG. No final, o seguinte argumento de fundo: ele tem sucesso porque escreve mal e atende as massas incultas da cidade (ou seja, inteligente é quem acompanha o jornalista que mobilizou o magnânimo raciocínio). No final, só lobby, com um racismo da inteligência colorindo a paisagem e dizendo: um cara desses, sem diploma, não deveria nem ter um blog. Prestígio? Só para o intelectual aqui.